sábado, 24 de agosto de 2013

Quem somos ?


 


Somos aqueles, os pessimistas,
 alimentados por sombras de tragédias possíveis e plausíveis, inventadas pelos esqueletos do medo
guardados em armários carcomidos pelo tempo,
ou assustados por ausências repentinas e
arrestados pelos arrependimentos tardios ?


Ou seremos então só restos esquálidos,
 irmãos dividindo a mortalha curta
que nos revela inúteis, imprestáveis,
à medida que cumprimos nossa jornada previsível,
inodora e insossa ?
 

Ou somos aqueles que se servem da razão dos covardes
para emitir murmúrios,
uns poucos pios submissos
bradados pelos que disputam a piedade alheia
e as migalhas caídas da mesa ?

 
Ou seremos aqueles que sucumbem
 aos olhares de escárnio
daqueles poucos 
que nos ensurdecem aos gritos de:

 Basta ! De pé !! ?

Se assim for, a culpa é nossa
só nossa, homens ocos,
que crescem parindo um silêncio
que nos acompanhará pela eternidade !


quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Brilho no Olhar

 
 


Versão que fiz para "The way you look tonight" . Cantada por mim acompanhado pelo Marcos Frederico(violão e baixo), Dado Prates (saxofone) e Bastos(bateria). Produção musical do Marcos Frederico, gravado no estúdio Liquidificador - BH.

Abaixo a letra.



Brilho no olhar

 

Não sei, se hoje tem luar,
Se há nuvens no céu,
Sei que estrelas já não brilham mais lá,
Como brilha o teu olhar...

És a imagem
És meu sonho ao vivo,
O sol em teu sorriso
E ao beijar teus lábios, vou sonhar mais
Com o brilho deste olhar

Teu rosto em meu rosto, ao som da canção
Dançamos, teu corpo, colado ao meu... 
Sussurros, promessas, se faz e se jura,
Caricias de amor e ternura...

Querida
Nunca, não, não mude,
Fique assim pra sempre
Me ame em plenitude, pois te amo,
E amo o brilho deste olhar...
 

Teu rosto em meu rosto, ao som da canção
Dançamos, teu corpo, colado ao meu...
Sussurros, promessas, se faz e se jura,
Caricias de amor e ternura...
 
Querida
Nunca, não, não mude,
Fique assim pra sempre
Me ame em plenitude, pois te amo,
E amo o brilho deste olhar...

sábado, 15 de junho de 2013

Último grito !!


Ultimo grito
 jun/2013)







 


Nos querem discretos, em pontos marcados,
Obrando apressados, sonhando em comprar,
O carro do ano ou mais um celular, e
Os juros extorquem, quem consignar:
Com Copas do Mundo nos querem sedar!


 Pessoas doentes, carentes de amparo,
A morte que espreita,  apura o seu faro,
Os glutões, no Poder, tem champagne e grelhados,
Na feira, as famílias, pagando mais caro,
Espertos se elegem com a sopa aos coitados!

 
Mil males assombram, no ar um receio,
Que a praga se alastre, e nos faça de meio,
Nem pense em rezar ou fazer penitência,
Se os grandes culpados da vil truculência:
Estão no Poder, corrompendo a decência!

 
A tragédia se estampa 
 na  tela  das  oito.
Nos chega ao jantar
 ou  na hora   do coito,
Mataram? Ou morreu,
Era velho ou criança?
Uma guerra sangrenta,
Um estupro assassino?
Diz o dono da voz:
“se conforme, é o destino”!!!

 
A Droga se espalha na Sociedade,
Impostos que assaltam, custeiam Compadres,
A Justiça prescreve e o Transporte não serve,
É o Estudo que falta, e a Saúde que aflita:
E culpam por tudo a herança maldita!

 
A vida é uma faca, e seu corte é profundo!
Nos cerca de horror e maldita agonia,
Que encarna, se infiltra, ao findar mais um dia,
E nos torna insensíveis, alheios à dor:
E olhe pra baixo ao pedir "por favor"!

 
(repetir)
 E dormimos rezando:
"Que nada aconteça, 
À patroa, aos meninos,
de mim, não se esqueça,
E a desgraça se faça
ao vizinho do lado,
 E nos poupe outra vez
nosso corpo cansado:
ou nos venha de vez a loucura à cabeça! "






 
   



quarta-feira, 12 de junho de 2013

Dedicado a meu único amor...

 

Neste 12 de junho, nada melhor que assistir a belíssima Michelle Phillips, que canta, junto com John Phillips, 'Mama' Cass Elliot e Denny Doherty, integrantes  do grupo The Mamas & the Papas, um de seus maiores sucessos:


 " Dedicated To The One I Love " .


 

Aumentem a tela e assistam.


Dizem que Paul McCartney era apaixonado por ela e que a canção Michelle, gravada pelos Beatles foi feita em homenagem a sua beleza e ao amor não correspondido.
Paul McCartney tinha ou não razão em se apaixonar?


terça-feira, 11 de junho de 2013

AZUL - poema de Noemi Jaffe

azul



 
 
esqueço o sonho que não tive.
também lembro dele.
era azul o lugar e um homem segurava uma frase longa, se enrolando nas palavras, mais especialmente nas conjunções: contanto, apesar, embora.
acho que era hamburgo, na fronteira com a dinamarca.
isso, isso é a memória.
ou melhor, o esquecimento, que, na verdade, é o lugar azul da memória, lá onde ela se transforma em mar e se indistingue do céu.
o esquecimento é a polpa azul da memória, lá onde as palavras se enroscam e não sabem o que querem dizer.
às vezes acho que esquecer é mais, muito mais vivo do que lembrar.
por isso, te esqueci, sim, o que me deixa cada vez mais próxima de você.

 

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Te amo bem mais que amo amim, versão de "I´ve got you under my skin" de Cole Porter


Versão de I´ve got you under my skin, que fiz e gravei cantando, acompanhado pelo violão talentoso de Marcos Frederico;
Gravado em maio/2013 no estúdio Liquidificador.





Ampliem a imagem e aumentem o som.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Contrariedades - poesia de Cesário Verde

 

Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
       Consecutivamente.

Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
       E os ângulos agudos.

Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
       E engoma para fora.

Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve conta à botica!
       Mal ganha para sopas...

O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
       Um folhetim de versos.

Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais uma redacção, das que elogiam tudo,
       Me tem fechado a porta.

A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa
       Vale um desdém solene.

Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e a paz pela calçada abaixo,
Um sol-e-dó. Chuvisca. O populacho
       Diverte-se na lama.

Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
       Me negam as colunas.

Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores
       Deliram por Zaccone.

Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua coterie;
E a mim, não há questão que mais me contrarie
       Do que escrever em prosa.

A adulação repugna aos sentimento finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exactos,
       Os meus alexandrinos...

E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
       E fina-se ao desprezo!

Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
       Duma opereta nova!

Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
       Impressas em volume?

Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a réclame, a intriga, o anúncio, a blague,
E esta poesia pede um editor que pague
       Todas as minhas obras...

E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe a luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
       Que mundo! Coitadinha!



José Joaquim Cesário Verde (Lisboa, 25 de Fevereiro de 1855Lumiar, 19 de Julho de 1886) foi um poeta português, sendo considerado um dos precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX.

 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Um "plus" a mais, por Luiz Fernando Verisimo

Reproduzo aqui a oportuna crônica de Luiz Fernando Verissimo, como um libelo à  extrema estrangeirização da língua.



Passei por uma loja que vendia roupa “plus size” para mulheres. Levei algum tempo para entender o que era “plus size”. “Plus”, em inglês, é mais. “Size é tamanho. Mais tamanho? Claro: era uma loja de roupas para mulheres grandes e gordas, ou com mais tamanho do que o normal.
Só não entendi isto logo porque a loja não ficava em Miami ou em Nova York, ficava no Brasil. Não sei como seria uma versão em português do que ela oferecia, mas o “plus size” presumia 1) que a mulher grande ou gorda saberia que a loja era para ela, 2) que a mulher grande ou gorda se sentiria melhor sendo uma “plus size” do que o seu equivalente em brasileiro, e 3) que ninguém mais estranha que o inglês já seja quase a nossa primeira língua, pelo menos no comércio.

A invasão de americanismos no nosso cotidiano hoje é epidêmica, e chegou a uma espécie de ápice do ridículo quando “entrega” virou “delivery”.

Perdemos o último resquício de escrúpulo nacional quando a nossa pizza, em vez de entregue, passou a ser “delivered” na porta. Isto não é xenofobia nem anticolonialismo cultural americano primário, nem eu acho que se deva combater a invasão com legislação, como já foi proposto. O inglês, para muita gente, é a língua da modernidade. Todos queremos ser modernos e, nem que seja só na imaginação, um pouco americanos. E nada contra quem prefere ser “plus” a ser mais e ter “size” em vez de altura ou largura. Só é triste acompanhar esta entrega — ou devo dizer “delivery”? — de identidade de um país com vergonha da própria língua.


 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Museus do mundo: perdoem...


Museus do mundo: perdoem... (maio-2013)

Nesta 3ª semana de maio homenageiam-se os Museus. Fiz um mea-culpa que acho encontra espelho em muita gente.
 

Pensar que inúmeras vezes passei ao largo,
Não entrei. Me omiti. Deveria ter ao menos, curiosidade,
Daquelas que vem com a idade,
Ao questionar: Por que não?

Mas quero registrar um recado:
Ainda há tempo de reparar o pecado
E começar a aprender a velha e sábia lição:
De onde viemos, o que fizemos, quem foi Platão?

Não me conformo por ter desprezado tua existência,
Não me conformo em ter olvidado tua evolução,
Me surpreendo ao ver o quanto há de sapiência,
Como pude conviver com tua ausência,
Em nome de uma falsa e hipócrita razão?

Não há palavras que podem te resolver em minha equação.
Talvez um olhar de carinho,

Um gesto, qual cuidador,
Alguma forma escondida de mostrar minha emoção.

Mas importante mesmo, é visitar e perceber
As ideias que ali insistem em estar e se expor
Para sanar dúvidas, levar luz ao  lado escuro do ser...


Como a casa de um fraterno amigo,
Que ao colher a historia, do principio ao cabo,
 
Se fez abrigo de todo passado
Que pra nós, graças a ele, não passou.


sexta-feira, 17 de maio de 2013

Lições de vida


                            Lições de Vida ...

 Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que a companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e que presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. 
 
Depois de um tempo você aprende que o sol queimará se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam. E aceita que não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la  por isso.

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas num instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida.

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distancias. E o que importa não é o que se tem na vida, mas quem você tem na vida. E que os bons amigos são a família que nos foi permitida escolher.

Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendermos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e ainda terem bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida muitas vezes são tomadas de você muito depressa; por isso devemos sempre deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pois pode ser a última vez que nós a vejamos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influências sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Descobre que se leva muito tempo para tornar-se a pessoa que quer ser, e que este tempo é muito curto. Aprende que não importa onde já chegou, mas para onde está indo;  e que se você não sabe para onde está indo, pare e reflita; não é qualquer lugar que serve.

Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa o quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel com quem está ao lado.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando conseqüências.  Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que muitas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você vai cair é uma das poucas que o ajudam a levantar-se. Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou.

Aprende que há mais de seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens; poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que consegue, pois existem pessoas que nos amam, e simplesmente não sabem como demonstrar da forma como gostariamos. Aprende que nem sempre é o suficiente ser perdoado por alguém;  algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se.

Aprende que, com a mesma severidade que julga, você também o será, em algum momento. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára pra que você o conserte.

Aprende que o tempo não é algo que você possa fazer voltar atrás. Portanto, plante seu jardim e enfeite sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga adornos para tal.

E você aprende que pode suportar, que é forte, e que pode ir muito mais longe, mesmo depois de pensar que não pode mais.

E que por mais que muitos falem que não, a vida pode SIM ter um significado;
Se você se fizer significante para os que estão a seu lado!

Finalmente, disse uma vez um poeta:

"Todos temos dádivas, dons, intuições especiais. Muitas vezes nos traímos, e não os usamos. Perdemos, então, a oportunidade de conquistar um bem que nos é facultado por direito. Se pelo desconhecimento deles ou pela irracionalidade presente, que seja.
Pior é quando é pelo medo de nunca tentar por em pratica.
Ouse. Sempre."

quinta-feira, 9 de maio de 2013

a batatinha e a mamãe


a batatinha e a mamãe

(do conhecido versinho, de domínio público,
nasceu esta "Ode ao Amor de Mãe") - 2004
 



   mamãe e eu ( com 8 meses) - Parque Municipal - Belo Horizonte
_____________________________________________________
 

Batatinha quando nasce,
Espalha rama pelo chão...
Mamãezinha quando dorme
Põe a mão no coração...


Coração de Mãe é enorme
Bem maior que um avião...
Toda vez que você dorme,
Um sonho vem do Coração...

Pra mamãe, como presente,
Deve um verso recitar,
Tenha agora e sempre
em mente
O
recado que vou dar:

Sabe quem criou o Amor ?
Pois eu sei...

Eu vou contar :

Quando há tempos, tempo faz,
Deus criou céu, terra e mar,
Criou também Adão e Eva,
E ensinou o Amor ao par...

Por um tempo, observando,  começou a preocupar:
“Como é belo o tal Amor,
Tão lindo e tão intenso...
Mas está sobrando senso,
Eu preciso melhorar...
Amar alguém só se alguém também lhe amar?”
O que Eu quero é bem maior”, disse Deus, e completou:
" Quero um Amor que não quer troca, que não peça, que se doe,
Que suporte sede e fome, a dor forte que o consome, e ainda assim, perdoe...

Então, a Mãe,

DEUS teve que inventar...

E do coração da Mãe
Fez o maior lugar que há,
Pois previa já o tamanho
Que o amor de Mãe pode chegar...


E DEUS não erra, e não errou...
O Amor que a prima-Mãe mostrou
Foi do jeito que previa,
DEUS então determinou :
“Mãe, serás do amor,
Amor-a-dia “...

Por isto,
Quando eu for “papai/mamãe” um dia,
Da Mamãe eu vou lembrar...
“- Todo amor de uma família vem da Mãe...
. ...que se espalha, como rama, em cada olhar...



segunda-feira, 6 de maio de 2013

O mais importante...



Num dia lindo e ensolarado, o coelho saiu de sua toca com o notebook e pôs-se a trabalhar, bem concentrado. Pouco depois, passou por ali a raposa e viu aquele suculento coelhinho, tão distraído, que chegou a salivar. No entanto, ela ficou intrigada com a atividade do coelho e aproximou-se, curiosa: R - Coelhinho, o que você está fazendo aí tão concentrado?
C - Estou redigindo a minha tese de doutorado - disse o coelho sem tirar os olhos do trabalho.
R - Humm .. . e qual é o tema da sua tese?
C - Ah, é uma teoria provando que os coelhos são os verdadeiros predadores naturais de animais como as raposas.
A raposa fica indignada: R - Ora! Isso é ridículo! Nos é que somos os predadores dos coelhos!
C - Absolutamente! Venha comigo à minha toca que eu mostro a minha prova experimental.
O coelho e a raposa entram na toca. Poucos instantes depois ouvem-se alguns ruídos indecifráveis, alguns poucos grunhidos e depois silêncio. Em seguida o coelho volta, sozinho, e mais uma vez retoma os trabalhos da sua tese, como se nada tivesse acontecido. Meia hora depois passa um lobo. Ao ver o apetitoso coelhinho tão distraído, agradece mentalmente à cadeia alimentar por estar com o seu jantar garantido. No entanto, o lobo também acha muito curioso um coelho trabalhando naquela concentração toda. O lobo então resolve saber do que se trata aquilo tudo, antes de devorar o coelhinho: L - Olá, jovem coelhinho. O que o faz trabalhar tão arduamente?
C - Minha tese de doutorado, seu lobo. É uma teoria que venho desenvolvendo há algum tempo e que prova que nós, coelhos, somos os grandes predadores naturais de vários animais carnívoros, inclusive dos lobos.
O lobo não se contém e cai na gargalhada com a petulância do coelho. L - Apetitoso coelhinho! Isto é um despropósito. Nós, os lobos, é que somos os genuínos predadores naturais dos coelhos. Aliás, chega de conversa...
C - Desculpe-me, mas se você quiser eu posso apresentar a minha prova. Você gostaria de me acompanhar à minha toca?
O lobo não consegue acreditar na sua boa sorte. Ambos desaparecem toca adentro. Alguns instantes depois ouvem-se uivos desesperados, ruídos de mastigação e ... silêncio. Mais uma vez o coelho retorna sozinho, impassível, e volta ao trabalho de redação da sua tese, como se nada tivesse acontecido... Dentro da toca do coelho vê-se uma enorme pilha de ossos ensanguentados e pelancas de diversas ex-raposas e, ao lado desta, outra pilha ainda maior de ossos e restos mortais daquilo que um dia foram lobos. Ao centro das duas pilhas de ossos, um enorme LEÃO, satisfeito, bem alimentado e sonolento, a palitar os dentes.
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MORAL DA HISTORIA:

- Não importa quão absurdo é o tema de sua tese.
- Não importa se você não tem o mínimo fundamento científico.
- Não importa se os seus experimentos nunca cheguem a provar sua teoria.
- Não importa nem mesmo se suas idéias vão contra o mais óbvio dos conceitos lógicos...
- o que importa é QUEM É O SEU ORIENTADOR..

domingo, 28 de abril de 2013

O que é Governo? E Democracia?





Educativo...
Democracia tem a ver com o "Demo" ?

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Luis Miguel canta " La Puerta " e "El dia que me quieras" , há mais de 20 anos em Acapulco.

Boleros belíssimos, tanto em letra como em melodia.

 
ARRIBA MEXICO!!

Momento romântico,  nesta vida tão árida e custosa de viver.


(aumente a tela e o som
  La puerta
composta por Luiz demetrio
Cantada por Luis Miguel


 
  
 
El dia que me quieras
composta por Alfredo La Pera
cantada por Luis Miguel
 
 













domingo, 7 de abril de 2013

A Infância e a educação


Prólogo

Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso é a realidade, e que sabemos que  o trabalho de educar é duro, pouco remunerado, pouco valorizado na sociedade, apesar de necessário. E o pior é que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho. Me disseram ou li em algum lugar, que no Japão, uma cultura milenar, o Imperador só faz reverência para uma classe de pessoas: a dos professores. Não sei se é verdade mas me parece lógico.
Repensemos nossos papéis, pais, alunos, sociedade, e nossas atitudes, pois com elas demonstraremos o compromisso com a educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.

Ninguém nasce feito, é conhecendo e experimentando o mundo que nós nos fazemos. Quanto mais conhecer, quanto mais experimentar, mais vamos nos fazer.

Não estamos no mundo simplesmente para se adaptar a ele. Certo que algumas adaptações são necessárias, mas, somente para transformá-lo; e se não é possível mudá-lo de imediato, se seu sonho não acontece com a rapidez que você pensou,  não desista. Use outras possibilidades que tenha à mão, mas não esqueça que sua meta é o seu sonho. Seja persistente.

A democracia e a liberdade, são conquistas, não são doações. Se vocês hoje as tem, outros as conquistaram para vocês. E cabe a vocês fazer que elas alcancem seus filhos e netos, e assim por diante.

Exige permanente conquista de todos e para todos. Todo amanhã se cria num ontem, através de um hoje . Temos de saber o que fomos, para saber o que queremos ser.

                                                                                                                 Paulo Freire

 Infância : Minha mãe, minha primeira professora...


1957. Brumado, distrito de Pitangui, MG.
Todos meus amigos eram mais velhos do que eu. Eu com 5 a 6 anos; eles com 8, 9, 10 ou mais. Brincadeiras como o descer a rua em um cavalo de madeira(vassoura) com ramos de árvore amarrados ao seu final, para fazer o máximo de poeira, imitando os carros e ônibus que passavam na lá na estrada, nadar no açude ou pescar, quando o Tasso podia levar a gente, preenchiam nosso lazer diário, nosso cotidiano. Sempre pelas manhãs, até a hora do almoço.
Á tarde, mamãe tinha mais tempo pra nós, pra mim e Patricia, minha irmã. Depois de colocar meu irmãozinho, bebê ainda, Bráulio, pra dormir, contava histórias e lia pra gente. Comecei a entender as letras e as palavras ainda bem novinho, com uns 3 a 4 anos. Fui me alfabetizando devagarzinho, conhecendo o significado de algumas palavras e a escrever algumas frases. Com 5 anos eu já lia os jornais da capital e o Diario do Oeste, de Pitangui, que papai trazia para casa. Lia catálogos de tecidos, lia receita de médico, lia qualquer coisa que aparecesse pela frente. Ele morria de rir: “Disparou...” dizia pra mamãe. E eu era ávido por este mundo diferente do meu, do cotidiano.
Passei a perceber que à tarde, quando eu ficava em casa, meus amigos não apareciam. Iam pro Grupo Escolar, ter aula. Não havia reparado nisto antes. Passei a reparar. Perguntei a mamãe que me explicou rapidamente. “-Um dia você também vai...” e pronto. O Grupo Escolar ficava do outro lado do muro da Fabrica. Eu ainda não tinha idade para frequentar. Mas percebi que tinha uma inveja danada de meus amigos e das coisas que eles contavam que tinham acontecido lá. Das provas, das notas, e dos livros e cadernos...
Um dia, sem que a Alice, nossa babysitter, percebesse, fugi depois do almoço, e acompanhei meus amigos até a porta do Grupo. Voltei correndo. Mamãe descobriu, ficou brava por eu sair sem lhe falar nada. Passados alguns dias, lá fui eu de novo. Desta vez demorei mais. Fiquei lá fora, vendo os alunos entrarem. Subi em um morrinho que tinha ao lado da escola e de lá pude ver eles sentarem, cada um com sua mesinha, abrir os cadernos, esperar pela entrada da professora, que foi logo escrevendo em uma parede preta, que vim a saber depois, chamava-se quadro-negro. Fiquei muito tempo ali apreciando e reparando as conversas e brincadeiras, as falas da professora, até Alice me achar e me levar pra casa. Naturalmente, mamãe não ficou só nas palavras. Mas tudo bem, valia a pena receber cada palmada. Outras fugas aconteceram. Numa destas vezes, rodei o muro do Grupo e descobri um buraco. Vi alguns meninos saindo de lá. Eles sentaram junto ao muro e acenderam cigarros de caule de xuxu seco. Botaram fogo na ponta e colocaram na boca. Fiquei olhando a cena um bom tempo imaginando por que faziam aquilo e que gosto aquilo teria. Eu via Papai fumando cigarros de maço, mas, às vezes, ele acendia uns feitos de palha, recheados com pedacinhos que ele cortava de um rolo escuro, que tinha um cheiro muito bom. Eu ficava ao seu redor cheirando a fumaça. Muitos funcionários da Fabrica fumavam aquilo também. Mas voltando ao buraco no muro. Se dava pra sair, dava pra entrar. Dia seguinte, comi feito um raio meu almoço, que mereceu um elogio da Alice. Sai correndo e cheguei antes da entrada da turma. Me esgueirei junto ao muro, me atrevi mais um pouco e entrei no Grupo pelo buraco do muro. Já dentro, vi que haviam janelas que davam para um corredor e eram baixinhas, pertinho do chão. Cheguei até a beirada e olhei pra dentro. Sala vazia. Pulei pela janela e entrei. Me escondi ao fundo, ao lado da carteira da última fileira. A turma começou a entrar e alguns, meus amigos, me reconheceram e fizeram piadas sobre meu “esconderijo. Me instalaram nesta mesma ultima carteira, vaga. Me deram folhas de papel e lápis. E lá estava eu, esperando a professora entrar. Ela entrou e não deu por mim. Começou a escrever no quadro-negro e os meninos copiavam o que a professora escrevia. Comecei a copiar também. Depois que escreveu tudo, ela começou a falar o que havia escrito, enquanto todos copiavam. Eu também. De tão concentrado que estava em meus escritos, não reparei que a voz dela foi ficando mais alta, mais alta até que a meu lado a vista se fez de um vestido azul-claro. – “O que temos aqui? Um novo aluno? Você é muito novo, tem quantos anos?” disse a professora me olhando bem de perto. Fiquei sem palavras. Abaixei a cabeça. Ela estendeu a mão e pegou meus escritos. “-Voce tem uma letra bonita e escreveu tudo certinho. Quem te ensinou a ler e escrever?” Sem olhar para a professora, respondi baixinho: “ Mamãe.”

-“E ela sabe que você está aqui?” “Não”. – “É o filho do Sô Afonso e da Dona Marelena, professora,” disseram quase ao mesmo tempo alguns alunos.

“Ah! Sei... Voce pode ficar até acabar de copiar.” A professora olhou pra mim e não disse mais nada.
Saiu da sala. Num instantinho, lá estava a Alice, preocupada e muito brava. “Cê é doido, menino, sumir assim, sem falá nada... já te procurei pelo Brumado todo... Sua mãe tá doida atrás docê.” Completou me puxando pelo braço, sala afora. Cheguei em casa,  minha mãe não esperou nada e tome palmada e castigo. Filha de Dona Isaura, agia como filha de Dona Isaura. E tome mais palmadas. –“Vou falar com seu pai, você vai ver...”  Nem prestei atenção aos xingamentos, nem na ardência de minhas pernas e bunda, com tanta palmada. Enquanto ela xingava e me dava os tapas, eu ficava falando do Grupo, da aula, da professora, tentava mostrar meus escritos, meu primeiro dever de aula... Eu estava super excitado com minhas novas experiências. Aquela noite custei a pegar no sono.
Dia seguinte, o Ciro, meu amigo mais chegado, me chamou para ir à sua casa ver os cachorrinhos que nasceram naquela noite. Ciro era meu melhor amigo e a familia dele morava numa casa perto da nossa. De lá escutei a Alice me berrando pra vir pra casa tomar banho pra almoçar. Demorei ainda mais um pouco e voltei. Entrei pela cozinha e, como sempre fui beliscando as comidas, um pedaço de mandioca, uma linguicinha e outras gostosuras. Ao chegar na sala escutei uma voz diferente. Parei. Escutei mais um pouco. Era mamãe e uma outra voz de mulher. "Conheço aquela voz," pensei... E a voz continuava a falar :
" ...ele ficou lá, sentadinho, copiando e prestando uma atenção danada... Me deu uma pena danada, D.Marelena, de mandar ele embora... E olha que ele não errou nada da lição. Copiou tudo certinho, do jeito que eu escrevi no quadro-negro..."
“É, ele é muito esperto, mesmo. Já sabe ler. E só tem 5 anos, sabe. Lê de tudo. Agora ele quer que o pai dele leve ele pra Fábrica, para aprender a mexer nas maquinas, nos teares... Vê se pode... "
" D.Marelena, que qui a senhora acha de deixar ele ir pra aula? A Alice leva, eu ponho ele na primeira mesinha, e depois da aula a Alice vai lá e busca... Olha, eu trouxe aqui um caderno, lapis e borracha e um livro de história para ele ir lendo. Conversa com Sô Afonso e quem sabe né... manda ele amanhã lá no Grupo. Deixa que nós vamos cuidar bem dele. "
"Tá bom D.Veza, vou falar com o pai dele e amanhã, quem sabe, ele vai. Muito obrigado a Sra.. A Sra. não quer mesmo ficar pro almoço? "
"Brigado, D.Marelena. Fica pra outra vez. Bom dia."
É claro que o dialogo que reproduzi acima não é fiel ao que aconteceu, pois lá se vão 55 anos. Mas o sentido é o mesmo e vocês pode tê-lo como autêntico. Foi ali que fiquei sabendo o nome da dona da voz: D.Veza - ela que seria minha primeira professora. Minha mãe me encontrou na cozinha, depois da saída da D.Veza e viu que eu tinha escutado tudo. “- E aí, quer ir pro Grupo amanhã? D. Veza disse que pode... Olha o que ela trouxe para você...” e me entregou o material. Acho que não respondi nada. Não precisava. O brilho dos meus olhos dizia tudo. Peguei o livro de historias, fui para a varanda e deitei na rede. Mamãe parou do lado e ficou olhando para mim... Seus olhos marejavam. Eu que só tinha olhos para o livro, olhei para ela e vi uma lagrima que insistia em sair e descer rosto-abaixo. Ela sabia que naquele dia se abria para mim uma porta grande a um mundo novo, do qual ela já havia me falado antes. Mas só ela sabia o quanto esta porta e o quanto este novo mundo seriam importantes....

Para mim, aquele mundo dos livros era feito de fantasias e aventuras que preenchiam minha imaginação...
Até hoje.
 

 Rodrigo Guimarães Pena

sexta-feira, 29 de março de 2013

5 anos da morte de Isabela

Há 5 anos, num 29 de março, acontecia uma tragédia, um horror. Muitos dirão que é fato normal, que acontece com frequência. Mas me repulsa pensar assim. Temos que cultuar, para não permitir, para reparar antes, para que possamos nos considerar civilizados.

Para Isabela e (lamentavelmente) muitas outras crianças...
Rodrigo Guimarães Pena

Manchete estampa de horror nossa tela :
Por que(m) matou-se Isabela?

Esvai-se, é a vida.
Fatídico, é o acesso...
Matar é a saída?
Elimina o problema,
A irritação, o cansaço,
E o que eu faço, simplesmente eu faço,
Nem penso, nem meço?

Quiçá foi tino moldado-insano,
Curtido em reverso, faz ano,
Fazendo a mente entorpecida
Exibir  seu perverso,

Toda sua perfídia
Todo o seu mal profano?

Qual feroz animal
Investiria com fúria
Sobre a cria,
Despejaria ira
Forjaria dor
Esmagaria o amor,
Poria um atroz final
Na vida que criara um dia?

Quem perpetuaria tal ato,
Perpassando a armadura da tela,
Atirando sem rumo ao espaço
O amor paterno, o mais  tenro abraço,
Pra também deixar, no chão, em pedaços,
O laço sagrado do sangue ?

Pois este cometeu de todos
O maior engano:
Rompeu, com seu ato,

A sagrada sequência da espécie,
Rescindiu, em falso lhano,

O eterno contrato
A que toda paternidade obedece,


Nasceu neste ser, a besta,
O maldito que se expurga com a prece
Que arresta o que resta de amor
E o transforma em ódio e rancor,
E em seguida apodrece...

Morreu neste ser, sua alma

Sem que nele causasse mais dano,
Morreu neste ser
A centelha que brilha,
O amor de um pai por sua filha,

Morreu neste ser
A parte que o faz racional
E que o Criador, por essencial,
Deu de Si ao humano...

segunda-feira, 25 de março de 2013

Meu pai...

 
 
Domingo, eu estava almoçando, sozinho. Tomava uma taça de vinho. Como sempre faço quando almoço ou janto. Enquanto mastigava a comida, também mastigava pensamentos. Sempre isso. De repente quando fui passar o guardanapo na boca, nao me senti eu mesmo. Era como se o meu pai estivesse fazendo isso por mim. Era como se ele estivesse usando as minhas mãos, a minha boca e quase todos os meus pensamentos. Era ele em mim. Exatamente como ele passava: o guardanapo bem encolhido entre os dedos e deslizando sobre lábios contraídos - um amigo me disse uma vez quando lhe contei sobre meu pai ter morrido.

"O meu pai também morreu, mas sinto como se ele morasse, vivesse em mim". Na época nao dei muita importância aquilo, mas num domingo que se esparramava pelo asfalto, enquanto eu almoçava pude sentir isso bem. Exatamente assim, como se eu fosse apenas uma morada dele. Um corpo emprestado a ele. Pra não desabar, pensei: "pai, já que o senhor é que esta almoçando, se deliciando, no meu lugar...depois, por favor, aproveite e pague a conta, ok? Sorri e voltei a comer. Agora eu era eu mesmo de novo. Mas, na verdade, quem sou eu?

(Reynaldo Bessa)

segunda-feira, 18 de março de 2013

Diadorim, num era...


( Riobaldo, lamuria com um amigo, logo após o fato lastimoso)

 

“Diadorim morreu.

Foi guerra feia, guerra de jagunço doido. Eu tô aqui, vivo. Antes tivesse morrido, diacho!  Nós tavo guerreando em outras banda quando me acontaram. Me deu um tonto na hora. Branquiçô tudo... Me alembrei de tê preguntado pra Diadorim, nas véspa da noite: -Diadorim, tu num acha que todo mundo é doido? Que um só deixa de doido sê é em hora de muita corage, na hora dos coito ou das reza?

 E Diadorim me arrespondeu :

-A gente só deixa de ser doido é nas hora da morte...

Ô trem doido, sô... As lembrança me avem num desespero danado... Berrei até...

-Ai!  Jesus, Jesus, num faz isto, Jesus, num leva Diadorim, Jesus... Diadorim dos buritizar, levado de verde, Diadorim do ouro em frô..

Mai lá no chão duro, cuberto por um pedaço de pano véio, táva o corpo ensangüentado de Diadorim. O seu rosto... du´a beleza que permanecia, mais do que impossivelmente, memo com um pó da palidez, feito coisa de máscra... Os óios, temando em ficá aberto... É ficado assim pra gente num acreditar no que via.  A boca tá seca, os cabelo cheio de sangue apegado nes...

Digo aqui pra mim, assim:  -Num foi, num foi, num é, num fica sendo, Diadorim...

U´a muié levanta o pano e diz : - À Deus dada, a pobrezinha...

-O quê? Pobrezinha? Estarreci na hora...

 Era Diadorim e num era? Era Diadorim no corpo du´a muié.

 As dor não pôde maior do que a surpresa... Foi como um coice de arma atirada, ou coronhada de quina na cabeça... Ele era ela.

Levantei as mão pra me abenzer e... tapei foi um soluçá sem fim.

Enxuguei as lagrima maior. Curvei de dor...

Diadorim, num era home... Diadorim, era muié.

Muié como sór que quenta tudo ou como água que esfria os calor do sór.

Caí de jueio, baxei meus óios e recaí no mercê de sofrer.

Estendi as mão para tocar naquele corpo... e estremeci.

Retirei de vorta, rápido, quais que me incendiando.

Chorei por extenso... e  dei aviso enfezado:

-Enterra este separado dos outro, num aliso de vereda verde, adonde ninguém nunca ache, gritei bem arto...  A muié vortô, recobriu as parte.

Num impurso, bejei os oio, as face... e me acabei na boca. Carinhei os cabelo, cortado rente com tesoura de prata. Haveram de ser cumprido um dia, de dá pra baixo das cintura. Me alevantei pra despedir. Mai num soube o qui dizê e de que nome chamá. Então meus ouvido escutô minha voz dizendo baxinho, de tanta que era a dor:

- Meu amor, ocê num é doida mais; mas eu endoideci pra dois...”