sábado, 8 de outubro de 2011

O Amor é Fogo

Rodrigo Guimarães Pena - 2005

Pedi ao Vento, ao Sol e ao Mar,

Que ajudassem conquistar

Seu coração só para mim...


De pronto, se deram à lida.


Num piscar, sem perder tempo,

Foi dizendo logo o Vento:

“Tenho resposta correta

Para atingir tão nobre meta

De um coração conquistar:

Mandarei buscar nas alturas,

O ar que faz manhãs mais puras,

E volta a Terra, o vou lançar.

Mas, não sem antes perfumá-lo

Com essências de floresta

E em lá chegar, pareça festa,

Acompanhado de mil flores

E do ofegar de mil amores...

E em caricias, qual cetim,

O juízo indiferente

Que habita inquieta mente,

Se veria tão cercado

De desejos, salpicado,

Que faria, certamente

Ela se apaixonar, pois sim !


“Nada disto, nada disto”,

Disse o Sol em fala forte :

“A maneira que conheço,

A que deve trazer sorte

E um coração pode afetar,

Manda meus raios tocarem

Da cabeça ao calcanhar...

E em tocando lhe enviarem

O calor que em mim faz lar,

E este amor de amante quente,

A faria, certamente,

Se apaixonar , enfim...”


“Um momento, um momento,

Não é fácil assim

Como flama o sol

Ou sopra o vento...

Permita-me (objetou o Mar com propriedade

De conhecedor das humanas veleidades ) :

“Evoco aqui a velha dita,

Difundida em minhas vagas

Que ao final vale a escrita

- difere como afagas...

E qualquer corpo, sabe bem...

Há em meus domínios, mais alem,

Mansidão nas marés calmas,

E as sereias flertam almas

De perdidos navegantes...

Onde gotas de salinas águas

Curam males dos amantes,

E transformam velhas magoas,

Perdulárias, torturantes

Em prazer antecipado

Como o beijo mais molhado,

Enviado a quem ressente,

E seu poder entorpecente

Traria assim, perdida a mente,

Um apaixonar por si, sem fim...”


Arrebatado com a surpresa

De rogada cortesia

Por instante pus-me em prantos,

e entre o choro agradecia

A toda aquela natureza

Ali disposta a me ajudar.


Mas, de repente surgiu o Fogo...

Me envolveu , como uma presa,

E em labaredas abriu o jogo

E pôs-se, aos brados, declarar:


“Atentai, pobre mortal,

Pois este dito é o teu final:

Estarás fadado ao fracasso,

Se eu ,o Fogo e o que faço,

Deste empreito me ausentar...

Não contemplarás sucesso

Nem haverá chance ou acesso

De outro fim poder criar...

Por mais que tentem impor

A tão bela criatura,

A paixão total, sem cura,

Que nasce ou vem do amor,

Se eu, o Fogo em pessoa,

E não me chamam Fogo a toa :

Sou criador de dores latentes,

Detentor de altas patentes,

Perpetuador do sentir doído,

Idealizador do ciúme antigo

Das crises de magoa e loucura,

Das insanas fomes de candura,

E representante por excelência

Da dor forjada em carência...

Se eu, não estiver nela presente,

No âmago deste ser descrente,

Então, ter-se-á, malogrado final,

Eu diria...

Quem sabe, linda ode ou poesia

De um amor platônico fatal,

Ou vulcão ardendo em noite fria

Lançando brisas qual mistral

Num oceano em calmaria...

E tu, guerreiro do amor, tenaz,

Originado e pretenso capataz

Das ações de morte ou vida,

Irás com o sol, em derradeiro brilho

Não passarás de tosco andarilho

A sofrer com perverso açoite,

Que virá com a escuridão da noite...

E não haverá auxilio ou guarida

Ou alguém, por piedade sentida,

Do teu rastro, de sofrido casto,

Encontre algum traço e persiga ..


Tenho dito.”

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Poema sobre Guimarães Rosa, classificado no concurso da SOBRAMES - Sociedade Brasileira dos Médicos Escritores





O fio do SeuFulô, lá do Códesburgo...

Chico Pena

Meus amigo, ocêis num se alembra, pruquê ocêis tudo é mucho novo...

Mai foi num dia 27 de juin de mili-novicenz-e-ôto, dia de sábo, um sábo carqué,

pregunta o povo intero, sábo de arraiár, fuguete e buscapé...

Dia de forgá da lida, da peleja do trabaiadô...

Mai num pensava assim o meu Cumpadre, o SeuFulô... Pra ele, era inspeciár o dia.

Dia de cruzá os dêdo, daquêis de fazê vigia...

Lá de dento da mudesta moradia, vinha uns grito arto... Eita!! Arguém gemia...

Chiquitinha, sua muié, cumpanhêra de luta e fé, num insforço aderradêro,

(tá certo, foi num berrêro), mas sem ajuda deinfermêra, pariu com dor, de vezada,

depositando a barrigada, nos braço da fiér Partêra, (que chegô lá na sextafêra...

Deus-do-Céu, que trabaiêra!).

Té quinfim, pensô SeuFulô. Dos seus fio, o premero.

Na cama o risurtado inda chorava, quando o Fulô em repentino, adentrou os quarto, em pranto: mai deu sunriso largo, ao vê quiera menino:

-Vai se achamá João, cumpretô de supetão, assustando as cumadre que tava ali assistino a parição. E deu pro resurvido o pobrema.

...e de noite, lá no bar do Zé Muchiba, sem ligá pros das intriga, nem pros sordado da guarnição, bebeu tudo e gritou arto, pra alertar os forte ou fraco, que pudéss aparincê na região: -É Fio-home, é cabra-macho, saco-rôcho e pirocão...

E fez questão de dá pros santo, moiada da mió cachaça comprada nas banda do riberão:

-Que é pra assegurar distino, falô e tomô o resto da branca de arrancada...

Forte e branquélo era o rebento. Dozóio craro, risadatôa... Pesar dum pôco resmunguento, mamou logo nos petcho. Vida danada da boa.

E porpôco já corria, já brincava, gritava de dexá surdo,

no quintár ou casa adento, alegrando as vizinhança, na piquena Códesburgo.

Lá cresceu e sinstudô, até que da famia siapartô, e siamudô pra capitár, (pra ser dôtô, uai!!). E da vida levô sorte. O moço arto e forte, casô, virô doto (do mió porte), e escrivinhador das istóra do sertão. Mai isso eu conto adispôs...

Tutaméia, sô! Chega de proseá. Tô no atrazo. Eu e um cumpadre temo que carreá uns boi, e ele deva tá mesperando... Cês num viu puraí o Cumpadre Manerzão?

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

.. produto da China que ainda não chegou ao Brasil... "Ex-diretor da China Mobile é condenado à morte por aceitar suborno".

Site Terra
31 de agosto de 2011 • 00h30 • atualizado às 01h18

Li Hua, ex-presidente da China Mobile na região de Sichuan, região sudoeste da China, foi condenado à morte - a pena pode ser comutada por cadeia perpétua - pelo Tribunal Popular da cidade de Panzhihua, informou a agência Xinhua nesta quarta-feira. Esta sentença, que habitualmente é trocada por cadeia perpétua se o acusado tiver bom comportamento nos dois anos seguintes, condena Li por aceitar subornos no valor de 16,48 milhões de iuanes (US$ 2,58 milhões) e tráfico de influência. O fato de o acusado ter se entregado e devolvido o dinheiro procedente dos subornos não serviu como atenuante.

Fontes da China Mobile consultadas pela agência EFE se recusaram a avaliar o caso de "um trabalhador que já não pertence à companhia e que, portanto, não conserva nenhum vínculo com a China Mobile".

Esta condenação se soma às do ex-subdiretor-geral da companhia, Zhang Chunjiang, e do também diretor Shi Wanzhong, condenados nos mesmos termos este ano.

Comentário : podem falar mal dos produtos da China, mas em algumas "tecnologias" eles são invejáveis...

sábado, 20 de agosto de 2011

Será que um dia seremos como os japoneses ?

Ruth de Aquino, ÉPOCA

O dinheiro e as barras de ouro estavam em cofres e carteiras de vítimas do tsunami no Japão. Em casas e empresas destruídas. Nas ruas, entre escombros e lixo. Ao todo, o equivalente a R$ 125 milhões. Dinheiro achado não tem dono. Certo?

Para centenas ou milhares de japoneses que entregaram o que encontraram à polícia, a máxima de sua vida é outra: não fico com o que não é meu. E em quem eles confiaram? Na polícia, que localizou as pessoas em abrigos ou na casa de parentes e já conseguiu devolver 96% do dinheiro.

A reportagem foi do correspondente da TV Globo na Ásia, Roberto Kovalick. A história encantou. “Você viu o que os japoneses fizeram?” Natural a surpresa. Num país como o Brasil, onde a verba destinada às inundações na serra do Rio de Janeiro vai para o bolso de prefeitos, secretários e empresários, em vez de ajudar as vítimas que perderam tudo, esse exemplo de cidadania parece um conto de fadas.

O que aconteceu em Teresópolis e Nova Friburgo não foi um mero e imoral desvio de dinheiro público. Foi covardia.

Político japonês não é santo. Mas digamos que, em alguns países, os valores da população são menos complacentes do que em nosso cordial patropi.

E a impunidade não é regra.

Em que instante a nossa malandragem deixa de ser folclórica e cultural e passa a ser crime de desonestidade?

Por que a lei de tirar vantagem em tudo está incrustada na mente de tantos brasileiros, a tal ponto que os honestos passam a ser otários porque o mundo seria dos espertos?

Será que um dia seremos todos japoneses?


terça-feira, 19 de julho de 2011

... e 32 anos se passaram...




Outro dia mesmo estávamos nervosos à beira do altar, com um padre mais nervoso que a gente. Falava sem parar. Disse a ele baixinho : se o senhor não acabar com isto agora eu vou embora e deixar o senhor falando sozinho.

Ele se apavorou mais ainda e terminou seu discurso, "sem pé nem cabeça" como me disse meu pai logo depois. Hoje entendo quando me dizem : "Vamos fazer uma cerimônia simples..."
Sinceramente não repetiria a dose. É um teatro com atores despreparados para atuar na peça.
De toda forma, ficam as lembranças e hoje os casos e os risos.
32 anos de muita luta. Não foi fácil chegar até aqui. E não há nada que nos prepare para esta aventura. Mas não há arrependimentos. Bem talvez haja em alguns momentos mas passam logo.
Agora filhos "quase criados" ( se é que isto exista) esperamos curtir um pouco a melhor idade.
A sabedoria é o balsamo para tudo e a melhor descoberta desta idade. Vamos aproveitá-la e fazer tudo que "dê na telha".
Tenho pensado em me candidatar a vereador, a dar aulas, a mudar para uma praia, escrever um livro, montar um negócio, aplicar na bolsa( nunca mexi com bolsa)... sei lá.
Mas parado não vou ficar.
Se tiver mais tempo vou aprontar alguma.
Saravá!!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

...e mais fotos...

Os professores, doutores em Literatura que selecionaram os trabalhos.
Adicionar imagem

Mais fotos...

Nosotros.

Continuam as fotos...

No palco, nosotros, los agraciados de la noche.
A plateia, como sempre acontece nestas premiações, repleta. Tive noticia de longas filas e, para ser franco, algum tumulto, pois não foram todos que lograram entrar.

Chegaram as fotos da premiação do 2o. Concurso de Contos da FUMEC

Primeiro, o dono da casa.
O Magnifico Reitor da FUMEC, professor Antônio Loures discursa, enaltecendo a Literatura, os agraciados da noite e garantindo a perenidade do Concurso nos anos vindouros.

domingo, 26 de junho de 2011

Foto do evento da FUMEC

Por enquanto é só esta, pois o setor de comunicação da Fumec ainda não disponibilizou as fotos oficiais. Peguei esta emprestada do Blog do tambem premiado David Nordon, de São Paulo.

Eu estou à esquerda, de terno e o David é o primeiro à direita de blusa preta.

domingo, 19 de junho de 2011

Outras mulheres que inspiraram músicas

As mulheres de Dorival Caymmi: Marina, Rosa, Dora

Marina, a invenção
"Marina, morena, Marina, você se pintou
Marina, você faça tudo, mas faça um favor
Não pinte esse rosto moreno
Que eu gosto e que é só meu
Marina você já é bonita com o que Deus lhe deu..."
Dorival Caymmi

A morena 'Marina' nunca existiu. A letra da música começou de trás para frente, porque Dori, filho de Caymmi, quando era pequenininho tinha mania de dizer 'Tô de mal com você'. Para justificar a frase, Caymmi criou a história da moça que se pinta contra a vontade de seu amor. "Papai é muito surrealista. O nome de mulher entra para a rima", diz a cantora Nanna Caymmi, filha mais velha do compositor. No caso, Marina combina com Morena.

Assista aqui :

http://www.youtube.com/watch?v=enUx5DMiFU8


Rosa, a flor e a menina
"Nada como ser Rosa na vida
Rosa mesmo ou mesmo Rosa mulher
Todos querem muito bem a Rosa
Quero eu e todo mundo também quer..."
Dorival Caymmi

"Nem todas as músicas são feitas para alguém, mas pode acontecer", diz Dorival Caymmi. É o caso de Rosa, da canção "Das Rosas". Antes de criar a personagem o compositor estava em Portugal e passou por uma estrada em que "tudo era roseira, uma coisa linda". "Parei o automóvel e fui ver as rosas no campo. Há uma fotografia em que estou no meio das roseiras e atrás tem uma pastora tocando um porco com a varinha", conta ele. Já pensando em escrever sobre o tema, foi visitar seu pai na Bahia e havia uma empregada nova na casa. "Era uma menina querida, mocinha. Papai era um senhor de 80 anos e ela cuidava dele. Ele me disse: 'Essa é minha babá'. Como é o nome dela?, perguntei, e ele disse: 'Rosa'. Aí, fiz uma brincadeira que deu no seguinte: Nada como ser rosa na vida, rosa mesmo, ou mesmo rosa mulher...'", cantarola ele. A menina Rosa nunca soube que foi musa. "Nem ia entender, coitadinha. Era uma jovenzinha, nem sabia que eu tinha essa profissão."

Assista aqui (ou melhor, ouça, já que não achei nenhum video de alguem cantando ao vivo esta linda musica) na voz de Dalva de Oliveira (se vc não tiver mais de 60 não vai saber quem é).

http://www.youtube.com/watch?v=5pWCIHixXVg&feature=related


Dora, a dançarina desconhecida

"...Dora, rainha do frevo e do maracatu
ninguém requebra nem dança melhor do que tu..."
Dorival Caymmi

Em uma noite de 1942, um bloco de frevo passou em frente ao hotel em que Caymmi estava hospedado, em Recife. "Veio aquele grupo cantando, tocando, e na frente uma passista que dançava muito bem. Olhei para ela e achei um nome: Dora. Aí, comecei: 'Dora rainha do frevo e do maracatu...'" , canta Caymmi, nostálgico. "Era uma hora da manhã."

Assista aqui (ou ouça) o original gravado por Caymmi em 1960 :


http://www.youtube.com/watch?v=X9CZawyrTgI&feature=related


Outras musas:

Amélia, a lavadeira
"...Ai, meu Deus que saudades da Amélia
Aquilo, sim, é que era mulher
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer (...)
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade..."
Mario Lago e Ataulfo Alves

O samba "Ai Que Saudades da Amélia!", de Mario Lago e Ataulfo Alves, nasceu de uma brincadeira de Almeidinha, irmão da cantora Araci da Almeida. Sempre que se falava em mulher ele dizia: 'Amélia é que era mulher, Amélia é que lavava, passava...'. "Entrei na brincadeira, acrescentando verbos: bordava, chuleava, tricotava... Até que pensei: 'Isso dá samba'. Veio aí uma figura de mulher", conta Mario Lago. Mas a Amélia de verdade foi descoberta pela revista "O Cruzeiro". Era uma ex-lavadeira da família de Araci de Almeida. Uma mulher do subúrbio do Rio de Janeiro, que sustentava sozinha oito filhos. Mario Lago não chegou a conhecê-la. "Amélia é qualquer pessoa apaixonada, seja homem ou mulher", diz.

Assista aqui, com João Gilberto:

http://www.youtube.com/watch?v=MnZcZxX-ltE

Madalena, a Vera Regina

"Oh, Madalena, o meu peito percebeu
Que o mar é uma gota
Comparado ao pranto meu (...)
Até a lua
Se arrisca num palpite
Que o nosso amor existe
Forte, fraco, alegre ou triste..."
Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza

Em 1970, o compositor Ronaldo Monteiro de Souza, parceiro de Ivan Lins na música "Madalena", tinha terminado o namoro de três anos com da carioca Vera Regina. Chateado, foi até o bar Cabral 1500, em Copacabana. "Naquela época a avenida Atlântica só tinha uma pista, o mar quebrava pertinho da calçada. Daí tirei a idéia de que 'o mar era uma gota, comparado ao pranto meu'. Escrevi a letra em um guardanapo com a caneta do garçom. Não tive coragem de escrever Vera Regina, Madalena foi o primeiro nome que me ocorreu", conta. O namoro acabou de vez, a música virou hit com Elis Regina. Anos depois, Vera Regina soube da homenagem. "Não sei como ela soube, mas tínhamos amigos em comum. Hoje estou casado com Soraya, minha inspiração é outra", diz o compositor.

Assista aqui :

http://www.youtube.com/watch?v=OIYHQuqKf0U&feature=related


Dinorah, a bailarina surda e muda

"Quando a turma se reunia
Alguém sempre pedia
Ah, Dinorah, Dinorah
E o malandro descrevia
E logo já se via
Ah, Dinorah, Dinorah..."
Ivan Lins e Vitor Martins

A história de uma bailarina surda e muda, contada por um típico malandro carioca, inspirou Vitor Martins, parceiro de Ivan Lins, a compor 'Dinorah'. "Eu tinha recebido a melodia do Ivan com apenas uma frase: 'Ah, Dinorah'. Achei que Dinorah tinha de ser uma mulher muito especial e passei dias tentando desenvolver um tema", conta Martins. Até que ele e Ivan entraram em uma pastelaria no Rio de Janeiro, e deram com o malandro falando da incrível bailarina. "Parecia ser uma mulher especial. Mas logo senti que o cara era um tremendo mentiroso e, quando chegava naquela roda, pediam: 'Conta aquela'. Só que ele descrevia a mulher com tanta verdade, falando alto, que parecia que ela existia", conta. Assim saiu a letra: Quando a turma se reunia, alguém sempre pedia...'

Assista Ivan e João Bosco em Cuba :


http://www.youtube.com/watch?v=fSt-Ry8d3iI&feature=related


Luiza e Dindi, o vento e a montanha

"... Vem cá, Luiza me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol..."
Tom Jobim

"... Ah, Dindi, se um dia você for embora, me leva contigo Dindi
Fica, Dindi
Olha, Dindi..."
Tom Jobim e Aloysio de Oliveira

Luiza era um dos nomes preferidos de Tom Jobim. "Ele dizia que parecia que tinha um vento nesse nome", diz Manoel Malaguti, cunhado do compositor. Dindi vem de Dirindi, nome de um morro próximo ao sítio de Tom, em Poço Fundo. "Ele via o rio passar, roncando nas pedras, as águas espumaradas. Aquele ruído o apaziguava. Na outra margem, começava o pasto que ia dar no morro do Dirindi. 'Dindi' não era, como muitos pensavam, um nome de mulher. Mas sim toda aquela vasta natureza e seus segredos", narra Helena Jobim, irmã de Tom, no livro "Antonio Carlos Jobim, Um Homem Iluminado" [Ed. Nova Fronteira].

Assista aqui Tom Jobim no Japão em 1987 cantando as duas musicas :

http://www.youtube.com/watch?v=zJbTXUM8hjg


Beatriz e Cecília, a sonoridade

"... Ah, me leve para sempre Beatriz
Me ensine a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz..."
"Beatriz", em parceria com Milton Nascimento, surgiu de um jogo palavras - "Be" atriz [ser atriz, em inglês], tema da canção
Chico Buarque e Milton Nascimento

Ouça aqui :

http://www.youtube.com/watch?v=ijslD3bfsbk&feature=related

"...Me escutas, Cecília?
Mas eu te chamava em silêncio
Na tua presença
Palavras são brutas
Pode ser que, entreabertos
Meus lábios de leve
Tremessem por ti..."
Cecília, do disco mais recente [1998], também não é real. Chico procurava um nome que sibilasse ao ser pronunciado e Cecília lhe pareceu perfeito.
Chico Buarque e Luiz Cláudio Ramos

Assista :

http://www.youtube.com/watch?v=DTfpXJeofOg


As mulheres das canções de Chico Buarque são um mistério. Nada consta sobre uma "Carolina" de olhos fundos, abaixo interpretada por Caetano :

http://www.youtube.com/watch?v=ijCwWsG_IBg


ou alguma "Bárbara" que falasse demais. .

Assista aqui com Betânia :

http://www.youtube.com/watch?v=YjFSOrjNv20&feature=related


Sozinha, a filha adolescente

"Às vezes no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordada, pensando
No antes, no agora e o depois
Por que você me deixa tão solta?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinha..."
Peninha

O hit "Sozinho", sucesso na voz de Caetano Veloso em 1999, nasceu com alma feminina. O compositor Peninha escreveu a letra inspirado na filha, Clariana Alves, quando ela tinha 14 anos e estava sofrendo por um namorado que a deixava muito só. "Um dia, sem querer, escutei uma conversa dela com ele ao telefone. Eu estava com o violão e fiz a música, baseado na solidão que ela estava sentindo. A letra tem as palavras e a alma dela. Tanto que pensei que tinha feito uma canção para adolescentes. Acho que a música pegou tanto por causa dessa pureza de sentimentos", diz Peninha. A canção 'Sozinha' foi gravada pela primeira vez por Sandra de Sá, em 1995. Hoje, Clariana, com 29 anos, e foi musa passado, quando Peninha conta a história da canção em entrevistas, por causa da gravação de Caetano, diz : "Antes disso, meu pai sempre dizia que essa música era a 'minha cara'. Eu ficava brava, achava que ele estava tentando me dizer que meu relacionamento era ruim. Hoje vejo que ele passou na letra uma preocupação comigo", diz Clariana. A música acabou embalando o "namoro ioiô", que começou na adolescência e, entre idas e vindas, durou mais de cinco anos. "Sempre que brigávamos, meu namorado punha a música e me dizia: 'Pense bem'. Uma vez terminamos, ele foi à minha casa e colocou o CD do Caetano no 'repeat'. Ouvi a música a noite inteira e acabei voltando. Até hoje, toda vez que ele ouve a música, me liga. Nossos amigos chamam ele de 'Sozinho'. Ele sempre fala que, se a gente não casar, eu vou estar velhinha e me lembrar dele toda vez que ouvir essa música. Pior é que vou. Nem que eu queira esquecer, vou conseguir.", reclama ela, com um olhar de acusação para o pai. Peninha se defende: 'A música surtiu o efeito contrário...'.

Assista aqui com Caetano :

http://www.youtube.com/watch?v=wb4RauhteFA

ANNA JULIA de Los Hermanos

Cupido nas paradas

Quando escreveu uma música para ajudar um amigo a conquistar uma garota da faculdade, Marcelo Camelo, vocalista da banda carioca Los Hermanos, não tinha idéia de que o nome da menina estaria, algum tempo depois, na boca do país inteiro. Como numa comédia romântica, Alex Werner (o amigo tímido e produtor da banda) e Anna Júlia Werneck (a garota insensível) se encontraram e se desencontraram por mais de um ano. Enquanto isso, a balada ingênua levou o CD de estréia do Los Hermanos a alcançar o disco de platina.

"É uma canção sobre o amor de quem contempla, o amor do observador", explica Camelo. O sucesso da música pegou a banda de surpresa -a princípio, ela não seria gravada. A homenagem também surpreendeu Anna Júlia. Aos 21 anos, a estudante de Jornalismo diz que é uma garota comum, como tantas: "Não sou uma unanimidade".

Anna Júlia "Conheci o Alex na faculdade. Ele fazia Direito e eu, Jornalismo. Achei ele gatinho e fui conversar, mas a gente acabou não ficando porque ele era tímido. Eu tentava conversar e ele ficava nervoso. Foi passando o tempo e, de vez em quando, ele mandava recados pelos meus amigos. Eu nunca tinha falado com ele direito, então a gente se cruzava na faculdade e não parava para conversar. Era uma situação chata.

No final de 98, eu fui para a Europa de férias. No dia da viagem, ele apareceu na minha casa e me levou uma flor. Achei muito bonitinho. Mas ele chegou quatro horas antes de eu ir para o aeroporto e eu ainda não tinha feito as malas... Foi nessa época que um amigo me disse que os garotos da banda tinham feito uma música para mim. Pensei que ia ser algo me xingando, do tipo 'Ô, garota, se toca! Deixa de ser besta e fala com meu amigo!'.

Começaram as aulas e encontrei o Alex com o Barba [baterista do Los Hermanos] numa festinha. Barba me convidou para o show seguinte da banda. Eu disse que não dava, já sabendo que iria. No meio do show, escuto o Marcelo falando: 'Anna Júlia, esta música é para você!'. O lugar estava muito cheio e a acústica não era boa, entendi muito pouco da letra. Eu ouvia 'Anna Júlia, Anna Júlia' e ria nervosa. Pelo menos fiquei sabendo que não estavam me esculachando.

Quando o show acabou, fui agradecer, mas não falei mais do que isso com o Alex. Nunca conseguimos conversar direito. Sempre acontecia alguma coisa para atrapalhar. Até o dia em que ele me ligou, dizendo que queria me ver. Foi em casa, supernervoso. Finalmente, acabamos ficando. Foi a única vez.

A gravadora escolheu 'Anna Júlia' como música de trabalho do disco. Eles me perguntaram se eu via algum problema. Achei legal. Mas achava que podia dar azar, pois meu nome é estranho. Não conheço muitas Annas Júlias. Era o nome de uma amiga da minha mãe, que é Anna Lia.

Um dia, o Alex me trouxe o single na faculdade. Você não tem noção do tamanho do negócio até ver seu nome na capa do disco. Em casa, quando pus para tocar, a voz do Marcelo era tão doce que comecei a chorar. Acho que a letra tem bastante o lado do Alex, fala mais do que ele via em mim. Na primeira vez em que ouvi a música no rádio, a locutora disse: 'Anna Júlia, o que você fez?'. E eu pensando: 'Nossa! Esta sou eu!'."

Anna Júlia
Quem te vê passar assim por mim/
Não sabe o que é sofrer/ Ter que ver você assim/ Sempre tão linda/ Contemplar o sol do teu olhar/ Perder você no ar/ Na certeza do amor/
Me achar um nada/ Pois sem ter teu carinho/
Eu me sinto sozinho/ Eu me afogo em solidão/ Oh Anna Júlia!
Marcelo Camelo

Assista aqui :

http://www.youtube.com/watch?v=-PArDXQX-4M&feature=related

Ou em ingles com Jim Capaldi :

http://www.youtube.com/watch?v=vIsdUa9uN40&feature=related

YOLANDA de Pablo Milanés

Uma declaração de amor

O compositor cubano Pablo Milanés precisou se ausentar de Havana logo depois do nascimento da primeira filha, Linn. Comovido com a paternidade e apaixonado pela mulher, Yolanda Benet, ele voltou para casa com a letra e a melodia de uma explícita declaração de amor na bagagem. Era "Yolanda", um dos maiores sucessos de sua carreira.

Eles tiveram três filhas, em um casamento que durou cinco anos. A canção teve vida longa. Desde 1970, a música ganhou interpretações em vários países. No Brasil, a versão é de Chico Buarque e foi gravada primeiro por Simone no disco "Desejos", de 1984. "Já regravei 'Iolanda' seis vezes e não posso deixar de cantar nos meus shows. Acho que todo mundo gostaria de ser ela ou ouvir de alguém o que diz a música", afirma Simone.

É com orgulho que Yolanda, hoje uma alegre e falante avó de quatro netos, se lembra daquele tempo. Separada pela segunda vez, mora em Havana e escreve um romance baseado nos conflitos entre um cubano que ficou na ilha e outro que emigrou para os Estados Unidos.

Yolanda Benet "Conheci Pablo na casa de um amigo comum, em Havana. Eu tinha 23 anos e era continuísta de cinema. Casualmente, três dias depois começamos a trabalhar juntos em um filme e nos apaixonamos. Pablo compôs 'Yolanda' quando nossa primeira filha tinha dez dias. Ficou chateado por ter de viajar. Quando regressou, trouxe a canção. Eu estava com Linn nos braços, dando-lhe o peito, e ele me disse: 'Olha o que fiz para você'. Pegou o violão e cantou 'Yolanda'. É uma sensação inesquecível. Não posso traduzir a emoção que até hoje sinto quando me recordo dessas coisas. Nunca houve momento mais importante em minha vida. Ali estava resumido tudo o que ele sentia, todo o amor que sentíamos um pelo outro. Foi muito emocionante.

Pensei que aquela canção era algo íntimo, que só eu poderia compreender o que Pablo estava dizendo. Mas parece que ele fez com tanto amor que todos são capazes de entender. É uma música que se canta no mundo inteiro. Ele já quis tirá-la do repertório e nunca conseguiu. É impressionante como as coisas do coração transcendem. Ao mesmo tempo, sinto que cada pedacinho da letra é um pedacinho do que vivemos. A letra é algo muito pessoal para mim, falar sobre ela é como falar de minha intimidade, até me incomoda.

Nunca deixei de ser amiga de Pablo. Entre nós nunca existiram rancores. Duas de nossas filhas são cantoras. Há pouco tempo cantaram a canção em um show com o pai, em duas vozes. Me acabei em lágrimas. Sempre me emociono com a música, sobretudo quando a cantam bem. Gosto da versão brasileira, de como Simone e Chico Buarque cantam. Vi Chico uma vez na casa de Pablo, mas não tive o prazer de conversar com ele. Fomos apresentados também em um hotel, em Varadero, mas ele não deve se lembrar. Estávamos em um grupo e pedi que não dissessem que eu era a Yolanda da música. Não gosto de usar isso como um título. Não sei explicar o sucesso de 'Yolanda', não me considero uma mulher especial. Sou uma pessoa comum."

Iolanda
Esta canção é mais que mais uma canção/
Quem dera fosse uma declaração de amor/ Romântica, sem perder a justa forma/
Do que me vem de forma assim tão caudalosa (...)/ Iolanda, Iolanda, eternamente Iolanda...
Pablo Milanés, versão de Chico Buarque

Assista aqui a original com Pablo e Chico:

http://www.youtube.com/watch?v=aNzL2KEgPlI

LYGIA de Tom e Chico...

O quase romance

Os olhos verdes da carioca Lygia Marina de Moraes são morenos na letra de "Lígia". Um disfarce da identidade da musa e da atração de Tom Jobim por ela. Tom e Lygia, professora de pré-primário de uma das filhas do compositor, se conheceram em 1968, no bar Veloso, em Ipanema. Nunca houve nada entre os dois, mas aquele encontro daria origem ao samba-canção gravado por Chico Buarque no LP "Sinal Fechado", em 1974. "O Tom vivia de olho nela", diz o jornalista Ruy Castro, que registrou o episódio no livro "Ela é Carioca" (Cia. das Letras).

Por muitos anos Tom negou que Lygia fosse sua musa, em respeito ao amigo Fernando Sabino, marido dela na época. Só em 1994, quando o casal se separou, ele admitiu a inspiração aos amigos. Hoje, aos 54 anos, Lygia mora sozinha e dirige o departamento cultural da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Ela recorda com orgulho os detalhes de seu caso jamais consumado com Tom Jobim.

Lygia Marina de Moraes "Conheci o Tom em uma tarde chuvosa. O bar Veloso estava vazio, era junho e fazia frio. Eu e uma amiga, Cecília, nos sentamos na varanda e vimos o Tom conversando com Paulo Góes [fotógrafo]. Os dois acabaram se sentando na nossa mesa. Quando contei ao Tom que era professora da sua filha Beth, ele teve um ataque de riso e disse: 'É a primeira vez que paquera vira reunião de pais e mestres!'. E eu babando: imagine, em 68, Tom era um dos homens mais lindos do Brasil.

Ele tinha que dar uma entrevista a Clarice Lispector para a 'Manchete', e convidou a mim e a Cecília para ir com ele. Fomos no fusquinha azul-claro do Tom. Eu usava uma saia de lã e um suéter de cashmere. Ao abrir a porta, Clarice fez cara de mau humor. Tom, abraçado comigo e com Cecília, disse: 'Trouxe minhas amigas'. Ela ficou mais furiosa quando pediu a Tom que fizesse um poema para ela, como Vinícius [de Moraes] teria feito em entrevista anterior, e ele disse: 'Não sou poeta, se tivesse um violão...'.

Mas aí pegou um bloco de papel-jornal e escreveu um poema para mim, que guardo até hoje: 'Teus olhos verdes são maiores que o mar/ Se um dia eu fosse tão forte quanto você/ Eu te desprezaria e viveria no espaço/ Ou talvez então eu te amasse/ Ai que saudades me dá/ Da vida que eu nunca tive', e assinou: A.C.J.

Saindo de lá, Tom me levou em casa. Nos despedimos no carro, com um beijinho no rosto. Fiquei nervosíssima, mas parou ali. Tom era casado... Aquela carona foi nosso único encontro a sós. A música fala de tudo o que não aconteceu: o cinema, o passeio na praia... Depois nos encontramos muitas vezes, mas sempre em grupo. Logo me casei com o cineasta Fernando Amaral e entrei para a turma. Vivi o auge de Ipanema.

Após quatro anos de casada e um filho, me separei. Depois me casei com o escritor Fernando Sabino. Em 1973, acho que Tom não sabia que eu estava casada com ele, e ligou para o Fernando pedindo meu telefone. Meu marido fez uma sacanagem: deu um número errado. Em seguida, ligou para o telefone que tinha dado e avisou: 'O Tom Jobim vai ligar aí procurando uma Lígia, mas o telefone é tal', e deu outro número errado. Os amigos ficaram sabendo dessa história, inclusive o Tom. Talvez daí tenha surgido a frase na música que fala do telefonema que foi engano.

Estava sozinha em casa quando ouvi no rádio o Chico cantando 'Lígia', pela primeira vez. Fui correndo comprar o disco. Na hora, me vi na letra. Ser homenageada já é maravilhoso, ainda mais pelo Tom, com uma música linda e sofisticada... É uma glória. Claro que a música rendeu comentários e Fernando ficou uma fera. Durante os 19 anos em que fui casada, Tom evitou o tema. Estivemos juntos em vários lugares, tipo réveillon na casa de Jorge Amado, eu com Fernando e Tom com Ana, sua segunda mulher. Mas ninguém falava nisso.

Um dia, Tom me encontrou por acaso na Cobal [sacolão e ponto de encontro] e falou: 'Está chegando minha musa!'. Foi a primeira vez que admitiu para mim. Até hoje, em cada boteco que entro tocam 'Lígia'. Faz parte do meu show. Fiquei imortal. Tenho quase todas as gravações de 'Lígia'. Existe até uma versão do João Gilberto em que, ao contrário da oficial, o romance acontece e Tom até se casa comigo. As pessoas me cobram o fato de nunca ter acontecido nada entre a gente. Mas será que não foi melhor ter ficado essa fantasia? Talvez tivesse de ser essa a história: eu virar musa, entrar em um restaurante e me lembrar do Tom, cheio de charme."

Lígia
Eu nunca sonhei com você/ Nunca fui ao cinema/
Não gosto de samba/ Não vou a Ipanema/
Não gosto de chuva/ Não gosto de sol/
E quando eu lhe telefonei/ Desliguei/
Foi engano/ O seu nome eu não sei/
Esqueci no piano/ As bobagens de amor/
Que eu iria dizer/ Não, Lígia, Lígia...
Tom Jobim
Assista aqui :

Linkhttp://www.youtube.com/watch?v=8TaMELDSkaM&feature=related

DRÃO de Gilberto Gil - Sempre quis saber o que significava ...

A melodia da separação

O apelido foi dado por Maria Bethânia. Drão vem do aumentativo de Sandra, a terceira mulher de Gilberto Gil. Ao virar título de um dos maiores sucessos do compositor, o apelido incomum sempre foi confundido com a palavra "grão". Sandra Gadelha desfaz o mal-entendido e se assume como inspiração dos versos densos, compostos em 1981, em plena separação do casal. Gil diz que foi bem difícil escrever a letra, uma poesia profunda e sutil do amor e do desamor. "Como é que eu vou passar tanta coisa numa canção só?", questiona-se Gil no livro "Gilberto Gil-Todas as Letras" (Cia. das Letras).

Os dois foram casados por 17 anos e tiveram três filhos: Pedro, Maria e Preta. Hoje, aos 53 anos, Sandra mora sozinha no Rio, sonha em montar uma pousada e se lembra com carinho da canção que marcou o fim de seu casamento. Por uma feliz coincidência, Sandra costuma ouvir sempre a "sua" música no rádio do carro. Uma emissora carioca parece estar programada para tocá-la todos os dias, às 11h. A ouvinte especial está sempre sintonizada.

Sandra Gadelha "Desde meus 14 anos, todo mundo em Salvador me chamava de Drão. Fui criada com Gal [Costa], morávamos na mesma rua. Sou irmã de Dedé, primeira mulher de Caetano. Nossa rua era o ponto de encontro da turma da Tropicália. Fui ao primeiro casamento de Gil. Depois conheci Nana Caymmi, sua segunda mulher. Nosso amor nasceu dessa amizade. Quando ele se separou de Nana, nos encontramos em um aniversário de Caetano, em São Paulo, e ele me pediu textualmente: 'Quer me namorar?'. Já tinha pedido outras vezes, mas eu levava na brincadeira. Dessa vez aceitei.

Engraçado que Gil mesmo não me chamava de Drão. Antes havia feito a música 'Sandra'. Já 'Drão' marcou mais. Estávamos separados havia poucos dias quando ele fez a canção. Ele tinha saído de casa, eu fiquei com as crianças. Um dia passou lá e me mostrou a letra. Achei belíssima. Mas era uma fase tumultuada, não prestei muita atenção. No dia seguinte ele voltou com o violão e cantou. Foi um momento de muita emoção para os dois.

Nos separamos de comum acordo. O amor tinha de ser transformado em outra coisa. E a música fala exatamente dessa mudança, de um tipo de amor que vive, morre e renasce de outra maneira. Nosso amor nunca morreu, até hoje somos muito amigos. Com o passar do tempo a música foi me emocionando mais, fui refletindo sobre a letra. A poesia é um deslumbre, está ali nossa história, a cama de tatame, que adorávamos. No começo do casamento moramos um tempo com Dedé e Caetano, em Salvador, e dormíamos em tatame. Durante o exílio, em Londres, tivemos de dormir em cama normal. Mas, no Brasil, só tirei o tatame quando engravidei da Preta e o médico me proibiu, pela dificuldade em me levantar.

A primeira vez em que ouvi 'Drão' depois que Pedro, nosso filho, morreu [num acidente de carro em 1990, aos 19 anos] foi quando me emocionei mais. Com a morte dele a música passou a me tocar profundamente, acho que por causa da parte: 'Os meninos são todos sãos'. Mas é uma música que ficou sendo de todos, mexe com todo mundo. Soube que a Preta, nossa filha, chora muito quando ouve 'Drão'. Eu não sabia disso, e percebi que a separação deve ter sido marcante para meus filhos também. As pessoas me dizem que é a melhor música do Gil. Djavan gravou, Caetano também. Fui ao show de Caetano e ele não conseguia cantar essa música porque se emocionava: de repente, todo mundo começou a chorar e a olhar para mim, me emocionei também. E, engraçado, Caetano é o único dos nossos amigos que me chama de Drinha."

Drão
Drão/ O amor da gente é como um grão/
Uma semente de ilusão/
Tem que morrer pra germinar (...)/
Quem poderá fazer/
Aquele amor morrer!/ Nossa caminha dura/
Cama de tatame/ Pela vida afora...
Gilberto Gil

Assista aqui :

http://www.youtube.com/watch?v=ONrfUkBEN6I&feature=related

sábado, 18 de junho de 2011

Mais detalhes do livro...

Saiu o resultado do Concurso de Contos 2011 da Universidade FUMEC

Bem, tenho dois filhos, plantei algumas árvores e faltava o livro.
Bom, não falta mais. E o melhor é que não precisei pagar para tê-lo. Melhor assim.
Na foto abaixo, a capa do livro. Uma antologia com os 8 contos premiados, listados em ordem alfabética. Depois vou postar fotos do evento que vão ser disponibilizadas pela Universidade.
Clique na foto para ampliar.