O autor e diretor teatral mineiro Alcione Araújo morreu na madrugada desta quinta-feira (15). Alcione tinha 67 anos e foi vítima uma parada cardíaca dentro de um hotel da região da Savassi, onde estava hospedado na companhia da namorada e dos sogros.
Alcione Araújo nasceu em Januária, no Norte de Minas Gerais, e morava no Rio de Janeiro.
Atualmente, o diretor era cronista de um jornal mineiro.
Carreira
Autor, diretor e professor. Sua obra busca a síntese entre o subjetivo e as circunstâncias, o psicológico e o social.
Formado em engenharia, leciona na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na mesma universidade, interessado em teatro, ingressa no curso de formação de atores. Em Belo Horizonte é encenada sua primeira peça, Há Vagas para Moças de Fino Trato, 1974, estudo psicológico do sofrido convívio de três mulheres e dos traumas que lhes são causados pelas relações amorosas. Ainda em 1974, o texto é novamente encenado, agora sob a direção de Amir Haddad, com Glória Menezes, Yoná Magalhães e Renata Sorrah, lança o jovem autor em São Paulo e no Rio de Janeiro. Desde então, a peça tem muitas produções pelo Brasil e em outros países do continente.
Também a segunda peça de Alcione, Bente-Altas: Licença para Dois, é encenada em Belo Horizonte, com direção de Aderbal Freire-Filho, em 1976, depois de ganhar, no Rio de Janeiro, um prêmio no concurso de dramaturgia do Grupo Opinião. Os protagonistas são dois jovens marginais recém-saídos de um estabelecimento de recuperação de menores: a ação ilustra, através de um diálogo vigoroso e colorido, as suas visões do mundo e as suas dificuldades de adaptação a uma sociedade que os segrega e reprime. Em 1976 estreia, ainda em Belo Horizonte e também com direção de Aderbal, Sob Neblina Use Luz Baixa, texto premiado no Concurso de Dramaturgia do Serviço Nacional de Teatro (SNT). O autor aborda, pela primeira vez num tratamento que tende para a metáfora e o teatro do absurdo, o triste fenômeno dos desaparecidos, cuja presença-ausência repercute no cotidiano dos familiares e leva Alcione Araújo a dissecar criticamente a instituição da família, assunto ao qual ele volta em outras obras.
Em 1981, já morando no Rio de Janeiro, estreia como diretor profissional com Doce Deleite, uma colagem de doze esquetes cômicos, dos quais oito são de sua autoria. Tanto os textos como a encenação propõem-se basicamente a servir de veículo a uma série de composições de tipos por parte da dupla Marília Pêra e Marco Nanini. O espetáculo obtém enorme sucesso de bilheteria e, após a temporada carioca, passa dois anos viajando pelo Brasil. Segue em 1981, numa produção do Teatro dos Quatro dirigida pelo autor, a comédia Comunhão de Bens, que aborda a instituição do casamento sob o prisma da recente revolução dos costumes sexuais. Muitos Anos de Vida, que dirige em 1984, lhe proporciona o Prêmio Molière de melhor autor da temporada carioca. O autor traça aqui uma feroz análise do autoritarismo dentro do grupo familiar, análise que pode ser também interpretada como uma alegoria mais abrangente sobre o comportamento das faixas mais direitistas e conservadoras da pequena classe média nacional. Em texto publicado no programa, escreve: "O que me interessa sempre como matéria-prima teatral é o homem, idéias e ideologias trazidas para o cotidiano, para as situações corriqueiras, onde princípios e doutrinas são postos em xeque. E isso no homem brasileiro".1 A Caravana de Ilusão, 1982, é montada por Luiz Arthur Nunes sete anos depois de escrita.
Durante doze anos, leciona na Uni-Rio, na Escola de Teatro Martins Pena e na CAL - Casa das Artes de Laranjeiras. Publica artigos em veículos especializados.
Desde 1981 se dedica à atividade de roteirista de cinema e de televisão, criando, inclusive, roteiros para países estrangeiros.
Alcione Araújo escreveu famosas peças teatrais, como “Muitos anos de vida” e “Há vagas para moças”.O autor também assinou roteiros destinados à televisão e cinema.
Como diretor, Alcione Araújo foi um dos responsáveis pelo sucesso de Doce deleite, uma colagem de 12 esquetes cômicos encenada pelos atores Marília Pêra e Marco Nanini.
No que me tange...
Foi meu professor de Eletrônica na Escola Técnica Federal de Minas Gerais em 1969.
Muito sisudo, fechado, de pouca conversa, fumava Capri. Acendia um cigarro no tôco do outro que acabava. Teve com isto um enfarte aos 29 anos de idade. Talvez este fato tenha feito com que ele abandonasse as aulas de Eletrônica, a Engenharia como um todo e partisse para sua vocação: a escrita, o teatro, a direção teatral e cinematográfica, a criação literária.
Inteligentissimo. É uma perda para a cultura brasileira.
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