Domingo, eu estava
almoçando, sozinho. Tomava uma taça de vinho. Como sempre faço quando almoço ou
janto. Enquanto mastigava a comida, também mastigava pensamentos. Sempre isso.
De repente quando fui passar o guardanapo na boca, nao me senti eu mesmo. Era
como se o meu pai estivesse fazendo isso por mim. Era como se ele estivesse
usando as minhas mãos, a minha boca e quase todos os meus pensamentos. Era ele em mim. Exatamente como ele passava: o
guardanapo bem encolhido entre os dedos e deslizando sobre lábios contraídos -
um amigo me disse uma vez quando lhe contei sobre meu pai ter morrido.
"O meu pai também morreu, mas sinto como se ele morasse,
vivesse em mim". Na época nao dei muita importância aquilo, mas num domingo que
se esparramava pelo asfalto, enquanto eu almoçava pude sentir isso bem.
Exatamente assim, como se eu fosse apenas uma morada dele. Um corpo emprestado a
ele. Pra não desabar, pensei: "pai, já que o senhor é que esta almoçando, se
deliciando, no meu lugar...depois, por favor, aproveite e pague a conta, ok?
Sorri e voltei a comer. Agora eu era eu mesmo de novo. Mas, na verdade, quem sou
eu?
(Reynaldo Bessa)
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