sábado, 30 de novembro de 2013

Átimo





Lençóis brancos. 
A textura do cetim.
Convite a sonhos perfeitos...


Um piano triste se houve ao fundo
As teclas gemem, sofrem e choram
Perdidos, sem noção do tempo,
A eternidade nos envolve.
E o amor, atento, faz dormir o mundo...

Sentimentos, dores, lembranças... Fogem.
Resta uma luz, um clarão rápido, fictício.
Transcendemos, à beira do precipício... E caímos.

O mundo acorda, espia,
E os sonhos somem...

sábado, 16 de novembro de 2013

1000 programas Manhattan Connection


Manhattan Connection comemora o milésimo programa.  

Comandado pelo competente Lucas Mendes, é um dos programas que eu sempre assisto. Desde a época do Francis, do Nelsinho.  Já se vão 20 anos desde o primeiro, em 1993.

O Lucas, além de Mendes é Campos. Seu pai era José Fiuza Campos, lá de Pitangui, cidade dos meus Guimarães. Um dos Guimarães mais ilustres - João Guimarães Rosa - disse que os "sertões são muitos" ; eu parafraseio-o dizendo que os Guimarães também são muitos. E Lucas, por ser primo de primo meu, sabe que os Guimarães e os Campos estão ligados por sangue há algumas gerações.

Em sua homenagem (Lucas), ao programa e ao Caio, Diogo, Ricardo e Pedro, e aos demais que por lá passaram - sem se esquecer da competente Angélica, escrevi um letra que está sendo musicada pelo não menos competente José Namen, arranjador e pianista fantástico. Aguardem para breve. Prometo não cantar. Deve ser interpretada por uma cantora com domínio do inglês.




Manhatthan connection
letra : Rodrigo Guimarães Pena     Musica : José Namen


 Manhatthan connection,
hot news are distractions, Uh!Uuuuh!
Manhatthan connection,
cool tips, some fashion, Uh!Uuuuh!

Manhatthan connection
cool tips,  some fashion,Uh!Uuuuh!
Manhatthan connection,
hot news, and distractions

We are in the right direction
brings us complete satisfaction, Uuuuh!
Manhatthan connection,
cool tips, and some fashion, Uh!Uuuuh!
Manhatthan connection,
cool tips, some fashion, Uh!Uuuuh

The brazilians (five),
so smart and so wise,
in culture and arts, in politics, and bars
(and drinks, too)


if you're feeling so tired,
as in the end of a fight,
and want to calm down to sleep or relax

the best you can find,
in your tv, at night,
the best you can do, without paying,
or complaining, and no pain and no tax ...

Is Manhatthan connection,
cool tips, some fashion,Uh!Uuuuh!
Manhatthan connection
hot news are distractions, Uh!Uuuuh!
Manhatthan connection,
We´re in the right direction ,Uh!Uuuuh!
Manhatthan connection,
give us satisfaction, Uh!Uuuuh!


But if the subject is money,
or what will come or demand,
(Or who will need an attorney…)
please do not lose the action,
and keep your attention on our economics Section…

But, for you who are smart
and prepared for the party
(are you ready, can it start?)
Cause here comes, it comes, it comes, it comes…
the  Manhatthan Connection.

Manhatthan connection,
cool tips, some fashion,
Manhatthan connection
hot news, and distractions
Manhatthan connection
We are in the right direction
give us complete satisfaction,Uh!Uuuuh!
Manhatthan connection,
give us satisfaction Uh!Uuuuh!
Manhathan conecction,
hot news and distractions,
Manhathan conecction,
Manhathan conecction
Manhathan conecction,
Manhathan conecction,
Manhathan conecction…

give us sa-tis-fac-tioooonn,
Uh!Uuuuh!




quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Poemas de FERREIRA GULLAR




VOLTAS PARA CASA
ferreira-gullar-rosto-metade

Depois de um dia inteiro de trabalho
voltas para casa, cansado.
Já é noite em teu bairro e as mocinhas
de calças compridas desceram para a porta
após o jantar.
Os namorados vão ao cinema.
As empregadas surgem das entradas de serviço.
Caminhas na calçada escura.

Consumiste o dia numa sala fechada,
lidando com papéis e números.
Telefonaste, escreveste,
irritações e simpatias surgiram e desapareceram
no fluir dessas horas. E caminhas,
agora, vazio,
como se nada acontecera.

De fato, nada te acontece, exceto
talvez o estranho que te pisa o pé no elevador
e se desculpa.
Desde quando
tua vida parou? Falas dos desastres,
dos crimes, dos adultérios,
mas são leitura de jornal. Fremes
ao pensar em certo filme que viste:
a vida, a vida é bela!

A vida é bela
mas não a tua. Não a de Pedro,
de Antônio, de Jorge, de Júlio,
de Lúcia, de Míriam, de Luísa...

Às vezes pensas
com nostalgia
nos anos de guerra,
o horizonte de pólvora,
o cabrito. Mas a guerra
agora é outra. Caminhas.

Tua casa está ali. A janela
acesa no terceiro andar. As crianças
ainda não dormiram.
Terá o mundo de ser para eles
este logro? Não será
teu dever mudá-lo?

Apertas o botão da cigarra.
Amanhã ainda não será outro dia.
 
 
 ferreira-gullar-rosto-metadeNão há vagas


O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira


ferreira-gullar-rosto-metade

Traduzir-se


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?