domingo, 20 de janeiro de 2013

A doença e a cura

 

Se um dia desses, sem notar, sem fazer conta
Reparasse em alguém, além da monta,
Que o teu valente coração, forjado em aço
Se abobasse e derretesse ao calor de um terno abraço ?

Se um dia desses, sem notar, sem fazer conta
Reparasse em alguém, além da monta,
Que o teu olhar, o teu semblante, entre arredio e vacilante,
Ganhasse brilho, em breve instante, ao olhar um outro olhar, alienante?

Se um dia desses, sem notar, sem fazer conta
Reparasse em alguém, além da monta,
Que a razão dos teus receios, perdesse cor, ganhasse alheios,
E nos embalos de teus sonhos, tão inflados de desejos,
A presença deste alguém, junto a pares mais medonhos,
Te fizesse perder senso e o levasse a roubar beijos?

E se tudo aquilo que disseste,
Perdesse encanto,
Faltasse em prece,
Ao antever, em longo pranto,
O sofrer a alguém que trouxe amor em alguém que lho padece?

E se o cansaço desta louca solidão,
Trocasse o exílio angustiado de seu pobre coração
Pela presença insinuante, aveludada e atenuante,
De um carinho feito à mão?

Se assim estás, e ages qual um abestalhado,
M
eu amigo, não é mal ou coisa impura!
Não adianta acender velas ou aconselhar-se às escrituras,
Pois o mal que a mim confessas, carrega em si a própria cura,
E como amigo e confidente, te digo, sem mais conjecturas:
Estás, perdida a mente, apaixonado...


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