As mulheres de Dorival Caymmi: Marina, Rosa, Dora
Marina, a invenção
"Marina, morena, Marina, você se pintou
Marina, você faça tudo, mas faça um favor
Não pinte esse rosto moreno
Que eu gosto e que é só meu
Marina você já é bonita com o que Deus lhe deu..."
Dorival Caymmi
A morena 'Marina' nunca existiu. A letra da música começou de trás para frente, porque Dori, filho de Caymmi, quando era pequenininho tinha mania de dizer 'Tô de mal com você'. Para justificar a frase, Caymmi criou a história da moça que se pinta contra a vontade de seu amor. "Papai é muito surrealista. O nome de mulher entra para a rima", diz a cantora Nanna Caymmi, filha mais velha do compositor. No caso, Marina combina com Morena.
Assista aqui :
http://www.youtube.com/watch?v=enUx5DMiFU8
Rosa, a flor e a menina
"Nada como ser Rosa na vida
Rosa mesmo ou mesmo Rosa mulher
Todos querem muito bem a Rosa
Quero eu e todo mundo também quer..."
Dorival Caymmi
"Nem todas as músicas são feitas para alguém, mas pode acontecer", diz Dorival Caymmi. É o caso de Rosa, da canção "Das Rosas". Antes de criar a personagem o compositor estava em Portugal e passou por uma estrada em que "tudo era roseira, uma coisa linda". "Parei o automóvel e fui ver as rosas no campo. Há uma fotografia em que estou no meio das roseiras e atrás tem uma pastora tocando um porco com a varinha", conta ele. Já pensando em escrever sobre o tema, foi visitar seu pai na Bahia e havia uma empregada nova na casa. "Era uma menina querida, mocinha. Papai era um senhor de 80 anos e ela cuidava dele. Ele me disse: 'Essa é minha babá'. Como é o nome dela?, perguntei, e ele disse: 'Rosa'. Aí, fiz uma brincadeira que deu no seguinte: Nada como ser rosa na vida, rosa mesmo, ou mesmo rosa mulher...'", cantarola ele. A menina Rosa nunca soube que foi musa. "Nem ia entender, coitadinha. Era uma jovenzinha, nem sabia que eu tinha essa profissão."
Assista aqui (ou melhor, ouça, já que não achei nenhum video de alguem cantando ao vivo esta linda musica) na voz de Dalva de Oliveira (se vc não tiver mais de 60 não vai saber quem é).
http://www.youtube.com/watch?v=5pWCIHixXVg&feature=related
Dora, a dançarina desconhecida
"...Dora, rainha do frevo e do maracatu
ninguém requebra nem dança melhor do que tu..."
Dorival Caymmi
Em uma noite de 1942, um bloco de frevo passou em frente ao hotel em que Caymmi estava hospedado, em Recife. "Veio aquele grupo cantando, tocando, e na frente uma passista que dançava muito bem. Olhei para ela e achei um nome: Dora. Aí, comecei: 'Dora rainha do frevo e do maracatu...'" , canta Caymmi, nostálgico. "Era uma hora da manhã."
Assista aqui (ou ouça) o original gravado por Caymmi em 1960 :
http://www.youtube.com/watch?v=X9CZawyrTgI&feature=related
Outras musas:
Amélia, a lavadeira
"...Ai, meu Deus que saudades da Amélia
Aquilo, sim, é que era mulher
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer (...)
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade..."
Mario Lago e Ataulfo Alves
O samba "Ai Que Saudades da Amélia!", de Mario Lago e Ataulfo Alves, nasceu de uma brincadeira de Almeidinha, irmão da cantora Araci da Almeida. Sempre que se falava em mulher ele dizia: 'Amélia é que era mulher, Amélia é que lavava, passava...'. "Entrei na brincadeira, acrescentando verbos: bordava, chuleava, tricotava... Até que pensei: 'Isso dá samba'. Veio aí uma figura de mulher", conta Mario Lago. Mas a Amélia de verdade foi descoberta pela revista "O Cruzeiro". Era uma ex-lavadeira da família de Araci de Almeida. Uma mulher do subúrbio do Rio de Janeiro, que sustentava sozinha oito filhos. Mario Lago não chegou a conhecê-la. "Amélia é qualquer pessoa apaixonada, seja homem ou mulher", diz.
Assista aqui, com João Gilberto:
http://www.youtube.com/watch?v=MnZcZxX-ltE
Madalena, a Vera Regina
"Oh, Madalena, o meu peito percebeu
Que o mar é uma gota
Comparado ao pranto meu (...)
Até a lua
Se arrisca num palpite
Que o nosso amor existe
Forte, fraco, alegre ou triste..."
Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza
Em 1970, o compositor Ronaldo Monteiro de Souza, parceiro de Ivan Lins na música "Madalena", tinha terminado o namoro de três anos com da carioca Vera Regina. Chateado, foi até o bar Cabral 1500, em Copacabana. "Naquela época a avenida Atlântica só tinha uma pista, o mar quebrava pertinho da calçada. Daí tirei a idéia de que 'o mar era uma gota, comparado ao pranto meu'. Escrevi a letra em um guardanapo com a caneta do garçom. Não tive coragem de escrever Vera Regina, Madalena foi o primeiro nome que me ocorreu", conta. O namoro acabou de vez, a música virou hit com Elis Regina. Anos depois, Vera Regina soube da homenagem. "Não sei como ela soube, mas tínhamos amigos em comum. Hoje estou casado com Soraya, minha inspiração é outra", diz o compositor.
Assista aqui :
http://www.youtube.com/watch?v=OIYHQuqKf0U&feature=related
Dinorah, a bailarina surda e muda
"Quando a turma se reunia
Alguém sempre pedia
Ah, Dinorah, Dinorah
E o malandro descrevia
E logo já se via
Ah, Dinorah, Dinorah..."
Ivan Lins e Vitor Martins
A história de uma bailarina surda e muda, contada por um típico malandro carioca, inspirou Vitor Martins, parceiro de Ivan Lins, a compor 'Dinorah'. "Eu tinha recebido a melodia do Ivan com apenas uma frase: 'Ah, Dinorah'. Achei que Dinorah tinha de ser uma mulher muito especial e passei dias tentando desenvolver um tema", conta Martins. Até que ele e Ivan entraram em uma pastelaria no Rio de Janeiro, e deram com o malandro falando da incrível bailarina. "Parecia ser uma mulher especial. Mas logo senti que o cara era um tremendo mentiroso e, quando chegava naquela roda, pediam: 'Conta aquela'. Só que ele descrevia a mulher com tanta verdade, falando alto, que parecia que ela existia", conta. Assim saiu a letra: Quando a turma se reunia, alguém sempre pedia...'
Assista Ivan e João Bosco em Cuba :
http://www.youtube.com/watch?v=fSt-Ry8d3iI&feature=related
Luiza e Dindi, o vento e a montanha
"... Vem cá, Luiza me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol..."
Tom Jobim
"... Ah, Dindi, se um dia você for embora, me leva contigo Dindi
Fica, Dindi
Olha, Dindi..."
Tom Jobim e Aloysio de Oliveira
Luiza era um dos nomes preferidos de Tom Jobim. "Ele dizia que parecia que tinha um vento nesse nome", diz Manoel Malaguti, cunhado do compositor. Dindi vem de Dirindi, nome de um morro próximo ao sítio de Tom, em Poço Fundo. "Ele via o rio passar, roncando nas pedras, as águas espumaradas. Aquele ruído o apaziguava. Na outra margem, começava o pasto que ia dar no morro do Dirindi. 'Dindi' não era, como muitos pensavam, um nome de mulher. Mas sim toda aquela vasta natureza e seus segredos", narra Helena Jobim, irmã de Tom, no livro "Antonio Carlos Jobim, Um Homem Iluminado" [Ed. Nova Fronteira].
Assista aqui Tom Jobim no Japão em 1987 cantando as duas musicas :
http://www.youtube.com/watch?v=zJbTXUM8hjg
Beatriz e Cecília, a sonoridade
"... Ah, me leve para sempre Beatriz
Me ensine a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz..."
"Beatriz", em parceria com Milton Nascimento, surgiu de um jogo palavras - "Be" atriz [ser atriz, em inglês], tema da canção
Chico Buarque e Milton Nascimento
Ouça aqui :
http://www.youtube.com/watch?v=ijslD3bfsbk&feature=related
"...Me escutas, Cecília?
Mas eu te chamava em silêncio
Na tua presença
Palavras são brutas
Pode ser que, entreabertos
Meus lábios de leve
Tremessem por ti..."
Cecília, do disco mais recente [1998], também não é real. Chico procurava um nome que sibilasse ao ser pronunciado e Cecília lhe pareceu perfeito.
Chico Buarque e Luiz Cláudio Ramos
Assista :
http://www.youtube.com/watch?v=DTfpXJeofOg
As mulheres das canções de Chico Buarque são um mistério. Nada consta sobre uma "Carolina" de olhos fundos, abaixo interpretada por Caetano :
http://www.youtube.com/watch?v=ijCwWsG_IBg
ou alguma "Bárbara" que falasse demais. .
Assista aqui com Betânia :
http://www.youtube.com/watch?v=YjFSOrjNv20&feature=related
Sozinha, a filha adolescente
"Às vezes no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordada, pensando
No antes, no agora e o depois
Por que você me deixa tão solta?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinha..."
Peninha
O hit "Sozinho", sucesso na voz de Caetano Veloso em 1999, nasceu com alma feminina. O compositor Peninha escreveu a letra inspirado na filha, Clariana Alves, quando ela tinha 14 anos e estava sofrendo por um namorado que a deixava muito só. "Um dia, sem querer, escutei uma conversa dela com ele ao telefone. Eu estava com o violão e fiz a música, baseado na solidão que ela estava sentindo. A letra tem as palavras e a alma dela. Tanto que pensei que tinha feito uma canção para adolescentes. Acho que a música pegou tanto por causa dessa pureza de sentimentos", diz Peninha. A canção 'Sozinha' foi gravada pela primeira vez por Sandra de Sá, em 1995. Hoje, Clariana, com 29 anos, e foi musa passado, quando Peninha conta a história da canção em entrevistas, por causa da gravação de Caetano, diz : "Antes disso, meu pai sempre dizia que essa música era a 'minha cara'. Eu ficava brava, achava que ele estava tentando me dizer que meu relacionamento era ruim. Hoje vejo que ele passou na letra uma preocupação comigo", diz Clariana. A música acabou embalando o "namoro ioiô", que começou na adolescência e, entre idas e vindas, durou mais de cinco anos. "Sempre que brigávamos, meu namorado punha a música e me dizia: 'Pense bem'. Uma vez terminamos, ele foi à minha casa e colocou o CD do Caetano no 'repeat'. Ouvi a música a noite inteira e acabei voltando. Até hoje, toda vez que ele ouve a música, me liga. Nossos amigos chamam ele de 'Sozinho'. Ele sempre fala que, se a gente não casar, eu vou estar velhinha e me lembrar dele toda vez que ouvir essa música. Pior é que vou. Nem que eu queira esquecer, vou conseguir.", reclama ela, com um olhar de acusação para o pai. Peninha se defende: 'A música surtiu o efeito contrário...'.
Assista aqui com Caetano :
http://www.youtube.com/watch?v=wb4RauhteFA
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