09 de novembro de 2012 | 19h 01
A
condição humana, no incômodo limite entre o bem e o mal
Excerto do Ensaio escrito em 1973, o autor de 'Laranja Mecânica' explica as
razões de seu livro
ANTHONY BURGESS
Sou, por ofício, um romancista. Acredito tratar-se de um ofício
inofensivo, ainda que não venha a ser considerado respeitável por alguns.
Romancistas colocam palavras vulgares na boca de seus personagens e os
descrevem fornicando e fazendo necessidades. Além disso, não é um ofício útil,
como o de um carpinteiro ou de um confeiteiro. O romancista faz o tempo passar
para você entre uma ação útil e outra; ajuda a preencher os buracos que surgem
na árdua trama da existência. É um mero recreador, um tipo de palhaço. Ele faz
mímica e gestos grotescos; é patético ou cômico e, às vezes, os dois; ele faz
malabarismo com palavras, como se estas fossem bolas coloridas.
O uso que ele faz das palavras não deve ser levado excessivamente a
sério. O presidente dos Estados Unidos usa palavras; o médico, o mecânico, o
general do exército ou o filósofo usam palavras; e essas palavras parecem estar
relacionadas ao mundo real, um mundo em que impostos precisam ser arrecadados e
depois evitados; carros precisam ser dirigidos; doenças, curadas; grandes
pensamentos, pensados; batalhas decisivas, travadas. Nenhum criador de enredos
ou personagens, por maior que seja, deve ser considerado um pensador sério, nem
mesmo Shakespeare. Na realidade, é difícil saber o que o escritor criativo
realmente pensa, pois ele se esconde atrás de suas cenas e de seus personagens.
E quando os personagens começam a pensar e a expressar seus pensamentos, não se
trata, necessariamente, dos pensamentos do escritor. Macbeth pensa uma coisa e
Macduff, algo diametralmente oposto; as ponderações do Rei não são as mesmas de
Hamlet. Até mesmo o dramaturgo trágico é um palhaço, soprando uma melodia
triste em um trombone velho. E então seu ânimo trágico se esgota e ele se torna
um bufão, cambaleando por aí e plantando bananeiras. Nada que deva ser levado a
sério.
O texto completo está em
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,a-condicao-humana-no-incomodo-limite-entre-o-bem-e-o-mal,958141,0.htm
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