Rodrigo Guimarães Pena - 2005
Pedi ao Vento, ao Sol e ao Mar,
Que ajudassem conquistar
Seu coração só para mim...
De pronto, se deram à lida.
Num piscar, sem perder tempo,
Foi dizendo logo o Vento:
“Tenho resposta correta
Para atingir tão nobre meta
De um coração conquistar:
Mandarei buscar nas alturas,
O ar que faz manhãs mais puras,
E volta a Terra, o vou lançar.
Mas, não sem antes perfumá-lo
Com essências de floresta
E em lá chegar, pareça festa,
Acompanhado de mil flores
E do ofegar de mil amores...
E em caricias, qual cetim,
O juízo indiferente
Que habita inquieta mente,
Se veria tão cercado
De desejos, salpicado,
Que faria, certamente
Ela se apaixonar, pois sim !
“Nada disto, nada disto”,
Disse o Sol em fala forte :
“A maneira que conheço,
A que deve trazer sorte
E um coração pode afetar,
Manda meus raios tocarem
Da cabeça ao calcanhar...
E em tocando lhe enviarem
O calor que em mim faz lar,
E este amor de amante quente,
A faria, certamente,
Se apaixonar , enfim...”
“Um momento, um momento,
Não é fácil assim
Como flama o sol
Ou sopra o vento...
Permita-me (objetou o Mar com propriedade
De conhecedor das humanas veleidades ) :
“Evoco aqui a velha dita,
Difundida em minhas vagas
Que ao final vale a escrita
- difere como afagas...
E qualquer corpo, sabe bem...
Há em meus domínios, mais alem,
Mansidão nas marés calmas,
E as sereias flertam almas
De perdidos navegantes...
Onde gotas de salinas águas
Curam males dos amantes,
E transformam velhas magoas,
Perdulárias, torturantes
Em prazer antecipado
Como o beijo mais molhado,
Enviado a quem ressente,
E seu poder entorpecente
Traria assim, perdida a mente,
Um apaixonar por si, sem fim...”
Arrebatado com a surpresa
De rogada cortesia
Por instante pus-me em prantos,
e entre o choro agradecia
A toda aquela natureza
Ali disposta a me ajudar.
Mas, de repente surgiu o Fogo...
Me envolveu , como uma presa,
E em labaredas abriu o jogo
E pôs-se, aos brados, declarar:
“Atentai, pobre mortal,
Pois este dito é o teu final:
Estarás fadado ao fracasso,
Se eu ,o Fogo e o que faço,
Deste empreito me ausentar...
Não contemplarás sucesso
Nem haverá chance ou acesso
De outro fim poder criar...
Por mais que tentem impor
A tão bela criatura,
A paixão total, sem cura,
Que nasce ou vem do amor,
Se eu, o Fogo em pessoa,
E não me chamam Fogo a toa :
Sou criador de dores latentes,
Detentor de altas patentes,
Perpetuador do sentir doído,
Idealizador do ciúme antigo
Das crises de magoa e loucura,
Das insanas fomes de candura,
E representante por excelência
Da dor forjada em carência...
Se eu, não estiver nela presente,
No âmago deste ser descrente,
Então, ter-se-á, malogrado final,
Eu diria...
Quem sabe, linda ode ou poesia
De um amor platônico fatal,
Ou vulcão ardendo em noite fria
Lançando brisas qual mistral
Num oceano em calmaria...
E tu, guerreiro do amor, tenaz,
Originado e pretenso capataz
Das ações de morte ou vida,
Irás com o sol, em derradeiro brilho
Não passarás de tosco andarilho
A sofrer com perverso açoite,
Que virá com a escuridão da noite...
E não haverá auxilio ou guarida
Ou alguém, por piedade sentida,
Do teu rastro, de sofrido casto,
Encontre algum traço e persiga ..
Tenho dito.”
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