quinta-feira, 30 de maio de 2013

Te amo bem mais que amo amim, versão de "I´ve got you under my skin" de Cole Porter


Versão de I´ve got you under my skin, que fiz e gravei cantando, acompanhado pelo violão talentoso de Marcos Frederico;
Gravado em maio/2013 no estúdio Liquidificador.





Ampliem a imagem e aumentem o som.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Contrariedades - poesia de Cesário Verde

 

Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
       Consecutivamente.

Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
       E os ângulos agudos.

Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
       E engoma para fora.

Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve conta à botica!
       Mal ganha para sopas...

O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
       Um folhetim de versos.

Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais uma redacção, das que elogiam tudo,
       Me tem fechado a porta.

A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa
       Vale um desdém solene.

Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e a paz pela calçada abaixo,
Um sol-e-dó. Chuvisca. O populacho
       Diverte-se na lama.

Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
       Me negam as colunas.

Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores
       Deliram por Zaccone.

Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua coterie;
E a mim, não há questão que mais me contrarie
       Do que escrever em prosa.

A adulação repugna aos sentimento finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exactos,
       Os meus alexandrinos...

E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
       E fina-se ao desprezo!

Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
       Duma opereta nova!

Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
       Impressas em volume?

Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a réclame, a intriga, o anúncio, a blague,
E esta poesia pede um editor que pague
       Todas as minhas obras...

E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe a luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
       Que mundo! Coitadinha!



José Joaquim Cesário Verde (Lisboa, 25 de Fevereiro de 1855Lumiar, 19 de Julho de 1886) foi um poeta português, sendo considerado um dos precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX.

 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Um "plus" a mais, por Luiz Fernando Verisimo

Reproduzo aqui a oportuna crônica de Luiz Fernando Verissimo, como um libelo à  extrema estrangeirização da língua.



Passei por uma loja que vendia roupa “plus size” para mulheres. Levei algum tempo para entender o que era “plus size”. “Plus”, em inglês, é mais. “Size é tamanho. Mais tamanho? Claro: era uma loja de roupas para mulheres grandes e gordas, ou com mais tamanho do que o normal.
Só não entendi isto logo porque a loja não ficava em Miami ou em Nova York, ficava no Brasil. Não sei como seria uma versão em português do que ela oferecia, mas o “plus size” presumia 1) que a mulher grande ou gorda saberia que a loja era para ela, 2) que a mulher grande ou gorda se sentiria melhor sendo uma “plus size” do que o seu equivalente em brasileiro, e 3) que ninguém mais estranha que o inglês já seja quase a nossa primeira língua, pelo menos no comércio.

A invasão de americanismos no nosso cotidiano hoje é epidêmica, e chegou a uma espécie de ápice do ridículo quando “entrega” virou “delivery”.

Perdemos o último resquício de escrúpulo nacional quando a nossa pizza, em vez de entregue, passou a ser “delivered” na porta. Isto não é xenofobia nem anticolonialismo cultural americano primário, nem eu acho que se deva combater a invasão com legislação, como já foi proposto. O inglês, para muita gente, é a língua da modernidade. Todos queremos ser modernos e, nem que seja só na imaginação, um pouco americanos. E nada contra quem prefere ser “plus” a ser mais e ter “size” em vez de altura ou largura. Só é triste acompanhar esta entrega — ou devo dizer “delivery”? — de identidade de um país com vergonha da própria língua.


 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Museus do mundo: perdoem...


Museus do mundo: perdoem... (maio-2013)

Nesta 3ª semana de maio homenageiam-se os Museus. Fiz um mea-culpa que acho encontra espelho em muita gente.
 

Pensar que inúmeras vezes passei ao largo,
Não entrei. Me omiti. Deveria ter ao menos, curiosidade,
Daquelas que vem com a idade,
Ao questionar: Por que não?

Mas quero registrar um recado:
Ainda há tempo de reparar o pecado
E começar a aprender a velha e sábia lição:
De onde viemos, o que fizemos, quem foi Platão?

Não me conformo por ter desprezado tua existência,
Não me conformo em ter olvidado tua evolução,
Me surpreendo ao ver o quanto há de sapiência,
Como pude conviver com tua ausência,
Em nome de uma falsa e hipócrita razão?

Não há palavras que podem te resolver em minha equação.
Talvez um olhar de carinho,

Um gesto, qual cuidador,
Alguma forma escondida de mostrar minha emoção.

Mas importante mesmo, é visitar e perceber
As ideias que ali insistem em estar e se expor
Para sanar dúvidas, levar luz ao  lado escuro do ser...


Como a casa de um fraterno amigo,
Que ao colher a historia, do principio ao cabo,
 
Se fez abrigo de todo passado
Que pra nós, graças a ele, não passou.


sexta-feira, 17 de maio de 2013

Lições de vida


                            Lições de Vida ...

 Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que a companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e que presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. 
 
Depois de um tempo você aprende que o sol queimará se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam. E aceita que não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la  por isso.

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas num instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida.

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distancias. E o que importa não é o que se tem na vida, mas quem você tem na vida. E que os bons amigos são a família que nos foi permitida escolher.

Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendermos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e ainda terem bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida muitas vezes são tomadas de você muito depressa; por isso devemos sempre deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pois pode ser a última vez que nós a vejamos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influências sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Descobre que se leva muito tempo para tornar-se a pessoa que quer ser, e que este tempo é muito curto. Aprende que não importa onde já chegou, mas para onde está indo;  e que se você não sabe para onde está indo, pare e reflita; não é qualquer lugar que serve.

Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa o quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel com quem está ao lado.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando conseqüências.  Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que muitas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você vai cair é uma das poucas que o ajudam a levantar-se. Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou.

Aprende que há mais de seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens; poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que consegue, pois existem pessoas que nos amam, e simplesmente não sabem como demonstrar da forma como gostariamos. Aprende que nem sempre é o suficiente ser perdoado por alguém;  algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se.

Aprende que, com a mesma severidade que julga, você também o será, em algum momento. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára pra que você o conserte.

Aprende que o tempo não é algo que você possa fazer voltar atrás. Portanto, plante seu jardim e enfeite sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga adornos para tal.

E você aprende que pode suportar, que é forte, e que pode ir muito mais longe, mesmo depois de pensar que não pode mais.

E que por mais que muitos falem que não, a vida pode SIM ter um significado;
Se você se fizer significante para os que estão a seu lado!

Finalmente, disse uma vez um poeta:

"Todos temos dádivas, dons, intuições especiais. Muitas vezes nos traímos, e não os usamos. Perdemos, então, a oportunidade de conquistar um bem que nos é facultado por direito. Se pelo desconhecimento deles ou pela irracionalidade presente, que seja.
Pior é quando é pelo medo de nunca tentar por em pratica.
Ouse. Sempre."

quinta-feira, 9 de maio de 2013

a batatinha e a mamãe


a batatinha e a mamãe

(do conhecido versinho, de domínio público,
nasceu esta "Ode ao Amor de Mãe") - 2004
 



   mamãe e eu ( com 8 meses) - Parque Municipal - Belo Horizonte
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Batatinha quando nasce,
Espalha rama pelo chão...
Mamãezinha quando dorme
Põe a mão no coração...


Coração de Mãe é enorme
Bem maior que um avião...
Toda vez que você dorme,
Um sonho vem do Coração...

Pra mamãe, como presente,
Deve um verso recitar,
Tenha agora e sempre
em mente
O
recado que vou dar:

Sabe quem criou o Amor ?
Pois eu sei...

Eu vou contar :

Quando há tempos, tempo faz,
Deus criou céu, terra e mar,
Criou também Adão e Eva,
E ensinou o Amor ao par...

Por um tempo, observando,  começou a preocupar:
“Como é belo o tal Amor,
Tão lindo e tão intenso...
Mas está sobrando senso,
Eu preciso melhorar...
Amar alguém só se alguém também lhe amar?”
O que Eu quero é bem maior”, disse Deus, e completou:
" Quero um Amor que não quer troca, que não peça, que se doe,
Que suporte sede e fome, a dor forte que o consome, e ainda assim, perdoe...

Então, a Mãe,

DEUS teve que inventar...

E do coração da Mãe
Fez o maior lugar que há,
Pois previa já o tamanho
Que o amor de Mãe pode chegar...


E DEUS não erra, e não errou...
O Amor que a prima-Mãe mostrou
Foi do jeito que previa,
DEUS então determinou :
“Mãe, serás do amor,
Amor-a-dia “...

Por isto,
Quando eu for “papai/mamãe” um dia,
Da Mamãe eu vou lembrar...
“- Todo amor de uma família vem da Mãe...
. ...que se espalha, como rama, em cada olhar...



segunda-feira, 6 de maio de 2013

O mais importante...



Num dia lindo e ensolarado, o coelho saiu de sua toca com o notebook e pôs-se a trabalhar, bem concentrado. Pouco depois, passou por ali a raposa e viu aquele suculento coelhinho, tão distraído, que chegou a salivar. No entanto, ela ficou intrigada com a atividade do coelho e aproximou-se, curiosa: R - Coelhinho, o que você está fazendo aí tão concentrado?
C - Estou redigindo a minha tese de doutorado - disse o coelho sem tirar os olhos do trabalho.
R - Humm .. . e qual é o tema da sua tese?
C - Ah, é uma teoria provando que os coelhos são os verdadeiros predadores naturais de animais como as raposas.
A raposa fica indignada: R - Ora! Isso é ridículo! Nos é que somos os predadores dos coelhos!
C - Absolutamente! Venha comigo à minha toca que eu mostro a minha prova experimental.
O coelho e a raposa entram na toca. Poucos instantes depois ouvem-se alguns ruídos indecifráveis, alguns poucos grunhidos e depois silêncio. Em seguida o coelho volta, sozinho, e mais uma vez retoma os trabalhos da sua tese, como se nada tivesse acontecido. Meia hora depois passa um lobo. Ao ver o apetitoso coelhinho tão distraído, agradece mentalmente à cadeia alimentar por estar com o seu jantar garantido. No entanto, o lobo também acha muito curioso um coelho trabalhando naquela concentração toda. O lobo então resolve saber do que se trata aquilo tudo, antes de devorar o coelhinho: L - Olá, jovem coelhinho. O que o faz trabalhar tão arduamente?
C - Minha tese de doutorado, seu lobo. É uma teoria que venho desenvolvendo há algum tempo e que prova que nós, coelhos, somos os grandes predadores naturais de vários animais carnívoros, inclusive dos lobos.
O lobo não se contém e cai na gargalhada com a petulância do coelho. L - Apetitoso coelhinho! Isto é um despropósito. Nós, os lobos, é que somos os genuínos predadores naturais dos coelhos. Aliás, chega de conversa...
C - Desculpe-me, mas se você quiser eu posso apresentar a minha prova. Você gostaria de me acompanhar à minha toca?
O lobo não consegue acreditar na sua boa sorte. Ambos desaparecem toca adentro. Alguns instantes depois ouvem-se uivos desesperados, ruídos de mastigação e ... silêncio. Mais uma vez o coelho retorna sozinho, impassível, e volta ao trabalho de redação da sua tese, como se nada tivesse acontecido... Dentro da toca do coelho vê-se uma enorme pilha de ossos ensanguentados e pelancas de diversas ex-raposas e, ao lado desta, outra pilha ainda maior de ossos e restos mortais daquilo que um dia foram lobos. Ao centro das duas pilhas de ossos, um enorme LEÃO, satisfeito, bem alimentado e sonolento, a palitar os dentes.
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MORAL DA HISTORIA:

- Não importa quão absurdo é o tema de sua tese.
- Não importa se você não tem o mínimo fundamento científico.
- Não importa se os seus experimentos nunca cheguem a provar sua teoria.
- Não importa nem mesmo se suas idéias vão contra o mais óbvio dos conceitos lógicos...
- o que importa é QUEM É O SEU ORIENTADOR..