segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Poema sobre Guimarães Rosa, classificado no concurso da SOBRAMES - Sociedade Brasileira dos Médicos Escritores





O fio do SeuFulô, lá do Códesburgo...

Chico Pena

Meus amigo, ocêis num se alembra, pruquê ocêis tudo é mucho novo...

Mai foi num dia 27 de juin de mili-novicenz-e-ôto, dia de sábo, um sábo carqué,

pregunta o povo intero, sábo de arraiár, fuguete e buscapé...

Dia de forgá da lida, da peleja do trabaiadô...

Mai num pensava assim o meu Cumpadre, o SeuFulô... Pra ele, era inspeciár o dia.

Dia de cruzá os dêdo, daquêis de fazê vigia...

Lá de dento da mudesta moradia, vinha uns grito arto... Eita!! Arguém gemia...

Chiquitinha, sua muié, cumpanhêra de luta e fé, num insforço aderradêro,

(tá certo, foi num berrêro), mas sem ajuda deinfermêra, pariu com dor, de vezada,

depositando a barrigada, nos braço da fiér Partêra, (que chegô lá na sextafêra...

Deus-do-Céu, que trabaiêra!).

Té quinfim, pensô SeuFulô. Dos seus fio, o premero.

Na cama o risurtado inda chorava, quando o Fulô em repentino, adentrou os quarto, em pranto: mai deu sunriso largo, ao vê quiera menino:

-Vai se achamá João, cumpretô de supetão, assustando as cumadre que tava ali assistino a parição. E deu pro resurvido o pobrema.

...e de noite, lá no bar do Zé Muchiba, sem ligá pros das intriga, nem pros sordado da guarnição, bebeu tudo e gritou arto, pra alertar os forte ou fraco, que pudéss aparincê na região: -É Fio-home, é cabra-macho, saco-rôcho e pirocão...

E fez questão de dá pros santo, moiada da mió cachaça comprada nas banda do riberão:

-Que é pra assegurar distino, falô e tomô o resto da branca de arrancada...

Forte e branquélo era o rebento. Dozóio craro, risadatôa... Pesar dum pôco resmunguento, mamou logo nos petcho. Vida danada da boa.

E porpôco já corria, já brincava, gritava de dexá surdo,

no quintár ou casa adento, alegrando as vizinhança, na piquena Códesburgo.

Lá cresceu e sinstudô, até que da famia siapartô, e siamudô pra capitár, (pra ser dôtô, uai!!). E da vida levô sorte. O moço arto e forte, casô, virô doto (do mió porte), e escrivinhador das istóra do sertão. Mai isso eu conto adispôs...

Tutaméia, sô! Chega de proseá. Tô no atrazo. Eu e um cumpadre temo que carreá uns boi, e ele deva tá mesperando... Cês num viu puraí o Cumpadre Manerzão?

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

.. produto da China que ainda não chegou ao Brasil... "Ex-diretor da China Mobile é condenado à morte por aceitar suborno".

Site Terra
31 de agosto de 2011 • 00h30 • atualizado às 01h18

Li Hua, ex-presidente da China Mobile na região de Sichuan, região sudoeste da China, foi condenado à morte - a pena pode ser comutada por cadeia perpétua - pelo Tribunal Popular da cidade de Panzhihua, informou a agência Xinhua nesta quarta-feira. Esta sentença, que habitualmente é trocada por cadeia perpétua se o acusado tiver bom comportamento nos dois anos seguintes, condena Li por aceitar subornos no valor de 16,48 milhões de iuanes (US$ 2,58 milhões) e tráfico de influência. O fato de o acusado ter se entregado e devolvido o dinheiro procedente dos subornos não serviu como atenuante.

Fontes da China Mobile consultadas pela agência EFE se recusaram a avaliar o caso de "um trabalhador que já não pertence à companhia e que, portanto, não conserva nenhum vínculo com a China Mobile".

Esta condenação se soma às do ex-subdiretor-geral da companhia, Zhang Chunjiang, e do também diretor Shi Wanzhong, condenados nos mesmos termos este ano.

Comentário : podem falar mal dos produtos da China, mas em algumas "tecnologias" eles são invejáveis...

sábado, 20 de agosto de 2011

Será que um dia seremos como os japoneses ?

Ruth de Aquino, ÉPOCA

O dinheiro e as barras de ouro estavam em cofres e carteiras de vítimas do tsunami no Japão. Em casas e empresas destruídas. Nas ruas, entre escombros e lixo. Ao todo, o equivalente a R$ 125 milhões. Dinheiro achado não tem dono. Certo?

Para centenas ou milhares de japoneses que entregaram o que encontraram à polícia, a máxima de sua vida é outra: não fico com o que não é meu. E em quem eles confiaram? Na polícia, que localizou as pessoas em abrigos ou na casa de parentes e já conseguiu devolver 96% do dinheiro.

A reportagem foi do correspondente da TV Globo na Ásia, Roberto Kovalick. A história encantou. “Você viu o que os japoneses fizeram?” Natural a surpresa. Num país como o Brasil, onde a verba destinada às inundações na serra do Rio de Janeiro vai para o bolso de prefeitos, secretários e empresários, em vez de ajudar as vítimas que perderam tudo, esse exemplo de cidadania parece um conto de fadas.

O que aconteceu em Teresópolis e Nova Friburgo não foi um mero e imoral desvio de dinheiro público. Foi covardia.

Político japonês não é santo. Mas digamos que, em alguns países, os valores da população são menos complacentes do que em nosso cordial patropi.

E a impunidade não é regra.

Em que instante a nossa malandragem deixa de ser folclórica e cultural e passa a ser crime de desonestidade?

Por que a lei de tirar vantagem em tudo está incrustada na mente de tantos brasileiros, a tal ponto que os honestos passam a ser otários porque o mundo seria dos espertos?

Será que um dia seremos todos japoneses?


terça-feira, 19 de julho de 2011

... e 32 anos se passaram...




Outro dia mesmo estávamos nervosos à beira do altar, com um padre mais nervoso que a gente. Falava sem parar. Disse a ele baixinho : se o senhor não acabar com isto agora eu vou embora e deixar o senhor falando sozinho.

Ele se apavorou mais ainda e terminou seu discurso, "sem pé nem cabeça" como me disse meu pai logo depois. Hoje entendo quando me dizem : "Vamos fazer uma cerimônia simples..."
Sinceramente não repetiria a dose. É um teatro com atores despreparados para atuar na peça.
De toda forma, ficam as lembranças e hoje os casos e os risos.
32 anos de muita luta. Não foi fácil chegar até aqui. E não há nada que nos prepare para esta aventura. Mas não há arrependimentos. Bem talvez haja em alguns momentos mas passam logo.
Agora filhos "quase criados" ( se é que isto exista) esperamos curtir um pouco a melhor idade.
A sabedoria é o balsamo para tudo e a melhor descoberta desta idade. Vamos aproveitá-la e fazer tudo que "dê na telha".
Tenho pensado em me candidatar a vereador, a dar aulas, a mudar para uma praia, escrever um livro, montar um negócio, aplicar na bolsa( nunca mexi com bolsa)... sei lá.
Mas parado não vou ficar.
Se tiver mais tempo vou aprontar alguma.
Saravá!!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

...e mais fotos...

Os professores, doutores em Literatura que selecionaram os trabalhos.
Adicionar imagem

Mais fotos...

Nosotros.

Continuam as fotos...

No palco, nosotros, los agraciados de la noche.
A plateia, como sempre acontece nestas premiações, repleta. Tive noticia de longas filas e, para ser franco, algum tumulto, pois não foram todos que lograram entrar.

Chegaram as fotos da premiação do 2o. Concurso de Contos da FUMEC

Primeiro, o dono da casa.
O Magnifico Reitor da FUMEC, professor Antônio Loures discursa, enaltecendo a Literatura, os agraciados da noite e garantindo a perenidade do Concurso nos anos vindouros.

domingo, 26 de junho de 2011

Foto do evento da FUMEC

Por enquanto é só esta, pois o setor de comunicação da Fumec ainda não disponibilizou as fotos oficiais. Peguei esta emprestada do Blog do tambem premiado David Nordon, de São Paulo.

Eu estou à esquerda, de terno e o David é o primeiro à direita de blusa preta.

domingo, 19 de junho de 2011

Outras mulheres que inspiraram músicas

As mulheres de Dorival Caymmi: Marina, Rosa, Dora

Marina, a invenção
"Marina, morena, Marina, você se pintou
Marina, você faça tudo, mas faça um favor
Não pinte esse rosto moreno
Que eu gosto e que é só meu
Marina você já é bonita com o que Deus lhe deu..."
Dorival Caymmi

A morena 'Marina' nunca existiu. A letra da música começou de trás para frente, porque Dori, filho de Caymmi, quando era pequenininho tinha mania de dizer 'Tô de mal com você'. Para justificar a frase, Caymmi criou a história da moça que se pinta contra a vontade de seu amor. "Papai é muito surrealista. O nome de mulher entra para a rima", diz a cantora Nanna Caymmi, filha mais velha do compositor. No caso, Marina combina com Morena.

Assista aqui :

http://www.youtube.com/watch?v=enUx5DMiFU8


Rosa, a flor e a menina
"Nada como ser Rosa na vida
Rosa mesmo ou mesmo Rosa mulher
Todos querem muito bem a Rosa
Quero eu e todo mundo também quer..."
Dorival Caymmi

"Nem todas as músicas são feitas para alguém, mas pode acontecer", diz Dorival Caymmi. É o caso de Rosa, da canção "Das Rosas". Antes de criar a personagem o compositor estava em Portugal e passou por uma estrada em que "tudo era roseira, uma coisa linda". "Parei o automóvel e fui ver as rosas no campo. Há uma fotografia em que estou no meio das roseiras e atrás tem uma pastora tocando um porco com a varinha", conta ele. Já pensando em escrever sobre o tema, foi visitar seu pai na Bahia e havia uma empregada nova na casa. "Era uma menina querida, mocinha. Papai era um senhor de 80 anos e ela cuidava dele. Ele me disse: 'Essa é minha babá'. Como é o nome dela?, perguntei, e ele disse: 'Rosa'. Aí, fiz uma brincadeira que deu no seguinte: Nada como ser rosa na vida, rosa mesmo, ou mesmo rosa mulher...'", cantarola ele. A menina Rosa nunca soube que foi musa. "Nem ia entender, coitadinha. Era uma jovenzinha, nem sabia que eu tinha essa profissão."

Assista aqui (ou melhor, ouça, já que não achei nenhum video de alguem cantando ao vivo esta linda musica) na voz de Dalva de Oliveira (se vc não tiver mais de 60 não vai saber quem é).

http://www.youtube.com/watch?v=5pWCIHixXVg&feature=related


Dora, a dançarina desconhecida

"...Dora, rainha do frevo e do maracatu
ninguém requebra nem dança melhor do que tu..."
Dorival Caymmi

Em uma noite de 1942, um bloco de frevo passou em frente ao hotel em que Caymmi estava hospedado, em Recife. "Veio aquele grupo cantando, tocando, e na frente uma passista que dançava muito bem. Olhei para ela e achei um nome: Dora. Aí, comecei: 'Dora rainha do frevo e do maracatu...'" , canta Caymmi, nostálgico. "Era uma hora da manhã."

Assista aqui (ou ouça) o original gravado por Caymmi em 1960 :


http://www.youtube.com/watch?v=X9CZawyrTgI&feature=related


Outras musas:

Amélia, a lavadeira
"...Ai, meu Deus que saudades da Amélia
Aquilo, sim, é que era mulher
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer (...)
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade..."
Mario Lago e Ataulfo Alves

O samba "Ai Que Saudades da Amélia!", de Mario Lago e Ataulfo Alves, nasceu de uma brincadeira de Almeidinha, irmão da cantora Araci da Almeida. Sempre que se falava em mulher ele dizia: 'Amélia é que era mulher, Amélia é que lavava, passava...'. "Entrei na brincadeira, acrescentando verbos: bordava, chuleava, tricotava... Até que pensei: 'Isso dá samba'. Veio aí uma figura de mulher", conta Mario Lago. Mas a Amélia de verdade foi descoberta pela revista "O Cruzeiro". Era uma ex-lavadeira da família de Araci de Almeida. Uma mulher do subúrbio do Rio de Janeiro, que sustentava sozinha oito filhos. Mario Lago não chegou a conhecê-la. "Amélia é qualquer pessoa apaixonada, seja homem ou mulher", diz.

Assista aqui, com João Gilberto:

http://www.youtube.com/watch?v=MnZcZxX-ltE

Madalena, a Vera Regina

"Oh, Madalena, o meu peito percebeu
Que o mar é uma gota
Comparado ao pranto meu (...)
Até a lua
Se arrisca num palpite
Que o nosso amor existe
Forte, fraco, alegre ou triste..."
Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza

Em 1970, o compositor Ronaldo Monteiro de Souza, parceiro de Ivan Lins na música "Madalena", tinha terminado o namoro de três anos com da carioca Vera Regina. Chateado, foi até o bar Cabral 1500, em Copacabana. "Naquela época a avenida Atlântica só tinha uma pista, o mar quebrava pertinho da calçada. Daí tirei a idéia de que 'o mar era uma gota, comparado ao pranto meu'. Escrevi a letra em um guardanapo com a caneta do garçom. Não tive coragem de escrever Vera Regina, Madalena foi o primeiro nome que me ocorreu", conta. O namoro acabou de vez, a música virou hit com Elis Regina. Anos depois, Vera Regina soube da homenagem. "Não sei como ela soube, mas tínhamos amigos em comum. Hoje estou casado com Soraya, minha inspiração é outra", diz o compositor.

Assista aqui :

http://www.youtube.com/watch?v=OIYHQuqKf0U&feature=related


Dinorah, a bailarina surda e muda

"Quando a turma se reunia
Alguém sempre pedia
Ah, Dinorah, Dinorah
E o malandro descrevia
E logo já se via
Ah, Dinorah, Dinorah..."
Ivan Lins e Vitor Martins

A história de uma bailarina surda e muda, contada por um típico malandro carioca, inspirou Vitor Martins, parceiro de Ivan Lins, a compor 'Dinorah'. "Eu tinha recebido a melodia do Ivan com apenas uma frase: 'Ah, Dinorah'. Achei que Dinorah tinha de ser uma mulher muito especial e passei dias tentando desenvolver um tema", conta Martins. Até que ele e Ivan entraram em uma pastelaria no Rio de Janeiro, e deram com o malandro falando da incrível bailarina. "Parecia ser uma mulher especial. Mas logo senti que o cara era um tremendo mentiroso e, quando chegava naquela roda, pediam: 'Conta aquela'. Só que ele descrevia a mulher com tanta verdade, falando alto, que parecia que ela existia", conta. Assim saiu a letra: Quando a turma se reunia, alguém sempre pedia...'

Assista Ivan e João Bosco em Cuba :


http://www.youtube.com/watch?v=fSt-Ry8d3iI&feature=related


Luiza e Dindi, o vento e a montanha

"... Vem cá, Luiza me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol..."
Tom Jobim

"... Ah, Dindi, se um dia você for embora, me leva contigo Dindi
Fica, Dindi
Olha, Dindi..."
Tom Jobim e Aloysio de Oliveira

Luiza era um dos nomes preferidos de Tom Jobim. "Ele dizia que parecia que tinha um vento nesse nome", diz Manoel Malaguti, cunhado do compositor. Dindi vem de Dirindi, nome de um morro próximo ao sítio de Tom, em Poço Fundo. "Ele via o rio passar, roncando nas pedras, as águas espumaradas. Aquele ruído o apaziguava. Na outra margem, começava o pasto que ia dar no morro do Dirindi. 'Dindi' não era, como muitos pensavam, um nome de mulher. Mas sim toda aquela vasta natureza e seus segredos", narra Helena Jobim, irmã de Tom, no livro "Antonio Carlos Jobim, Um Homem Iluminado" [Ed. Nova Fronteira].

Assista aqui Tom Jobim no Japão em 1987 cantando as duas musicas :

http://www.youtube.com/watch?v=zJbTXUM8hjg


Beatriz e Cecília, a sonoridade

"... Ah, me leve para sempre Beatriz
Me ensine a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz..."
"Beatriz", em parceria com Milton Nascimento, surgiu de um jogo palavras - "Be" atriz [ser atriz, em inglês], tema da canção
Chico Buarque e Milton Nascimento

Ouça aqui :

http://www.youtube.com/watch?v=ijslD3bfsbk&feature=related

"...Me escutas, Cecília?
Mas eu te chamava em silêncio
Na tua presença
Palavras são brutas
Pode ser que, entreabertos
Meus lábios de leve
Tremessem por ti..."
Cecília, do disco mais recente [1998], também não é real. Chico procurava um nome que sibilasse ao ser pronunciado e Cecília lhe pareceu perfeito.
Chico Buarque e Luiz Cláudio Ramos

Assista :

http://www.youtube.com/watch?v=DTfpXJeofOg


As mulheres das canções de Chico Buarque são um mistério. Nada consta sobre uma "Carolina" de olhos fundos, abaixo interpretada por Caetano :

http://www.youtube.com/watch?v=ijCwWsG_IBg


ou alguma "Bárbara" que falasse demais. .

Assista aqui com Betânia :

http://www.youtube.com/watch?v=YjFSOrjNv20&feature=related


Sozinha, a filha adolescente

"Às vezes no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordada, pensando
No antes, no agora e o depois
Por que você me deixa tão solta?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinha..."
Peninha

O hit "Sozinho", sucesso na voz de Caetano Veloso em 1999, nasceu com alma feminina. O compositor Peninha escreveu a letra inspirado na filha, Clariana Alves, quando ela tinha 14 anos e estava sofrendo por um namorado que a deixava muito só. "Um dia, sem querer, escutei uma conversa dela com ele ao telefone. Eu estava com o violão e fiz a música, baseado na solidão que ela estava sentindo. A letra tem as palavras e a alma dela. Tanto que pensei que tinha feito uma canção para adolescentes. Acho que a música pegou tanto por causa dessa pureza de sentimentos", diz Peninha. A canção 'Sozinha' foi gravada pela primeira vez por Sandra de Sá, em 1995. Hoje, Clariana, com 29 anos, e foi musa passado, quando Peninha conta a história da canção em entrevistas, por causa da gravação de Caetano, diz : "Antes disso, meu pai sempre dizia que essa música era a 'minha cara'. Eu ficava brava, achava que ele estava tentando me dizer que meu relacionamento era ruim. Hoje vejo que ele passou na letra uma preocupação comigo", diz Clariana. A música acabou embalando o "namoro ioiô", que começou na adolescência e, entre idas e vindas, durou mais de cinco anos. "Sempre que brigávamos, meu namorado punha a música e me dizia: 'Pense bem'. Uma vez terminamos, ele foi à minha casa e colocou o CD do Caetano no 'repeat'. Ouvi a música a noite inteira e acabei voltando. Até hoje, toda vez que ele ouve a música, me liga. Nossos amigos chamam ele de 'Sozinho'. Ele sempre fala que, se a gente não casar, eu vou estar velhinha e me lembrar dele toda vez que ouvir essa música. Pior é que vou. Nem que eu queira esquecer, vou conseguir.", reclama ela, com um olhar de acusação para o pai. Peninha se defende: 'A música surtiu o efeito contrário...'.

Assista aqui com Caetano :

http://www.youtube.com/watch?v=wb4RauhteFA

ANNA JULIA de Los Hermanos

Cupido nas paradas

Quando escreveu uma música para ajudar um amigo a conquistar uma garota da faculdade, Marcelo Camelo, vocalista da banda carioca Los Hermanos, não tinha idéia de que o nome da menina estaria, algum tempo depois, na boca do país inteiro. Como numa comédia romântica, Alex Werner (o amigo tímido e produtor da banda) e Anna Júlia Werneck (a garota insensível) se encontraram e se desencontraram por mais de um ano. Enquanto isso, a balada ingênua levou o CD de estréia do Los Hermanos a alcançar o disco de platina.

"É uma canção sobre o amor de quem contempla, o amor do observador", explica Camelo. O sucesso da música pegou a banda de surpresa -a princípio, ela não seria gravada. A homenagem também surpreendeu Anna Júlia. Aos 21 anos, a estudante de Jornalismo diz que é uma garota comum, como tantas: "Não sou uma unanimidade".

Anna Júlia "Conheci o Alex na faculdade. Ele fazia Direito e eu, Jornalismo. Achei ele gatinho e fui conversar, mas a gente acabou não ficando porque ele era tímido. Eu tentava conversar e ele ficava nervoso. Foi passando o tempo e, de vez em quando, ele mandava recados pelos meus amigos. Eu nunca tinha falado com ele direito, então a gente se cruzava na faculdade e não parava para conversar. Era uma situação chata.

No final de 98, eu fui para a Europa de férias. No dia da viagem, ele apareceu na minha casa e me levou uma flor. Achei muito bonitinho. Mas ele chegou quatro horas antes de eu ir para o aeroporto e eu ainda não tinha feito as malas... Foi nessa época que um amigo me disse que os garotos da banda tinham feito uma música para mim. Pensei que ia ser algo me xingando, do tipo 'Ô, garota, se toca! Deixa de ser besta e fala com meu amigo!'.

Começaram as aulas e encontrei o Alex com o Barba [baterista do Los Hermanos] numa festinha. Barba me convidou para o show seguinte da banda. Eu disse que não dava, já sabendo que iria. No meio do show, escuto o Marcelo falando: 'Anna Júlia, esta música é para você!'. O lugar estava muito cheio e a acústica não era boa, entendi muito pouco da letra. Eu ouvia 'Anna Júlia, Anna Júlia' e ria nervosa. Pelo menos fiquei sabendo que não estavam me esculachando.

Quando o show acabou, fui agradecer, mas não falei mais do que isso com o Alex. Nunca conseguimos conversar direito. Sempre acontecia alguma coisa para atrapalhar. Até o dia em que ele me ligou, dizendo que queria me ver. Foi em casa, supernervoso. Finalmente, acabamos ficando. Foi a única vez.

A gravadora escolheu 'Anna Júlia' como música de trabalho do disco. Eles me perguntaram se eu via algum problema. Achei legal. Mas achava que podia dar azar, pois meu nome é estranho. Não conheço muitas Annas Júlias. Era o nome de uma amiga da minha mãe, que é Anna Lia.

Um dia, o Alex me trouxe o single na faculdade. Você não tem noção do tamanho do negócio até ver seu nome na capa do disco. Em casa, quando pus para tocar, a voz do Marcelo era tão doce que comecei a chorar. Acho que a letra tem bastante o lado do Alex, fala mais do que ele via em mim. Na primeira vez em que ouvi a música no rádio, a locutora disse: 'Anna Júlia, o que você fez?'. E eu pensando: 'Nossa! Esta sou eu!'."

Anna Júlia
Quem te vê passar assim por mim/
Não sabe o que é sofrer/ Ter que ver você assim/ Sempre tão linda/ Contemplar o sol do teu olhar/ Perder você no ar/ Na certeza do amor/
Me achar um nada/ Pois sem ter teu carinho/
Eu me sinto sozinho/ Eu me afogo em solidão/ Oh Anna Júlia!
Marcelo Camelo

Assista aqui :

http://www.youtube.com/watch?v=-PArDXQX-4M&feature=related

Ou em ingles com Jim Capaldi :

http://www.youtube.com/watch?v=vIsdUa9uN40&feature=related

YOLANDA de Pablo Milanés

Uma declaração de amor

O compositor cubano Pablo Milanés precisou se ausentar de Havana logo depois do nascimento da primeira filha, Linn. Comovido com a paternidade e apaixonado pela mulher, Yolanda Benet, ele voltou para casa com a letra e a melodia de uma explícita declaração de amor na bagagem. Era "Yolanda", um dos maiores sucessos de sua carreira.

Eles tiveram três filhas, em um casamento que durou cinco anos. A canção teve vida longa. Desde 1970, a música ganhou interpretações em vários países. No Brasil, a versão é de Chico Buarque e foi gravada primeiro por Simone no disco "Desejos", de 1984. "Já regravei 'Iolanda' seis vezes e não posso deixar de cantar nos meus shows. Acho que todo mundo gostaria de ser ela ou ouvir de alguém o que diz a música", afirma Simone.

É com orgulho que Yolanda, hoje uma alegre e falante avó de quatro netos, se lembra daquele tempo. Separada pela segunda vez, mora em Havana e escreve um romance baseado nos conflitos entre um cubano que ficou na ilha e outro que emigrou para os Estados Unidos.

Yolanda Benet "Conheci Pablo na casa de um amigo comum, em Havana. Eu tinha 23 anos e era continuísta de cinema. Casualmente, três dias depois começamos a trabalhar juntos em um filme e nos apaixonamos. Pablo compôs 'Yolanda' quando nossa primeira filha tinha dez dias. Ficou chateado por ter de viajar. Quando regressou, trouxe a canção. Eu estava com Linn nos braços, dando-lhe o peito, e ele me disse: 'Olha o que fiz para você'. Pegou o violão e cantou 'Yolanda'. É uma sensação inesquecível. Não posso traduzir a emoção que até hoje sinto quando me recordo dessas coisas. Nunca houve momento mais importante em minha vida. Ali estava resumido tudo o que ele sentia, todo o amor que sentíamos um pelo outro. Foi muito emocionante.

Pensei que aquela canção era algo íntimo, que só eu poderia compreender o que Pablo estava dizendo. Mas parece que ele fez com tanto amor que todos são capazes de entender. É uma música que se canta no mundo inteiro. Ele já quis tirá-la do repertório e nunca conseguiu. É impressionante como as coisas do coração transcendem. Ao mesmo tempo, sinto que cada pedacinho da letra é um pedacinho do que vivemos. A letra é algo muito pessoal para mim, falar sobre ela é como falar de minha intimidade, até me incomoda.

Nunca deixei de ser amiga de Pablo. Entre nós nunca existiram rancores. Duas de nossas filhas são cantoras. Há pouco tempo cantaram a canção em um show com o pai, em duas vozes. Me acabei em lágrimas. Sempre me emociono com a música, sobretudo quando a cantam bem. Gosto da versão brasileira, de como Simone e Chico Buarque cantam. Vi Chico uma vez na casa de Pablo, mas não tive o prazer de conversar com ele. Fomos apresentados também em um hotel, em Varadero, mas ele não deve se lembrar. Estávamos em um grupo e pedi que não dissessem que eu era a Yolanda da música. Não gosto de usar isso como um título. Não sei explicar o sucesso de 'Yolanda', não me considero uma mulher especial. Sou uma pessoa comum."

Iolanda
Esta canção é mais que mais uma canção/
Quem dera fosse uma declaração de amor/ Romântica, sem perder a justa forma/
Do que me vem de forma assim tão caudalosa (...)/ Iolanda, Iolanda, eternamente Iolanda...
Pablo Milanés, versão de Chico Buarque

Assista aqui a original com Pablo e Chico:

http://www.youtube.com/watch?v=aNzL2KEgPlI

LYGIA de Tom e Chico...

O quase romance

Os olhos verdes da carioca Lygia Marina de Moraes são morenos na letra de "Lígia". Um disfarce da identidade da musa e da atração de Tom Jobim por ela. Tom e Lygia, professora de pré-primário de uma das filhas do compositor, se conheceram em 1968, no bar Veloso, em Ipanema. Nunca houve nada entre os dois, mas aquele encontro daria origem ao samba-canção gravado por Chico Buarque no LP "Sinal Fechado", em 1974. "O Tom vivia de olho nela", diz o jornalista Ruy Castro, que registrou o episódio no livro "Ela é Carioca" (Cia. das Letras).

Por muitos anos Tom negou que Lygia fosse sua musa, em respeito ao amigo Fernando Sabino, marido dela na época. Só em 1994, quando o casal se separou, ele admitiu a inspiração aos amigos. Hoje, aos 54 anos, Lygia mora sozinha e dirige o departamento cultural da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Ela recorda com orgulho os detalhes de seu caso jamais consumado com Tom Jobim.

Lygia Marina de Moraes "Conheci o Tom em uma tarde chuvosa. O bar Veloso estava vazio, era junho e fazia frio. Eu e uma amiga, Cecília, nos sentamos na varanda e vimos o Tom conversando com Paulo Góes [fotógrafo]. Os dois acabaram se sentando na nossa mesa. Quando contei ao Tom que era professora da sua filha Beth, ele teve um ataque de riso e disse: 'É a primeira vez que paquera vira reunião de pais e mestres!'. E eu babando: imagine, em 68, Tom era um dos homens mais lindos do Brasil.

Ele tinha que dar uma entrevista a Clarice Lispector para a 'Manchete', e convidou a mim e a Cecília para ir com ele. Fomos no fusquinha azul-claro do Tom. Eu usava uma saia de lã e um suéter de cashmere. Ao abrir a porta, Clarice fez cara de mau humor. Tom, abraçado comigo e com Cecília, disse: 'Trouxe minhas amigas'. Ela ficou mais furiosa quando pediu a Tom que fizesse um poema para ela, como Vinícius [de Moraes] teria feito em entrevista anterior, e ele disse: 'Não sou poeta, se tivesse um violão...'.

Mas aí pegou um bloco de papel-jornal e escreveu um poema para mim, que guardo até hoje: 'Teus olhos verdes são maiores que o mar/ Se um dia eu fosse tão forte quanto você/ Eu te desprezaria e viveria no espaço/ Ou talvez então eu te amasse/ Ai que saudades me dá/ Da vida que eu nunca tive', e assinou: A.C.J.

Saindo de lá, Tom me levou em casa. Nos despedimos no carro, com um beijinho no rosto. Fiquei nervosíssima, mas parou ali. Tom era casado... Aquela carona foi nosso único encontro a sós. A música fala de tudo o que não aconteceu: o cinema, o passeio na praia... Depois nos encontramos muitas vezes, mas sempre em grupo. Logo me casei com o cineasta Fernando Amaral e entrei para a turma. Vivi o auge de Ipanema.

Após quatro anos de casada e um filho, me separei. Depois me casei com o escritor Fernando Sabino. Em 1973, acho que Tom não sabia que eu estava casada com ele, e ligou para o Fernando pedindo meu telefone. Meu marido fez uma sacanagem: deu um número errado. Em seguida, ligou para o telefone que tinha dado e avisou: 'O Tom Jobim vai ligar aí procurando uma Lígia, mas o telefone é tal', e deu outro número errado. Os amigos ficaram sabendo dessa história, inclusive o Tom. Talvez daí tenha surgido a frase na música que fala do telefonema que foi engano.

Estava sozinha em casa quando ouvi no rádio o Chico cantando 'Lígia', pela primeira vez. Fui correndo comprar o disco. Na hora, me vi na letra. Ser homenageada já é maravilhoso, ainda mais pelo Tom, com uma música linda e sofisticada... É uma glória. Claro que a música rendeu comentários e Fernando ficou uma fera. Durante os 19 anos em que fui casada, Tom evitou o tema. Estivemos juntos em vários lugares, tipo réveillon na casa de Jorge Amado, eu com Fernando e Tom com Ana, sua segunda mulher. Mas ninguém falava nisso.

Um dia, Tom me encontrou por acaso na Cobal [sacolão e ponto de encontro] e falou: 'Está chegando minha musa!'. Foi a primeira vez que admitiu para mim. Até hoje, em cada boteco que entro tocam 'Lígia'. Faz parte do meu show. Fiquei imortal. Tenho quase todas as gravações de 'Lígia'. Existe até uma versão do João Gilberto em que, ao contrário da oficial, o romance acontece e Tom até se casa comigo. As pessoas me cobram o fato de nunca ter acontecido nada entre a gente. Mas será que não foi melhor ter ficado essa fantasia? Talvez tivesse de ser essa a história: eu virar musa, entrar em um restaurante e me lembrar do Tom, cheio de charme."

Lígia
Eu nunca sonhei com você/ Nunca fui ao cinema/
Não gosto de samba/ Não vou a Ipanema/
Não gosto de chuva/ Não gosto de sol/
E quando eu lhe telefonei/ Desliguei/
Foi engano/ O seu nome eu não sei/
Esqueci no piano/ As bobagens de amor/
Que eu iria dizer/ Não, Lígia, Lígia...
Tom Jobim
Assista aqui :

Linkhttp://www.youtube.com/watch?v=8TaMELDSkaM&feature=related

DRÃO de Gilberto Gil - Sempre quis saber o que significava ...

A melodia da separação

O apelido foi dado por Maria Bethânia. Drão vem do aumentativo de Sandra, a terceira mulher de Gilberto Gil. Ao virar título de um dos maiores sucessos do compositor, o apelido incomum sempre foi confundido com a palavra "grão". Sandra Gadelha desfaz o mal-entendido e se assume como inspiração dos versos densos, compostos em 1981, em plena separação do casal. Gil diz que foi bem difícil escrever a letra, uma poesia profunda e sutil do amor e do desamor. "Como é que eu vou passar tanta coisa numa canção só?", questiona-se Gil no livro "Gilberto Gil-Todas as Letras" (Cia. das Letras).

Os dois foram casados por 17 anos e tiveram três filhos: Pedro, Maria e Preta. Hoje, aos 53 anos, Sandra mora sozinha no Rio, sonha em montar uma pousada e se lembra com carinho da canção que marcou o fim de seu casamento. Por uma feliz coincidência, Sandra costuma ouvir sempre a "sua" música no rádio do carro. Uma emissora carioca parece estar programada para tocá-la todos os dias, às 11h. A ouvinte especial está sempre sintonizada.

Sandra Gadelha "Desde meus 14 anos, todo mundo em Salvador me chamava de Drão. Fui criada com Gal [Costa], morávamos na mesma rua. Sou irmã de Dedé, primeira mulher de Caetano. Nossa rua era o ponto de encontro da turma da Tropicália. Fui ao primeiro casamento de Gil. Depois conheci Nana Caymmi, sua segunda mulher. Nosso amor nasceu dessa amizade. Quando ele se separou de Nana, nos encontramos em um aniversário de Caetano, em São Paulo, e ele me pediu textualmente: 'Quer me namorar?'. Já tinha pedido outras vezes, mas eu levava na brincadeira. Dessa vez aceitei.

Engraçado que Gil mesmo não me chamava de Drão. Antes havia feito a música 'Sandra'. Já 'Drão' marcou mais. Estávamos separados havia poucos dias quando ele fez a canção. Ele tinha saído de casa, eu fiquei com as crianças. Um dia passou lá e me mostrou a letra. Achei belíssima. Mas era uma fase tumultuada, não prestei muita atenção. No dia seguinte ele voltou com o violão e cantou. Foi um momento de muita emoção para os dois.

Nos separamos de comum acordo. O amor tinha de ser transformado em outra coisa. E a música fala exatamente dessa mudança, de um tipo de amor que vive, morre e renasce de outra maneira. Nosso amor nunca morreu, até hoje somos muito amigos. Com o passar do tempo a música foi me emocionando mais, fui refletindo sobre a letra. A poesia é um deslumbre, está ali nossa história, a cama de tatame, que adorávamos. No começo do casamento moramos um tempo com Dedé e Caetano, em Salvador, e dormíamos em tatame. Durante o exílio, em Londres, tivemos de dormir em cama normal. Mas, no Brasil, só tirei o tatame quando engravidei da Preta e o médico me proibiu, pela dificuldade em me levantar.

A primeira vez em que ouvi 'Drão' depois que Pedro, nosso filho, morreu [num acidente de carro em 1990, aos 19 anos] foi quando me emocionei mais. Com a morte dele a música passou a me tocar profundamente, acho que por causa da parte: 'Os meninos são todos sãos'. Mas é uma música que ficou sendo de todos, mexe com todo mundo. Soube que a Preta, nossa filha, chora muito quando ouve 'Drão'. Eu não sabia disso, e percebi que a separação deve ter sido marcante para meus filhos também. As pessoas me dizem que é a melhor música do Gil. Djavan gravou, Caetano também. Fui ao show de Caetano e ele não conseguia cantar essa música porque se emocionava: de repente, todo mundo começou a chorar e a olhar para mim, me emocionei também. E, engraçado, Caetano é o único dos nossos amigos que me chama de Drinha."

Drão
Drão/ O amor da gente é como um grão/
Uma semente de ilusão/
Tem que morrer pra germinar (...)/
Quem poderá fazer/
Aquele amor morrer!/ Nossa caminha dura/
Cama de tatame/ Pela vida afora...
Gilberto Gil

Assista aqui :

http://www.youtube.com/watch?v=ONrfUkBEN6I&feature=related

sábado, 18 de junho de 2011

Mais detalhes do livro...

Saiu o resultado do Concurso de Contos 2011 da Universidade FUMEC

Bem, tenho dois filhos, plantei algumas árvores e faltava o livro.
Bom, não falta mais. E o melhor é que não precisei pagar para tê-lo. Melhor assim.
Na foto abaixo, a capa do livro. Uma antologia com os 8 contos premiados, listados em ordem alfabética. Depois vou postar fotos do evento que vão ser disponibilizadas pela Universidade.
Clique na foto para ampliar.

domingo, 29 de maio de 2011

Estragos e soluções

Por Luis Fernando Verissimo

Não se sabe qual é a, digamos, inclinação política do pênis. Ele é anatomicamente de centro, como todos os políticos na Itália, que se identificam como de "centrosinistra" ou de "centrodestra", nunca de sinistra ou de destra. O pênis é centrão assumido, mas de que tendência ninguém sabe. Ele ora pende para um lado, ora para outro.

Além de ser obviamente um falocrata, que se pudesse falar definiria sua posição como "sou mais eu", sua ideologia é desconhecida. Raramente é a do seu portador, em relação ao qual mantém uma evidente independência de pensamento e ação.

Há esquerdistas com pênis fascistas, conservadores com pênis sempre atrás de novas experiências sociais, liberais com pênis decididamente intervencionistas. O pênis é, por assim dizer, um livre atirador.

Pênis não tem dono. Ou, dito de outra maneira, não costuma levar em consideração a conveniência dos seus donos. E como a comunicação entre o homem e o seu pênis é precária, o pênis não ouve apelos à razão e não adianta pedir para ele ter uma consciência histórica, o resultado é o estrago que vem causando a carreiras e reputações através dos tempos. Sem querer nem saber.

Veja-se o caso recente do Strauss-Kahn e do seu pênis predador. Deve ter havido uma tentativa de diálogo entre Strauss-Kahn e seu pênis antes do ataque à camareira. Não é impossível que o ex-provável candidato a presidente do seu país tenha até invocado o futuro da Europa e do mundo para tentar deter o pênis. "Arretezpourla France!"

O pênis não teria dado ouvidos. Espera um pouquinho, esqueça esta frase. O pênis não teria ligado. E fora adiante, sem nenhum prurido patriótico. E SK está politicamente liquidado. Mais uma vítima do próprio pênis.

O que fazer para que coisas assim não se repitam? A primeira solução é radical: a castração como condição para o serviço público masculino e carreiras políticas. Para o pênis aprender.

A segunda solução seria a gradual substituição de homens por mulheres no poder, em todo o mundo. Uma solução que já está em curso. Os homens manteriam seu pênis, mas sem a possibilidade de causar mais estragos. E pronto.

sábado, 28 de maio de 2011

Um brasileiro honesto

Por Ruth de Aquino, colunista de ÉPOCA

Estava ali, na poltrona 13 do ônibus que faz a rota Friburgo-Rio. Um celular esquecido pelo passageiro. Entre a poltrona e o vidro, havia algo mais.

O motorista Joilson Chagas, de 31 anos, abriu o “pacote rústico” e tomou um susto. Nunca tinha visto tanto dinheiro junto: R$ 74.800. Não passou aos superiores.

“É tentador. Nessa hora, nem nos colegas a gente confia.”

Por sorte ou destino, Joilson conseguiu devolver tudo ao dono. “O dinheiro não era meu. É bom ficar com o que é nosso.”

Joilson levou o dinheiro de volta a Friburgo. Ao chegar ao ponto final, na Ponte da Saudade, avistou um senhor humilde chorando na porta da padaria. “Perdi um celular”, dizia ele, “deve ter sido no centro do Rio.”

Joilson perguntou: “O celular é este?”. O senhor, agricultor de 80 anos, emocionou-se: “É esse mesmo. Não tinha mais nada no ônibus?”.

Joilson disse que ele precisava explicar direitinho o que perdera. E ele falou: “Eram R$ 74.800 para pagar o transplante de minha filha, que não é coberto pelo SUS”.

Joilson entregou o pacote e não aceitou recompensa. “O dinheiro estava contado para a cirurgia e para a passagem. Eu não podia aceitar nada”, ele me disse. “Também sou pai de família.”

A história de Joilson aconteceu no dia 19 de abril e correu mundo. No Facebook, ele recebeu mensagens da Holanda, da Espanha, dos Estados Unidos, do Japão. Foi a programas de televisão. Ganhou plaqueta da empresa elogiando seu ato.

Foi homenageado na semana passada no Palácio Guanabara, do governo do Estado. Recebeu cartas de alunos da 2ª à 5ª série de uma escola do Rio, dizendo: “Motorista, foi lindo o que você fez, você foi meu herói”. Num dos envelopes, havia R$ 2 e um bilhete: “Desculpe não dar mais, era o que eu tinha no bolso”.

Joilson treme a voz. Quer encontrar e beijar essas crianças. “O que eu fiz era para ser uma coisa normal. O ser humano é repleto de valores, mas não põe em prática.”

Ele começou a dirigir em transportadora quando tinha 18 anos. Concluiu o segundo grau. É casado, seu filho Gabriel tem 14 anos e sua mulher está grávida de cinco meses, de outro menino.

Nas enxurradas em Friburgo, Joilson perdeu a casa, os móveis, e mora de favor na casa da irmã. A escola onde sua mulher era professora também foi levada pelas águas. Agora, ela costura.

Joilson constrói uma nova casa. Trabalha 16 horas por dia como motorista, faz duas viagens de ida e volta no ônibus da Viação 1001, tem uma folga por semana. “Cai na segunda ou na terça.”

O primeiro ônibus sai às 5h30 de Friburgo. Ganha R$ 1.000 líquidos por mês, mas paga R$ 500 ao pedreiro que ergue sua “casinha”.

Joilson faz biscates de pintura: “A necessidade faz o sapo pular”.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

"La libertad y los libros", por Mario Vargas Llosa

"La libertad y los libros", por Mario Vargas Llosa

Também disponivel aqui :
http://mazcue.com/discurso-completo-vargas-llosa-feria-del-libro/

Texto completo del discurso de Mario Vargas Llosa en la 37º Feria del Libro de Buenos Aires
Agradezco a los organizadores de la Feria del Libro de Buenos Aires honrarme con la invitación a ocupar esta tribuna el día de la inauguración. He tenido ya ocasión de participar en ella hace algunos años y me alegra saber que ha ido creciendo y atrayendo cada vez a más editores, libreros y lectores hasta convertirse en una de las ferias de libro más importante mes en todo el ámbito de nuestra lengua.

No me extraña nada que haya ocurrido así. Desde la primera vez que pisé Buenos Aires, hace de esto cerca de medio siglo, advertí que esta ciudad y los libros tenían una afinidad recóndita, comparable a la que sólo había advertido antes en París, y que, al igual que esta última, Buenos
Aires era una ciudad de librerías -modernas y anticuarias-, de cafés literarios, de escribidores y lectores, donde todo letraherido se sentía inmediatamente en su casa. No es por eso nada raro que uno de los más grandes creadores de nuestro tiempo, Jorge Luis Borges, fuera un porteño y que se pueda decir de su extraordinaria obra que toda ella es como la exhalación imaginaria emanada de una biblioteca, institución en la que Borges, recordemos, en uno de sus más bellos textos, materializó el Paraíso.

Agradezco también a los organizadores de este certamen haber resistido las presiones de algunos colegas y adversarios de mis ideas políticas, para desinvitarme. Y extiendo mi agradecimiento a la Presidenta, señora Cristina Fernández de Kirchner, cuya oportuna intervención atajó aquel intento de veto. Ojalá esta toma de posición en favor de la libertad de expresión de la mandataria argentina se contagie a todos sus partidarios. Este episodio, me parece, más allá de lo anecdótico, plantea un asunto interesante y actual al que no me parece inadecuado abordar en el marco de este certamen con una breve exposición que se podría titular: "La libertad y los libros".

Manuscritos, impresos y, ahora, digitales, los libros representan la diversidad humana (mientras no sean expurgados, claro está). A condición de que puedan participar en ella sin discriminación, cortes, sin censura, los libros de una Feria del Libro son, en pequeño formato, la humanidad viviente, con lo mejor y lo peor que ella tiene: sus creencias, sus fantasías, sus conocimientos, sus sueños, sus amores y sus odios, sus prejuicios, sus pequeñeces y grandezas. Ningún espejo retrata mejor a esa colectividad de hombres y mujeres que conforman las diversas tradiciones, culturas, etnias, lenguajes, mitos, costumbres, modos y modas del fenómeno humano. Esa extraordinaria variedad desaparece cuando, abandonando la superficie, gracias a los libros nos sumergimos en lo profundo hasta llegar a aquellas raíces o denominadores comunes de la especie, pues allí descubrimos lo que hay de solidario y semejante por debajo de aquella frondosa variedad: una condición, unos sentimientos, unos anhelos, unas alegrías y unos miedos que establecen una identidad recóndita sobre las diferencias y distancias que la historia ha ido forjando entre razas, pueblos y culturas a lo largo de los siglos.

Los libros nos ayudan a derrotar los prejuicios racistas, étnicos, religiosos e ideológicos entre los pueblos y las personas y a descubrir que, por encima o por debajo de las fronteras regionales y nacionales, somos iguales en el fondo, que los "otros" somos en verdad "nosotros" mismos.

Gracias a los libros viajamos en el espacio y en el tiempo, como hizo Julio Cortázar en La vuelta al día en ochenta mundos sin salir de su biblioteca, y comprobamos que, con todos sus matices y variantes, la humanidad es una sola y compartida.

Podemos comparar el mundo de los libros que en estos momentos nos rodea con un bosque
encantado. Ellos están allí, quietos, inertes, silenciosos, como los árboles y las plantas de las
fantásticas historias infantiles, esperando la varita mágica que los anime. Basta que los abramos y celebremos con sus páginas esa operación mágica que es la lectura para que la vida estalle en ellos convocada por la hechicería de sus letras y palabras, y un surtidor de ideas, imágenes y sugestiones se eleve del papel hacia nosotros nos impregne, arrebate y traslade a otra vida, a menudo más rica, coherente, intensa y entretenida que la vida verdadera, en la que a menudo las rutinas embrutecedoras cotidianas nos dejan apenas resquicios para la exaltación y la felicidad. la vida de los libros nos enriquece y nos transforma. Nos hace más sensibles, más imaginativos y, sobre todo, más libres. Más críticos del mundo tal como es y más empeñados en que cambie también él y se vaya acercando a los mundos que inventamos a imagen y semejanza de nuestros deseos y sueños.

Por eso, los libros son un testimonio inapelable de las carencias y deficiencias de la vida, aquellas que incitan a los seres humanos a crear mundos de fantasías y a volcarlos en ficciones para poder tener aquello que la vida que vivimos no nos da.

El viaje al corazón de ese bosque encantado de los libros no es gratuito, un paseo divertido y sin secuelas. Es un viaje que deja huellas en el sentimiento y la inteligencia del lector, la comprobación de que el mundo real está mal hecho pues no basta para colmar nuestros anhelos.

¿Para qué inventaríamos otros mundos si con éste nos bastara? Es imposible no salir de un buen libro sin la extraña insatisfacción de estar abandonando algo perfecto para volver a lo imperfecto y empezar a mirar el entorno con cierto desánimo y frustración. Nada ha hecho que el mundo progrese tanto desde los tiempos de la caverna primitiva hasta la era de la globalización como ese viaje a lo imaginario que acompaña a hombres y mujeres desde su más remoto pasado y del que da testimonio inequívoco el mundo vertiginoso y laberíntico de los libros.

No es sorprendente, por ello, que los libros hayan despertado, a lo largo de la historia, la desconfianza, el recelo y el temor de los enemigos de la libertad, de quienes se creen dueños de las verdades absolutas, de todos los dogmáticos y fanáticos que han sembrado de odio y violencia zigzagueante el curso de la civilización.

La Inquisición lo vio clarísimo: los libros deben ser examinados y purgados por censores estrictos para asegurar que sus contenidos se ajusten a la ortodoxia y no se deslicen en ellos apostasías y desviaciones de la doctrina verdadera. Dejarlos prosperar sin esa camisa de fuerza de la censura previa sería poblar el mundo de heterodoxias, teorías subversivas, tentaciones peligrosas y desafíos múltiples a las verdades canónicas. Esta mentalidad llevó a decidir que todo un género literario -la novela- fuera prohibida durante los tres siglos que duró la colonia en todas las posesiones españolas de América. Durante trescientos años no se pudo editar ni importar ficciones en las colonias americanas. El contrabando se encargó de que muchas novelas circularan en nuestras tierras, felizmente. Pero una de las perversas -o tal vez felices- consecuencias de esta prohibición fue que, en América Latina, como la ficción fue reprimida en el género que la expresaba mejor -las novelas-, y coma los seres humanos no podemos vivir sin ficciones, éstas se la arreglaron para contaminarlo todo -la religión, desde luego, pero también las instituciones laicas, el derecho, la ciencia, la filosofía y, y por supuesto, la política-, con el previsible resultado de que, todavía en nuestros días, los latinoamericanos tengamos grandes dificultades para discernir entre lo que es ficción y realidad. Eso ha sido muy beneficioso en los dominios del arte y la literatura, pero bastante catastrófico en otros, en los que sin una buena dosis de pragmatismo y de realismo -saber diferenciar el suelo firme de las nubes- un país puede estancarse o irse a pique. Los comisarios políticos han reemplazado en la vida moderna a los inquisidores de antaño.

Vez que se ha apoderado de un gobierno un fanático religioso, ideológico o un caudillo
megalómano que se cree dueño de la verdad absoluta, los libros se han visto sometidos a purgas, recortes y vejaciones para tratar de evitar que lo que ellos encarnan mejor que nadie -la diversidad humana, la variedad de ideas, creencias, puntos de vista, costumbres y tradiciones- se divulgue y contradiga la visión dogmática, excluyente y autoritaria entronizada. Nazis, fascistas, comunistas, caudillos militares o civiles enceguecidos por los espejismos de las verdades absolutas han tratado a lo largo de toda la historia y en todas las geografías del planeta de domesticar y embridar el espíritu creativo, insumiso y crítico -que ha sido siempre el motor del cambio-, pero, por fortuna, siempre han fracasado. Dejando, eso sí, en el camino una miríada de víctimas - torturados, encarcelados y asesinados- que, pese a la represión y a las persecuciones, mantuvieron siempre viva aquella llama de libertad que anida, como un alma secreta, en el corazón de los libros.

Leer nos hace libres, a condición, claro está, de que podamos elegir los libros que queremos leer, y que los libros puedan escribirse e imprimirse sin inquisidores ni comisarios que los mutilen para que encajen dentro de las estrechas orejeras con que ellos aprisionan la vida. Defender el derecho de los libros a ser libres es defender nuestra libertad de ciudadanos, el precioso fuego que la atiza,mantiene y renueva.

Una de las mejores tradiciones de la Argentina ha sido ser un país de libros, escritores y lectores. Yo lo recuerdo muy bien, pues en mi infancia y mi adolescencia se nutrieron de revistas y libros (y, añadiré, películas y canciones) que se producían y editaban en este país y se difundían por todos los rincones de América. Por ejemplo, llegaban puntualmente a Cochabamba, la ciudad boliviana donde viví hasta los diez años. Recuerdo muy bien la llegada periódica de Leoplán para el abuelo, el Para ti que leían mi madre y m abuela y en Billiken que yo esperaba como maná del cielo. Más tarde, de universitario en San Marcos, en Lima, conocí la literatura más renovadora y moderna, (de Faulkner a Thomas Mann, de Joyce a Sartre, de Camus a Forster, de Eliot a Hemingway, gracias a las traducciones que editoriales como Losada, Sudamericana, Emecé, Sur y otras publicaban y distribuían por todo el continente. Como innumerables jóvenes latinoamericanos de mi generación puedo decir por eso que debo buena parte de mi formación literaria a esa pasión por los libros que anida en el corazón de la cultura argentina.

Hago votos porque esa hermosa tradición se renueve y fortalezca y que sea la mejor expresión de ello esta Feria del Libro de Buenos Aires.

Muchas gracias.
Mario VARGAS LLOSA

domingo, 27 de março de 2011

Universidade FUMEC divulga contos classificados no Prêmio de Literatura

03/2011

A Universidade FUMEC divulga a lista dos contos classificados na 2ª edição do Prêmio de Literatura. De alcance nacional, o concurso foi idealizado com o objetivo de incentivar a leitura e a produção literária no país, prestigiando obras inéditas de estudantes de todo o Brasil.

Nas duas edições, o gênero escolhido foi o conto. Alunos de ensino médio e superior enviaram seus trabalhos, avaliados por comissão julgadora composta pelo doutor em Literatura Comparada e professor do Programa de Doutorado e Mestrado em Administração da Universidade FUMEC, Luiz Cláudio Vieira de Oliveira; pela doutora em Literatura Comparada e professora da Faculdade de Letras da UFMG, Haydée Ribeiro Coelho, e pelo escritor Ronald Claver, autor de 11 livros. Os membros observaram a originalidade da obra, a criatividade artística, a adequação da linguagem e sua qualidade literária.

Ao todo, 31 contos se inscreveram no certame. Dois não concorreram por não atenderem as normas estabelecidas no regulamento. Dos 29 trabalhos concorrentes, oito foram classificados. Dentre estes, cinco serão declarados vencedores e três receberão menções honrosas. O resultado final, com a ordem de classificação, será divulgado somente durante a cerimônia de entrega do prêmio, que será realizada em data a ser anunciada em breve.

As obras vencedoras e aquelas que receberem menções honrosas serão publicadas em livro pela Universidade FUMEC. Títulos e pseudônimos: “Boneca de corda”, de Luana Moutinho; “Cinzas”, de Eduardo Koscheck; “Conexão doméstica”, de Alíssio Montenegro; “O conto do baratão”, de M. Mayona; “Os sofrimentos do jovem WWW”, de Wertheim-Meigs; “Pensão familiar”, de TroppoBenne; “Porque lutamos”, de Vitor Scaglia; e “Rito da rosa”, de Francisco Pilares.

De acordo com o reitor da FUMEC, professor Antonio Tomé Loures, o Prêmio é uma forma de estimular a criação e o talento de jovens que têm afinidade com a literatura. "A universidade tem um papel muito importante no desenvolvimento da imaginação dos jovens. Temos que motivá-los a investir na escrita a partir de iniciativas como essa. A arte, em especial a literatura, engrandece o ser humano", destaca Tomé Loures. “A publicação dos textos em forma de livro torna-os acessíveis a outros estudantes, a outros leitores”, completa. A instituição de ensino distribuirá centenas de exemplares entre bibliotecas e escolas públicas.

"Comentario meu :
vem coisa por aí...
Aguardem."

terça-feira, 22 de março de 2011

Estudo indica que religião pode acabar em 9 países ricos

DA BBC BRASIL

Dados de censos colhidos desde o século 19 indicam que a religião pode ser extinta em nove nações ricas que foram analisadas em um estudo científico.

A pesquisa identificou uma tendência de aumento no número de pessoas que afirmam não ter religião na Austrália, Áustria, Canadá, Finlândia, Irlanda, Holanda, Nova Zelândia, Suíça e República Tcheca --o país com o índice mais elevado, com 60%.

Usando um modelo de progressão matemática, o levantamento --divulgado durante um encontro da American Physical Society-- mostra que as pessoas que seguem alguma religião vão praticamente deixar de existir nestes países.

Na Holanda, por exemplo, 70% dos holandeses não terão religião alguma até 2050. Hoje, esse grupo é de 40% da população.

"Em muitas democracias seculares modernas, há uma tendência maior de as pessoas se identificarem como sem uma religião", afirma Richard Wiener, que trabalha em um centro de pesquisa em ciência avançada, subordinado ao departamento de física da Universidade do Arizona.

A pesquisa seguiu um modelo de dinâmica não-linear que leva em conta fatores sociais e a influência que exercem em uma pessoa a fazer parte de um grupo não-religioso.

Os parâmetros se mostraram semelhantes em vários países pesquisados, indicando que a religião está a caminho da extinção nessas nações.

Comentário meu :

enquanto nosotros acá, nesta tierra de macunaímas, os evangélicos avançam...

Quem sabe, lá pelos idos de 2.200, vamos atingir a maioridade como civilização, e nos colocarmos de pé...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Reencarnação !

Após ter completado mais de meio século de vida, e se aproximando rapidamente dos 60, carregando um coração enfartado no ramo esquerdo, sem que eu perceba, começo a ficar mais pensativo e analítico sobre temas que, confesso, nunca me foram importantes. Este é um destes temas. Não sei se é um sentimento esquisito, mas acho que muitos com quem converso, que são da minha idade ou um pouco mais velhos, tem o tema como um companheiro invisivel, daqueles que a gente tem quanto está com 5 ou 6 anos de idade.
Se a reencarnação é fato e destino para toda humanidade, eu não sei, embora deva ser dito que como teoria para explicar a vida e a morte, a reencarnação tem a beleza de algo que não pode nem ser negado nem provado.
Assim como ninguém pode provar nem negar a existência de Deus. Ambas as possibilidades são belos artifícios de linguagem, pelos quais as pessoas se conduzem a um confortável estado de espírito. Acho que foi Oscar Niemeyer quem disse que "não acredito nele, mas se quando eu morrer, encontrar com ele lá do outro lado, vai ser uma puta surpresa!" Mas, quanto a mim incomoda, sim, e tento achar evidências para a comprovação ou não de qualquer teoria. Tudo o que posso dizer a respeito é que se vivi no passado não tenho lembrança alguma disto. Nunca tive os tais “dejavu” . Não me passa pela cabeça que DEUS, ou o COSMOS – no sentido de força maior e gestor da vida – tenha criado um monte de recordações para outros e me tivesse privado de umazinha somente. É, este tema é por demais controverso e eu como estou na idade de criar debates teológicos e filosóficos - os crio a todo momento, e por que não aqui, neste espaço? Não me eximo de fazê-lo agora.

Outro dia fui comentar sobre uma frasezinha que, pessoalmente, acho ridícula...(deixa pra lá...), mas a frase é “DEUS É FIEL”. Terrível, não é... quem será que criou esta redundância metafisica, psicodélica e embromática? Sim, por que partindo do principio que DEUS existe, se ele é DEUS, não há por que se pensar o contrário dele, não é... (deixa pra lá de novo). Quem sabe numa mesa de bar e regado a um “Jameson 12 anos” – não sem antes engolir uns dois comprimidos para segurar a pressão – eu complete meus “achos” e se os ânimos se exaltarem... que se fôda!
De toda sorte, penso que este tema da reencarnação está mais para o departamento do imaginário.
Qualquer fenômeno que seja objeto da reflexão do espírito, certamente será passível de explicações infinitas.
É por aí vamos longe...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O Poeta e as estrelas...

diz-se do Poeta:
-"quer somente ouvir estrelas..." mas discordo abertamente.
Sei que ele persegue e ousa entendê-las, as vezes tão completamente,
ao ponto de pensar que a luz que elas vertem, vertem por saber que alguém,
cá embaixo, quer vê-las.

Se iludem, os tolos...

Os poetas sabem que as estrelas perceberam,
por seu brilhar pungente, tudo aquilo, que há muito sabe a lua...
-que o ser-poeta, faz e rala, reza baixo e em fé cultua,
que um dia um verso seu possa alcança-la,
e arrebata-la só para si, eternamente.

Ah! Poetas...
por elas, partem em raios insurgentes, transmutam cores, voam os poentes,
procuram um jeito de entretê-las, à espera que aconteça o tal momento,
de transformar-se, ou ser parte delas, das etéreas, ou mesmo cadentes,
que dividem dois o firmamento...

E, vez por outra,
o ser - Poeta, pára, estanca ao percebê-las,
cala, ouve, e inquieto espia, invade vista e a mente afeta
ao ver descer do céu de estrelas, a clara luz que faz o dia...
E ao ver e ouvir, pensar em tê-las,
veste o azul do céu profundo, roga à noite : impeça o dia,
em luz de estrelas, a luz tardia, ao acordar e amanhecê-las,
e vive em si um céu no mundo.

É assim que o ser-poeta acontece...

Nascido humano, ao acidente, vem logo a si, clama qual prece,
a voz de anjo e a mente tece, a confidência que o sagrado lhe trazia :
-que o maior segredo em céu e terra, que fez nascer a estrela-guia,
é o seu brilhar intermitente, que mostra medo, mais que aparente , que toda estrela tem, de um dia, ao brilhar sobre um poeta, lá do alto, tão distante,
não ver nascer, passado instante, do amor mandado em luz brilhante,
a vida em forma de poesia...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

BIG BROTHER BRASIL

de Luiz Fernando Verissimo
Avisos: -texto captado na Internet - peço desculpas a ele se não for de sua autoria
-reproduzo por absoluta necessidade existencial: não suporto esta picaretagem sexual)

Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço...A décima primeira (está indo longe!) edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil,... encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.

Dizem que em Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema banalização do sexo. Impossível assistir, ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos, na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB é a realidade em busca do IBOPE...

Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um “zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.

Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo.

Eu gostaria de perguntar, se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.

Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis?

São esses nossos exemplos de heróis?

Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros: profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados..

Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a isso, todo santo dia.

Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.

Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada, meses atrás pela própria Rede Globo.

O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral.

E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!

Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.

Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social: moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros?

(Poderiam ser feitas mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores!)

Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.

Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir.

Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construída nossa sociedade.


REPASSE ESTE TEXTO

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

princesinha...

quando dedo se lambia
tudo era mar-de-rosa
tu levavas vida em verso
e eu te via toda prosa...

...e tu eras tão pequena,
tão cheirosa, tão macia,
e teu chorar ou fazer cena,
pura manha de guria...

hoje a vida te vê bela
tão bonita, tão formosa,
mas meus olhos vêem aquela,
que foi meu botão de rosa...

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Falar o quê ?




Que se rouba 500 milhões na Funasa ?

Orçam o Pan Americano do Rio em 500 milhões e ao final ele consome 14 bilhões ?

Que sobra dinheiro, mas muito dinheiro para :

- aumento de "salario" de deputados, senadores, ministros e Presidentes;

- arruma-se cabide para 22 mil cargos de confiança - o dobro do que tem os USA com uma população 2 vezes a nossa e PIB 8 vezes maior ?

- gasta-se com cartões corporativos 342 milhões;

- compra-se submarinos e aviões e gasta-se mais de 30 bilhões de reais;

- viaja-se ao exterior com passaportes forjados e ganha-se como se estivesse trabalhando;

- aposenta-se com salarios astronômicos após ter-se trabalhado 10 ou 15 dias;

- pretende-se realizar a copa do mundo e as olimpiadas num pais onde não se tem 30% de saneamento executado;

Ficaria aqui o mês inteiro discorrendo sobre as falcatruas da nossa "elite" governante e ainda haveriam fatos a relatar.

Até quando suportaremos sustentar esta "quadrilha" que assalta o país, há décadas ?

Qual a solução ? Têm solução ?

Eu penso muito sobre isto.

Cheguei a algumas conclusões. Num proximo post eu as coloco.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Entrevista com Sam Harris

"Não acreditar em Deus é um atalho para a felicidade"

Em novo livro, o filósofo e neurocientista americano Sam Harris propõe a criação de uma 'ciência da moralidade' para acabar de uma vez por todas com a influência da religião.

"A tolerância à intolerância nada mais é do que covardia"

"Na ciência não existem dogmas. Qualquer afirmação pode ser contestada de maneira sensata e honesta"

"O Papa é culpável pelo escândalo do estupro infantil dentro da Igreja Católica"

—Sam Harris

Quando o filósofo americano Sam Harris soube que o atentado ao World Trade Center em Nova York (Estados Unidos), no dia 11 de setembro de 2001, teve motivações religiosas, a briga passou a ser pessoal. Harris publicou em 2004 o livro A Morte da Fé (Companhia das Letras) — uma brutal investida contra as religiões, segundo ele, responsáveis pelo sofrimento desnecessário de milhões. Para Harris, os únicos anjos que deveríamos invocar são a ‘razão’, a ‘honestidade’ e o ‘amor’.

"A Ciência é capaz de dizer o que é certo e o que é errado", diz Sam Harris
Ao entrar de cabeça em um assunto tão delicado, o filósofo de 43 anos conquistou uma legião de inimigos e deu início a uma espécie de combate literário. Em resposta à repercussão de seu primeiro livro, que levou à publicação de livros-resposta sob as perspectivas muçulmana, católica e outras, os ataques de Harris à fé religiosa continuaram em 2006, com o lançamento do livro Carta a Uma Nação Cristã (Companhia das Letras).


Criado em um lar secular, que nunca discutiu a existência de Deus e nunca criticou outras religiões, Harris recebeu o título de Doutor em Neurociência em 2009 pela Universidade da Califórnia (Estados Unidos). A pesquisa de doutorado serviu como base para seu terceiro livro, lançado em outubro de 2010: The Moral Landscape (sem edição brasileira). Nele, Harris conquista novos inimigos, dessa vez cientistas.

Agora, Harris tenta utilizar a razão e a investigação científica para resolver problemas morais, sugerindo a criação do que ele chama de "ciência da moralidade". Ele afirma que o bem-estar humano está relacionado a estados mentais mensuráveis pela neurociência e, por isso, seria possível investigar a felicidade humana sob essa ótica — algo com que a maioria dos cientistas está longe de concordar.

A ciência da moralidade substituiria a religião no papel de dizer o que é bom ou mau. Esse ‘novo ateísmo’ rendeu a Harris e outros três autores proeminentes — Daniel Dennet, Richard Dawkins e Christopher Hitchens — o título de 'Cavaleiros do Apocalipse'.

Em entrevista ao site de VEJA, Harris explica os pontos mais sensíveis de sua argumentação, e afirma que descrer de Deus é um atalho para a felicidade.

Por que a moralidade e as definições do bem e do mal não deveriam ser deixadas para a religião? O problema com relação à Religião é que ela dissocia as questões do bem e do mal da questão do bem-estar. Por isso, a religião ignora o sofrimento em certas situações, e em outras chega a incentivá-lo. Deixe-me dar um exemplo. Ao se opor aos métodos contraceptivos, a doutrina da Igreja Católica causa sofrimento. É coerente com seus dogmas, embora eles levem crianças a nascerem na pobreza extrema e pessoas a serem infectadas pela aids, por fazerem sexo sem camisinha. Através das eras, os dogmas contribuíram para a miséria humana de maneira tremenda e desnecessária.

Nem toda moralidade é baseada em religião. Existe uma longa tradição de pensamento moral secular por meio da filosofia. O que há de errado com essa tradição? Não há nada de errado com ela a não ser o fato de que a maior parte das discussões filosóficas seculares são confusas e irrelevantes para as questões importantes na vida humana. Deveria ser consenso o apreço ao bem-estar humano. Se alguma coisa é má, é porque ela causa um grande e desnecessário sofrimento ou impede a felicidade das pessoas. Se alguma coisa é boa, é porque ela faz o contrário. Mas existem filósofos seculares batendo cabeça em debates entediantes, dizendo que não podemos falar de verdade moral. Segundo eles, cada cultura deve ser livre para inventar seus ideais morais sem ser perturbado por outros. Isso é loucura. Hoje reconhecemos que a escravidão, que era praticada por muitas culturas, era fonte de sofrimento. Nesse caso, deixamos para trás o relativismo. Por que não podemos fazer o mesmo em outros casos?

Você parece sugerir que a tolerância a outros credos não é uma virtude, como a maioria pensa. Por quê? É um posicionamento inicial muito bom. A tolerância é a inclinação para evitar conflito com outras pessoas. É como queremos que a maioria se comporte a maior parte do tempo quando se depara com diferenças culturais. Mas quando as diferenças se tornam extremas e a disparidade na sabedoria moral se torna incrivelmente óbvia, então, a tolerância não é mais uma opção. A tolerância à intolerância nada mais é do que covardia. Não podemos tolerar uma jihad global. A ideia de que se pode chegar ao paraíso explodindo pessoas inocentes não é um arranjo tolerável. Temos que combater essas coisas por meio da intolerância às pessoas que estão comprometidas com essa ideologia. Não acredito que seria possível sentar à mesa com, por exemplo, Osama Bin Laden e convencê-lo que a forma como ele enxerga o mundo é errada.

Por que a ciência deveria ditar o que é certo e o que é errado? Temos que reconhecer que as questões morais possuem respostas corretas. Se o bem-estar humano surge a partir de certas causas, inclusive neurológicas, quer dizer que existem formas certas e erradas para procurar a felicidade e evitar a infelicidade. E se as respostas corretas existem, elas podem ser investigadas pela ciência. Chamo de ciência o nosso melhor esforço em fazer afirmativas honestas sobre a natureza do mundo, tendo como base a razão e as evidências.

O que é a ciência da moralidade e o que ela quer conquistar? É a ciência da mente humana e das variáveis que afetam a nossa experiência do mundo para o bem ou para o mal. Ela pretende discutir, por exemplo, o que acontece com mulheres e garotas que são forçadas a utilizarem a burca [vestimenta muçulmana que cobre todo o corpo da mulher]. São efeitos neurológicos, psicológicos, sociológicos que afetam o bem-estar dos seres humanos. Com a burca, sabemos que é ruim para as mulheres e para a sociedade. Se metade de uma sociedade é forçada a ser analfabeta e economicamente improdutiva, mas ter quantos filhos conseguir, fica óbvio que essa é uma estratégia ruim para construir uma população que prospera. O objetivo é entender o bem-estar humano. Assim como queremos fazer convergir os princípios do conhecimento, queremos que as pessoas sejam racionais, que avaliem as evidências, que sejam intelectualmente honestas e que não sejam guiadas por ilusões. A Ciência da Moralidade pretende aumentar as possibilidades da felicidade humana.

O senhor afirma que há um muro dividindo a ciência e a moralidade. No que ele consiste? Existem razões boas e ruins para a existência desse muro. A boa é que os cientistas reconhecem que os elementos relevantes ao bem-estar humano são extremamente complicados. Sabemos muito pouco sobre o cérebro, por exemplo, para entender todos os aspectos da mente humana. A ciência espera um dia responder essas questões e isso é muito bom. A razão ruim é que muitos cientistas foram confundidos pela filosofia a pensar que a ciência é um espaço sem valores. E a moralidade está, por definição, na seara dos valores. Esse muro não será destruído enquanto não admitirmos que a moralidade está relacionada à experiência humana, que por sua vez está relacionada com o cérebro e com a forma pela qual o universo se apresenta. Ou seja, por elementos que podem ser investigados pela ciência.

Quais avanços científicos lhe fazem pensar que, agora, a moralidade pode ser tratada a partir do ponto de vista do laboratório? Temos condição de dizer quando uma pessoa está olhando para um rosto, ou uma casa, ou um animal, ou quais palavras ela está pensando dentro de uma lista. Esse nível cru de diferenciação de estados mentais está definitivamente ao alcance da ciência. Sabemos quando uma pessoa está sentindo medo ou amor. Por causa disso podemos, em princípio, pegar uma pessoa que diz não ser racista, colocá-la em um medidor e verificar se ela está falando a verdade. Não apenas isso, podemos descobrir se ela está mentindo para si mesma ou para as outras pessoas. A tecnologia já chegou a esse nível, mas não conseguimos ler a mente das pessoas com detalhes. É possível que futuramente possamos descobrir coisas sobre a nossa subjetividade de que não temos consciência, utilizando experimentos científicos. E isso tudo se relaciona ao bem-estar humano e o modo como as pessoas ficam felizes e como poderemos viver juntos para maximizar a possibilidade de ter vidas que valham a pena.

Por que deveríamos confiar a educação dos nossos filhos aos valores científicos? Os cientistas não se transformariam, com o tempo, em algo como padres, mas com uma ‘batina’ diferente? Cientistas não são padres. Os médicos, por exemplo, agem sob o pensamento da medicina, que, como fonte de autoridade, não se tornou arrogante ou limitou a liberdade das pessoas de maneira assustadora. É uma disciplina que está concentrada em entender a vida humana e minimizar o sofrimento físico. Seu médico nunca vai até você ‘pregar’ sobre os preceitos da ciência, você vai até ele quando precisa. Pais que se deixam guiar por dogmas religiosos não dão remédios aos filhos e os deixam morrer. Na ciência não existem dogmas. Qualquer afirmação pode ser contestada de maneira sensata e honesta.

O que dizer dos experimentos neurológicos que sugerem que a crença religiosa está embutida nos nossos cérebros? Não acho que a crença religiosa esteja embutida no cérebro humano. Mas digamos que esteja. Façamos um paralelo com a bruxaria. Pode ser que a crença em bruxaria estivesse embutida em nossos cérebros. A bruxaria matou muitos seres humanos, assim como a religião. Todas as culturas tradicionais acreditaram em algum momento em bruxas e no poder de magia e, na verdade, a crença na reza possui um conceito semelhante. Algumas pessoas dizem que sempre acreditaremos em bruxas, que a saúde humana será afetada pela 'magia' de vizinhos. Na África, muitas pessoas realmente acreditam em bruxaria e isso é terrível porque causa sofrimento desnecessário. Quando não se entende porque as pessoas ficam doentes, ou porque as crianças morrem antes dos três anos, você está num estado de ignorância que a crença em bruxaria está suprindo uma necessidade de maneira nociva. Superamos isso no mundo desenvolvido por causa do avanço da Ciência. Sabemos como a agricultura é afetada, por exemplo. Entendemos os fenômenos meteorológicos e a biologia das plantas. Não é algo que a religião resolve, e sim a ciência. Mas costumava ser assim. A crença na regência de um deus sobre a lavoura era universal.

As pessoas deveriam parar de acreditar em Deus? Se eu acho que as pessoas deveriam parar de acreditar no Deus da Bíblia? Com certeza. Da mesma forma que as pessoas pararam de acreditar em Zeus, em Thor e milhares de deuses mortos. O Deus da Bíblia tem exatamente o mesmo status desses deuses mortos. É um acidente histórico estarmos falando dele e não de Zeus. Poderíamos estar vivendo num mundo onde os suicidas muçulmanos se explodiriam por causa de ideias dos deuses do Monte Olimpo. A diferença entre xiitas e sunitas muçulmanos é a mesma diferença entre seguidores de Apolo e seguidores de Dionísio.

O senhor sempre foi ateu? Nunca me considerei um ateu, nem mesmo ao escrever meu primeiro livro. Todos somos ateus em relação a Zeus e Thor. Eu era um ateu em relação a eles e ao deus de Abraão. Mas nunca me considerei um ateu, como a maioria das pessoas não se considera pagã em relação aos deuses do Monte Olimpo. Foi no 11 de setembro de 2001, dia do atentado ao World Trade Center em Nova York, que senti que criticar a religião publicamente havia se tornado uma necessidade moral e intelectual. Antes disso eu era apenas um descrente. Eu nunca havia lido livros ateus, ou tivera qualquer conexão com a comunidade ateísta. O ateísmo não é um conceito que considere interessante ou útil. Temos que falar sobre razão, evidências, verdade, honestidade intelectual — todas essas coisas são virtudes que nos deram a ciência e todo tipo de comportamento pacífico e cooperativo. Não é preciso dizer que você é contra algo para advogar em favor da honestidade intelectual. Foi justamente isso que destruiu os dogmas religiosos.

O senhor cresceu em um ambiente religioso? Cresci em um ambiente completamente secular, mas não havia crítica às religiões ou discussões sobre ateísmo, existência de Deus etc. Quando era adolescente, fiquei muito interessado em religiões e experiências religiosas. Coisas como meditação, por exemplo. Aos vinte, comecei a estudar espiritualidade e misticismo. Ainda me interesso por essas coisas, mas acho que, para experimentar, não precisamos acreditar em nada que não possua evidencias suficientes.

Como o senhor se sente em ser rotulado como um dos ‘Quatro Cavaleiros do Apocalipse’? Estou muito feliz com a companhia! É uma honra. A associação não me desagrada de forma alguma. Acho que os quatro lucraram por terem sido reunidos e tratados como uma pessoa de quatro cabeças. Em alguns momentos é um desserviço porque nossos argumentos não são exatamente os mesmos e não acreditamos nas mesmas coisas em todos os pontos. Mas tem sido útil sob o ponto de vista das publicações e admiro muito os outros cavaleiros — os considero mentores e amigos. A parte do apocalipse tem um efeito cômico.

Se o senhor tivesse a chance de se encontrar com o Papa para um longo e honesto bate-papo, qual seria sua primeira pergunta? Gostaria de falar imediatamente sobre o escândalo do estupro infantil dentro da Igreja Católica. Acho que o Papa é culpável por tudo que aconteceu. A evidência nesse momento sugere que ele estava entre as pessoas que conseguiram fazer prolongar o sofrimento de crianças por muitos anos. Acho que ele trabalhou ativamente para proteger a Igreja do constrangimento e no processo conseguiu garantir que os estupradores tivessem acesso às crianças por décadas além do que deveria ter sido. O Papa deveria ser diretamente desafiado por causa disso. Contudo, é algo que seu status como líder religioso impede que aconteça. Ele nunca seria protegido dessa forma se ele estivesse em qualquer outra posição na sociedade. Imagine o que aconteceria se descobrissem que o reitor da Universidade de Harvard [uma das universidades americanas mais respeitadas do mundo] tivesse permitido que empregados da universidade estuprassem crianças por décadas e ele tivesse mudado essas pessoas de departamento para protegê-las da justiça secular? Ele estaria na cadeia agora. E isso é impensável quando se fala do Papa. Isso acontece por que nos ensinaram a tratar a religião com deferência.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Dilma e Guimarães Rosa

A Presidente citou em seu discurso de posse dois excertos de obras de Guimarães Rosa. Mas não citou o nome do autor.
Um discurso é um texto escrito e lido, e não é uma peça acadêmica, não sofre com as restrições da ABNT. Mas este é peça político-jurídica, que vai para os anais da legislatura brasileira, e deveria ter tratamento semelhante aos do primeiro tipo. Feito, lido e relido por pessoas as mais capazes, passou desapercebido a todos eles esta imperfeição construtiva, fato que pode a principio, pelos leigos, ser comparado a no máximo um esquecimento, quiçá uma indelicadeza, mas que na verdade, se o mesmo ocorresse em uma prova acadêmica, como a que fez recentemente um de seus novos ministros ao se doutorar, ser-lhe-iam tirados pontos preciosos.
Em alto e bom tom diz a Presidente que se “socorria” a um “ poeta da minha terra”. Fantástico. Um poeta. E Minas tem tantos...
Uma analogia igual a esta seria se ela tivesse mostrado um gol do Pele ou de Zico, de Ronaldo ou Ronaldinho, e dissesse simploriamente: “este gol é de um jogador lá da minha terra”. Estaria errada ? Não. O jogador é da sua terra. Mas é qualquer um ? Todos fazem gol assim lá? perguntariam os estrangeiros. Não. Só uns poucos. Aqueles especiais, que aparecem de tempos em tempos.
E João Guimarães Rosa assim o foi. Foi poeta, foi escritor excepcional, mundialmente reconhecido, e foi diplomata também, e se destacou (vide sua participação na embaixada brasileira em Berlin e a lembrança de seu nome entre os judeus na segunda guerra mundial, ao correr risco de vida, junto com sua esposa, e dar abrigo e apoio a vários perseguidos pelo nazismo) – e foi médico. Foi um destes especiais. E deste brasileiro especial foi emprestado, à sua revelia, parte de sua obra magnífica para alguém que, antes de dar exemplo e exaltá-la, pois a obra e o seu autor já deram mostras da sua importância e de sua vida, reconhecidos, pelo mundo todo, se serve dela para ilustrar e exemplificar seu modesto discurso de inauguração.
Lamentando a “distração” cometida, convivemos com o primeiro deslize da Presidente para com um importante mineiro, da terra que ela diz ser “sua terra” .
Me fez recordar um fato narrado pelo grande José Vasconcellos, dos maiores humoristas que o Brasil teve - encontra-se lamentavelmente deixado em esquecimento.
Diz ele em um de seus sketches :

Em 1949, a Radio Nacional apresentava um programa de calouros, tendo como apresentador o inesquecível e não menos famoso Ari Barroso, mineiro de Ubá, como a senhora sabe.
Em dado instante é chamado um rapaz que timidamente diz, ao ser perguntado pelo apresentador, que vai cantar um “sambinha”;
-E qual “sambinha” o senhor vai cantar ?
- “Carela do Brasil”.
-Como é mesmo o nome do “sambinha” ? “Carela do Brasil”?
-É, responde o timido calouro...
- Pois seu fulano, aqui neste programa o senhor não vai cantar o “sambinha” “Carela do Brasil”, ta ouvindo? e enxotou o rapaz de sua presença. E continuou para o auditório e para os radio-ouvintes, justificando seu ato :
-O cara passa anos ralando, aprendendo como se faz musica, letra, harmonia, arranjos etc.. Compõe uma musica que é sucesso mundial e que representa o Brasil aonde se for neste mundo. Pois bem. Aí vem um sujeito da sua terra e na sua cara e diz que vai cantar o seu “sambinha”, “Carela do Brasil?”
Ora, que ele vá cantar lá no raio que o parta.... Aqui não !
Sra. Presidente, reconhecimento é bom, faz bem, e os familiares de JGR agradecem

sábado, 25 de dezembro de 2010

Un Vestido Y Un Amor (Te Vi) - autor: Fito Paez

Te vi... juntabas margaritas del mantel
Ya sé que te traté bastante mal,
No se si eras un angel o un rubi
O simplemente te vi.

Te vi, saliste entre la gente a saludar
Los astros se rieron otra vez, la llave de mandala se quebró
O simplemente te vi.

Todo lo que diga está de más,
Las luces siempre encienden en el alma
Y cuando me pierdo en la ciudad, vos ya sabés comprender
Es sólo un rato no más, tendría que llorar o salir a matar.
Te vi, te vi, te vi... yo no buscaba nadie y te vi.

Te vi... fumabas unos chinos en madrid
Hay cosas que te ayudan a vivir
No hacías otra cosa que escribir
Y yo simplemente te vi.
Me fui... me voy, de vez en cuando a algun lugar
Ya sé, no te hace gracia este país...
Tenías un vestido y un amor...y yo simplemente te vi.

Todo lo que diga esta de mas,
Las luces siempre encienden en el alma
Y cuando me pierdo en la ciudad,
Vos ya sabés comprender... es sólo un rato no más,
Tendría que llorar o salir a matar...
Te vi, te vi, te vi... yo no buscaba nadie y te vi.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Flor do Vento

Tem, por certo,
um certo tempo,
que eu as vezes
forço e tento
em vão, me achar...
não sei de mim...

Tem, por certo,
um certo tempo,
que eu as vezes
paro e penso
que foi sonho...
e foi assim...

Houve um dia
um breve tempo,
contar mês,
vai mais de cento,
é, tem muito tempo, sim...

Que eu perdi
noção do tempo,
ao olhar
com certo aumento
bela flor,
junto ao jardim...

Jeito inquieto
e muito atento,
belas formas,
(mostra o vento),
linda! um afronto,
diz o jasmim...

Disfarço, isento
e olhar rapina,
tropeço, caio
bato em quina,
e nem sequer
me vem lamento,

Só me vem
um pensamento:
ter naquele curto evento
um olhar ,
um só relance :
- Olhe pra cá, Olhe pra mim...

Mas, já?
já vai embora?
não me viu,
nem vai notar ?,
- meu deus, e agora?
num passeio, num jardim
não deve o tempo descansar?

Elevo olhar
pro firmamento,
expresso, clamo ,
apelo, insisto:
-eu existo, eu existo,
sou eu, aqui junto ao jardim...

Paixão-momento,
falta o ar,
mas Sobra o vento;
voa o tempo...
e a flor voou...
ficamos nós:
eu, o jardim,
e o pensamento...

Suplico, então,
ao deus do tempo :
salta, pára, se detenha...
dê ao menos outra volta,
volta a menos obtenha,
ou senão, seja a revolta,
ou então, me cobre aumento,
quem se importa,
te suplico, aja assim :

Em outro dia,
em outro tempo
em outra volta
faça invento,
e traz a flor
pro meu jardim...

E desta vez
me dê mais tempo,
pra dizer :
oh! bela flor,
oh! flor do vento,
quero este teu
olhar para mim...