quinta-feira, 7 de junho de 2012

Acidente na Nossa Senhora do Carmo em BH

É UM ABSURDO !!!

Hoje não tem poesia.
Tem um absurdo continuado.
A história de uma via ceifadora de vidas.
Tem um crime hediondo cometido à contumácia, pelas autoridades constituídas, entra governo, sai governo e tudo contiuna como está.
Ou pior, vai aumentando a lista de pessoas que perderam as vidas, ficaram aleijadas, perderam seus entes queridos.
E nada se faz.


 FOTO: DOUGLAS MAGNO/O TEMPO


 Três pessoas morreram e, pelo menos, oito ficaram feridas em um grave acidente na avenida Nossa Senhora do Carmo com avenida Uruguai, no bairro Carmo, na região Centro-Sul da capital, envolvendo uma carreta carregada com bobina e vários veículos nesta quarta-feira (6/6/2012).


Sou pai de dois: um com 27 e outro com 29. Moro no Sion há 50 anos.
Já vi vários acidentes deste tipo nesta antiga BR-3, hoje Nossa Senhora do Carmo.
Não me canso de pedir a meus filhos para não passarem por esta via.
 "Sempre pelo bairro", digo a eles.
Agora, raciocinem comigo : voce para ser coronel, general tem que ter mais que 40, 50 anos...
Voce para pilotar um 747 tem que ter passado por um Cesna, um Navajo, um 707 e aí depois de várias horas de vôo vc se habilita para pilotar um dos grandes, não é ?
Por que será?
É claro que é experiência no assunto, não é mesmo.
Custava graduar a profissão de motorista de cargas pela experiência e não só pelo exame, pela letra na carteira (A,B,C ou D)?
Será que ninguem no DENATRAN, ou CETRAN, ou um deputado, sei lá, não consegue redigir uma norma, uma lei destas? É só reivindicar aumentos e prerrogativas?
Agora, uma vista por outro angulo:
Imagine um motorista inexperiente, que não conhece BH.
Se ele passar da entrada do Anel, ele só teria a Raja como opção, mas esta não tem uma alça larga para carretas. Ou seja ele é empurrado pelo desenho da via a descer a N.S.do Carmo. Não tem outra saída.
Por outro lado, a justificativa do motorista foi que "perdeu o freio". Ora se ele tivesse acertado e pego o Anel descendo, teriamos mais um acidente destas proporções no Betania.
Conclusão: falta de tudo, da ineficiencia das autoridades em mudar a lei para que somente motoristas experientes possam dirigir carretas, às autoridades responsáveis pela sinalização e engenharia de trafego ao não dar outra possibilidade a quem errou o trajeto, e finalmente, à Policia Rodoviária que deveria verificar o estado dos veiculos e sua conservação.
Aí abro um parenteses para sugerir que a "Vistoria veicular" seja urgentemente implantada e só sejam liberados os documentos com ela feita.
Não adianta recolher impostos somente: é preciso que a população tenha devolvido em serviços de qualidade o trabalho suado para ganhar o dinheiro dos impostos.
Que estas e outras vitimas sejam debitadas, primeiro às autoridades constituídas (e incompetentes) e depois ao motorista.
Temos que implementar os procedimentos sugeridos acima  por que, se não, um dia, a vitima pode ser voce ou pior, um filho(a) seu.
Aos feridos, principalmente ao jovem Lucas, quase da idade de meus filhos, toda força do mundo, para que saia desta
Meu profundo pesar aos parentes das vitimas, principalmente aos pais da jovem, estudante de medicina. Estou arrebentado por dentro. Imagino eles...

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Filme - um poema em homenagem ao dia dos namorados



Um dia, me recordo
Era mocinho,  
E ela, a mais bela mocinha...
Eu e meus 14 anos
Ela 12, quase 13,
Minhas férias de verão,
Em Itaúna, um dia lindo...
 
Nosso encontro, já marcado
Às 6 da tarde de um domingo,
É lá na praça da Matriz.
Lá tem cinema, e num cinema, como sempre, um filme passa...

Do filme mesmo, lembro pouco
Ou quase nada...
Mas trago ainda bem marcada
A lembrança do suor das suas mãos, quando a vontade foi maior que a timidez, e a minha mão pousou na dela, sobre o braço da cadeira, num arroubo sem igual, jamais ousado...
Mas carregado de perene tremedeira,
Foi minha primeira vez...

Senti meu coração quase explodir...
Olhei pra tela, não vi nada...
Assim ficamos, sem mexer, mão com a mão dada...
Um filme inteiro, a se exibir, e um outro filme, por passar, dentro de nós...

E enquanto à frente, o filme em tela prosseguia,
Cada minuto, as sensações... tudo tremia,
O peito, as mãos, e os corações acelerados, festejavam a companhia que o encontro no cinema permitia, a vez, o dia de estar ali tão juntos, do “ficar, enfim, à sós”...

O puro amor, que ali nascia, em mãos suadas
Me faz hoje pressupor
Que em algum lugar o imaginário tem guardadas
Nossas primeiras gotas-gêmeas de suor...

E ao sairmos,
Quando a noite acontecia,
Ninguém viu, mal percebia,
Que um novo amor lá se arriscava,
Pisando em nuvens - a lua ao lado,
A iluminar, qual fantasia...

De mãos atadas, tão coladas e tão frias,
A namorada e o namorado,
Davam seu primeiros passos,
Todos versos em compassos
Das mais lindas poesias...

E foi ali, entre os canteiros do jardim,
Que me voltei e olhei pra ela,
E vi nos olhos lindos dela,
Minha imagem refletida,
Como o filme lá da tela...

Mas, vi também,
Que olhar azul dos olhos dela
Assistiam, através dos olhos meus,
Outro filme, como se fosse outra tela,
Com a imagem que 
Meu coração fez dela em mim...

sábado, 26 de maio de 2012

Vento Sul...




Amar,
Fim de tarde, de sol,
De um sol
Que tem hora,
E que vai para sombra
Que vem,
Sem alarde ou sinal,
Aparece, no dia, ao final, e
Anoitece o verão...

Em cena,
Seu corpo, suado e moreno
Brilhando, mexendo,
Moldado,
À palma da mão...
 Que percorre caminhos,
Desenha carinhos, e
Os beijos molhados
Parecem canção...

... e ao longe,
O horizonte faz ninho,
Prum sol-passarinho
Que foge,
Que  voa e se esconde,
Só quer refrescar
(ele é Sol, eu sou Mar...)

Colados, em corpo,
Laçados, no chão,
Vagando sem rumo
Eu sou esta mão
Que passeia seu dorso,
Se perde em teu sumo,
Sou vale profundo
Ele todo vulcão...

Eu sou o seu mar,
Sou seu vento do sul,
A soprar grãos de areia, das praias, no olhar...
Neste olhar tão azul,
Neste mar, que é azul
Só pra te copiar...

Sou sereia, só faço cantar...
Mergulhada num mar de delicias,
Ao sabor das marés, das
Paixões fictícias
Urdidas no amor,
Amar é enlouquecer...

E assim como veio,
Mansinho, ele  parte
Abandona meu peito, e
Leva seu corpo de mim...

Mas não vejo defeito
Na forma, no jeito, dele ser, dele agir...
Se cultiva esta arte,
De ir e de vir,
E de não se envolver...

Mas...
Carinhos à parte,
Eu entendo os de Marte,
Eu entendo...
 Se partiu,
Só partiu por saber,
Que eu não sou sua dona,
Eu não sou...
(Apesar de querer..)

terça-feira, 22 de maio de 2012

Dúbio - em tres poemas


te detesto...                                             
te amo...
 e por isto não mencionei  como                 
as vezes eu digo que                             
(talvez, por falta  de tempo)                                      
(e não deveria dizer),    
enlouqueço ao ver que                                 
 simplesmente, desejar maltrata, e
me abomina muito                                        
a dependência que sufoca e
saber que pensar em ti                                        
me faz temer deixar-te, então
é pensamento vazio.                             
desprezo-me. sei que o
viver sem ti seria como                                        
reverso, só me traz
a utopia,                               
 o caos, por
um doce e indizível prazer de,                          
não poder te ver. 
um simples sonhar,                                   
me traz uma saudade imensa
mesmo sentindo em mim                       
a começar, tanta dor e angústia,
desta vez,                                            
como se naturais fossem e, que
as tonturas e náuseas que                       
sentidas profundamente
me invadem                                         
confundem
provando, tornando evidente                  
meu disfarce
de modo manifesto,                            
impossível, de amor por ti, e  
se mais e mais te detesto,
 cada vez,                   
por não estares aqui,
então
mais e mais,  insano, eu afirmo,                                       
atesto, por fim, ambiguamente,
te amo...  

                                               
te detesto...

terça-feira, 15 de maio de 2012

O valioso tempo dos maduros

"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente... do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
... Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar ...em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturas.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade fisica .
Quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial! "


Mário de Andrade (1893-1945)"

domingo, 6 de maio de 2012

Modinha - Sergio Bitencourt



Olho a rosa na janela,
Sonho um sonho pequenino..
Se eu pudesse ser menino
Eu roubava essa rosa
E ofertava, todo prosa,
À primeira namorada.
E nesse pouco
Ou quase nada
Eu dizia o meu amor,
O meu amor...

Olho o sol findando lento,
Sonho um sonho de adulto...
Minha voz na voz do vento
Indo em busca do teu vulto.
E o meu verso em pedaços
Só querendo o teu perdão;
Eu me perco nos teus passos
E me encontro na canção...


Ai, amor, eu vou morrer
Buscando o teu amor...
Ai, amor, eu vou morrer
Buscando o teu amor...

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Empreendedor abre loja de poemas ao ar livre nos Estados Unidos

Oportunidades| 17 de abril de 2012 | 13h 21

Zach Houston espera por seus clientes nas ruas de São Francisco e costuma ganhar entre US$ 2 e US$ 20
Estadão PME



NPR
NPR
Ele decidiu abrir uma loja de poemas. Não só isso. Uma loja de poemas ao ar livre nas ruas de São Francisco (Califórnia). O nome do artista-empreendedor é Zach Houston e antes de mais nada é preciso dizer que o negócio faz sucesso nos Estados Unidos: Zach costuma ganhar entre dois e vinte dólares por poema e ele garante que já recebeu - mais de uma vez - uma nota de cem dólares.

O empreendedor disse que largou seu emprego convencional no dia 1º de abril. Era o dia da mentira e Houston conta que as pessoas não acreditaram quando ele disse que escreveria poemas nas ruas com uma máquina de escrever. E por dinheiro. "Não era uma piada de primeiro de abril", contou Houston ao site da National Public Radio (NPR).

O negócio parece prosperar. Mas o poeta parece realmente interessado em oferecer produtos de qualidade para seus clientes, que fazem sugestões de temas para Houston e o deixam criar. "Eu sempre amei poesia. Sempre me preocupei como a linguagem funciona", conta.

De acordo com o empreendedor, a ideia do negócio surgiu do amor pela poesia. "Eu imaginei que poderia ganhar alguns dólares e sobreviver escrevendo poemas", conta.
 

terça-feira, 24 de abril de 2012

Restos de mim

Perco-me em meio a palavras divergentes... ilusão, incerteza, incoerência 
Preciso de algo que me afaste da realidade 
Sonhar, só, não basta, não é suficiente 
Preciso-te como um furacão precisa do vento;
Como uma catástrofe, precisa do imponderável; 
Como o sangue procura o punhal; 
Como a morte suplica à vida...
Não posso mais confiar em meus instintos... 
A passividade impede-me de a abrir minhas vontades 
É como se um nevoeiro, calmamente nublasse meus olhos 
Ante uma nova estação que se apresenta. 
Apesar do vento querer derrubar minha porta 
E com alma acuada, talvez mude o meu caminho... 
Ou talvez siga mais uma vez por estradas erradas 
Na esperança de um dia voltar a encontrar-te... 
Certo é que, quando a vir 
Serei capaz de rastejar tão baixo, tão baixo... 
Que nem sua mão esticada e suas costas arqueadas 
Conseguirão alçar e erguer-me outra vez
 Revelando-te minhas feridas ainda abertas....

domingo, 1 de abril de 2012

Caruso - musica de Lucio Dalla (letras : original e tradução)

Abra uma janela e copie para ela o link:
http://www.youtube.com/watch?v=tRGuFM4DR2Y&feature=related

depois volte aqui e acompanhe esta maravilha...


Caruso
Qui dove il mare luccica,
E tira forte il vento
Sulla vecchia terrazza
Davanti al golfo di surriento
Uno uomo abbracia una ragazza
Dopo che aveva pianto
Poi si schiarisce la voce,
E ricomincia il canto

Te voglio bene assai
Ma tanto tanto bene sai
É una catena ormai
Che scioglie il sangue tinto vene sai...

Vide le luci in mezzo al mare,
Penso alle notti là in america
Ma erano solo le lampare
E la bianca scia di un'elica
Senti il dolore nella musica,
E si alzo dal pianoforte
Ma quando vide uscire
La luna da una nuvola,
Gli sembro piu dolce anche la morte
Guardò negli occhi la ragazza,
Quegli occhi verdi come il mare
Poi all'improvviso usci una lacrima
E lui credette di affogare

Te voglio bene assai
Ma tanto tanto bene sai
É una catena ormai
Che scioglie il sangue tinto vene sai

Potenza della lirica,
Dove ogni dramma è un falso
Che con un po' di trucco e con la mimica
Puoi diventare un altro
Ma due occhi che ti guardano,
Cosi vicine e veri
Ti fan scordare le parole,...
Confondono i pensieri
Cosi diventa tutto piccolo,
Anche le notti là in america
Ti volti e vedi la tua vita,
Dietro la scia di un'elica
Ma si, è la vita che finisce,
E non ci penso poi tanto
Anzi, si sentiva gia felice,
E ricomincio il suo canto

Te voglio bene assai
Ma tanto tanto bene sai
É una catena ormai
Che scioglie il sangue tinto vene sai


Caruso
Aqui onde o mar brilha
e sopra forte o vento
sobre um velho terraço
em frente ao Golfo de Sorrento
um homem abraça uma mulher
depois de haver chorado
depois limpa a voz
e recomeça o canto

Eu te amo tanto
mas tanto, tanto, tanto, sabe?
é uma "corrente"
que faz o sangue queimar nas veias, sabe?

viu luzes em alto-mar
lembrou de noites lá na América
mas eram só lanternas a brilhar
no rastro branco de uma hélice
sentiu doer a música
se levantou do piano
mas vendo a lua surgir
atrás de uma nuvem
até a morte lhe pareceu mais doce
olhou fundo nos olhos da mulher
aqueles olhos verdes como o mar
de repente viu escapar uma lágrima
e pensou esta a se afogar

Eu te amo tanto
mas tanto, tanto, tanto, sabe?
é uma "corrente"
que faz o sangue queimar nas veias, sabe?

Que poder é esse da ópera
onde todo drama é falso
onde com um pouco de maquiagem e representação
podemos nos transformar em outro
mas quando dois olhos te olham assim
tão perto e verdadeiros
te fazem esquecer as palavras
confundem teus pensamentos
então fica tudo tão pequeno
até as noites lá na América
você se vira e vê toda a sua vida
no rastro branco de uma hélice
mas é isso, é a vida que termina
mas ele nem se preocupou
ao contrário, já se sentia tão feliz
que recomeçou seu canto

Eu te amo tanto
mas tanto, tanto, tanto, sabe?
é uma "corrente"
que faz o sangue queimar nas veias, sabe?

sexta-feira, 30 de março de 2012

Para Isabela e (lamentavelmente) muitas outras crianças...

Manchete estampa de horror nossa tela :
Por que(m) matou-se Isabela?

Esvai-se, é vida...
Fatídico, é acesso...

Será tino moldado-insano,
Curtido em reverso, faz ano,
Fazendo mente entorpecida
Exibir seu perverso, seu profano?

Qual feroz animal
Investiria com fúria
Sobre a cria,
Despejaria ira
Forjaria dor
Esmagaria o amor,
Poria atroz final
Na vida que criara um dia?

Quem perpetuaria tal ato
Perpassando a armadura da tela,
Atirando sem rumo ao espaço
O amor paterno, o terno abraço,
Pra também deixar em pedaços
O laço sagrado do sangue ?

Somente ela, a besta,
Que nasce, invade, e o ser apodrece
Comete, então, o maior dano:
Interrompe a sequência da espécie...
Mata senso, mata a alma, ensandesce e
Mata o Criador no humano...


29/03/2008 29/03/2012

quinta-feira, 29 de março de 2012

A morte da águia, poesia de de Luís Guimarães

A morte da águia


A bordo vinha uma águia. Era um presente
Que um potentado, — um certo rei do Oriente,
Mandava a outro: — um mimo soberano.
Era uma águia real. Entre a sombria
Grade da jaula o seu olhar luzia,
Profundo e triste como o olhar humano.

Aos balanços do barco ela curvava
Ao níveo colo a fronte que cismava…
E enquanto as ondas túrbidas gemiam,
Ao som do vento – em fúnebres lamentos
Ela pensava nos longínquos ventos
Que do Himalaia os píncaros varriam.

Fora uma infame e traiçoeira bala,
Que, do régio fuzil negra vassala,
Invisível – uma asa lhe partira:
Cheia de luz, tranqüila, majestosa,
Dobrando a fronde branca e poderosa,
Aos pés de um rei a águia real caíra.

Os bonzos vis, proféticos doutores,
Sondando-lhe a ferida e as cruas dores,
Que um venenoso bálsamo tentava
Apaziguar em vão, — diziam rindo:
“Não há no mundo exemplar mais lindo:
Vale um império!” – E a águia agonizava.

Um dia, enfim, o animal valente
Resistindo aos martírios, — largamente
Respirou a amplidão. A asa possante
Abrir tentou de novo. Aberta estava
A jaula colossal que o esperava:
Forçoso era partir. Desde este instante,

A águia sombria e muda e pensativa,
Solene mártir, vítima cativa,
Terror dos vis e símbolo dos bravos,
Pediu a morte a Deus, — pediu-a ansiosa
Longe, porém, da corte vergonhosa
Desse covarde e baixo rei de escravos.

Pediu a morte a Deus, o cataclismo,
As convulsões elétricas do abismo,
As batalhas finais! Morrer num grito
Vibrante, imenso, heróico, soberano,
E fremente rolar no azul do Oceano,
Como um titã caído do infinito.

Morrer livre, cercada de vitórias,
Com suas asas – pavilhão de glórias –
Inundadas da luz que o Sol espalha:
Ter o fundo do mar por catacumba,
As orações do vento que retumba,
E as cambraias da espuma por mortalha.

Entanto, melancólica, tristonha,
Como um gigante mórbido que sonha,
Fitava, às vezes, o revolto oceano,
Com esse olhar nublado e delirante,
Com que saudava a César triunfante
O moribundo gladiador romano.

O comandante – urso do mar bondoso —
Disse um dia ao escravo rancoroso,
Ao carcereiro estúpido e inclemente:
“Leve-a ao convés. Verá que esse desmaio
Basta para apagá-lo um brando raio
Do largo Sol no rúbido oriente.”

Subiu então a jaula ao tombadilho:
Do nato dia ao purpurino brilho
Salpicava de luz o céu nevado…
E a águia elevando a pálpebra dormente
Abriu as asas ao clarão nascente
Como as hastes de leque iluminado.

O mar gemia, lôbrego e espumante,
Açoitando o navio; — além – distante,
Nas vaporosas bordas do horizonte,
As matutinas névoas que ondulavam,
Em suas várias curvas figuravam
Os largos flancos triunfais de um monte.

“Abre-lhe a porta da prisão,” ( ridente
O comandante disse ) “Esta corrente
Para conter-lhe o vôo é mais que forte!
Voar! pobre infeliz! causa piedade!
Dê-lhe um momento de ar e liberdade!
Único meio de a salvar da morte.”

Quando a porta se abriu, — como uma tromba,
Como o invencível furacão que arromba
Da tempestade as negras barricadas,
A águia lançou por terra o escravo pasmo,
E desprendendo um grito de sarcasmo,
Moveu as longas asas espalmadas.

Pairou sobre o navio — imensa e bela –
Como uma branca, uma isolada vela
A demandar um livre e novo mundo;
Crescia o Sol nas nuvens refulgentes,
E como um turbilhão de águias frementes,
Zunia o vento na amplidão, – profundo.

Ela lutou, ansiosa! Atra agonia
Sufocava-a. O escravo lhe estendia
Os miseráveis e covardes braços;
Nu o oceano ao longe cintilava
E a rainha do ar, em vão, buscava
Onde pousar os grandes membros lassos.
 

-Calma, disse o rei de escravos, placidamente,
Ela não tem pra onde ir,
Há que aqui pousar...Um tempo, somente...
Sobre o barco, pairou a linda, — e alçando, e
Alçando mais os vôos, e abrasando
Na luz do Sol a fronte alvinitente,
 

Ébria de espaço, ébria da imensidade,,
Como um astro que risca o céu do mundo,
Sob os olhares de seus carrascos, atônitos,
Deixou a vida enjaulada, a sordidez platônica, e
E foi de encontro à prometida eternidade,
Afundando-se nas ondas bravias, 

Como se a morte em liberdade fosse um presente!

Quem foi :
Luís Caetano Pereira Guimarães Júnior (RJ 1847 – Lisboa 1898), advogado, jornalista, ministro, diplomata, poeta, romancista, teatrólogo. Estudou no Colégio Calógeras em Petrópolis e cursou as faculdades de Direito de São Paulo e do Recife. Colaborador dos periódicos A reforma, A república, O correio paulistano, Imprensa Acadêmica de São Paulo, Gazeta de Notícias. Membro da Academia Brasileira de Letras, membro da Academia de Belas Artes do Chile, membro da Academia do Quiriti em Roma, membro da Arcádia Romana, membro da Sociedade de Geografia Italiana, oficial da Ordem da Rosa, oficial da Ordem de Cristo e da Ordem de São Tiago, cavaleiro da Ordem Romana do Sepulcro e da Ordem de São Gregório Magno.

Obra:

A Alma do outro mundo, 1913
A Carlos Gomes, 1870
A entrada no céu, 1882
A família Agulha, 1870
A morte, 1882
André Vidal, séc. XIX
As Jóias indiscretas, séc. XIX
As Quedas fatais, séc. XIX
Ave Estela, 1865
Contos sem pretensão, 1872
Corimbos, 1866
Ernesto Couto, 1872
Filigranas, 1872
Lírica, 1880
Lírio Branco, 1862
Mater dolorosa, 1880
Monte Alverne, séc. XIX
Noturnos, 1872
O Caminho mais curto, séc. XIX
Os Amores que passam, séc. XIX
Pedro Américo, 1871
Um Pequeno demônio, séc. XIX
Uma Cena contemporânea, 1862
Valentina, séc. XIX

quarta-feira, 14 de março de 2012

Evocação nº 1 (1957) Frevo Composição: Nelson Ferreira




Me lembro como se fosse hoje...
Tinha uns 11 ou 12 anos. Era 1963/4.
Ia pra casa da minha avó Izaura, mãe de minha mãe, que morava no centro de BH, em um apartamento num prédio grande, com pilotis, playground, além da bicicleta que ela havia comprado para quando um de nós(neto ou neta) a visitasse, pudesse andar no enorme pátio do Pilotis.
A mim, o que mais encantava eram os discos de meus tios que ficavam na grande radiola - um movel que incorporava radio, toca discos, caixas de som e lugar para guardar discos. Escutava as Big Bands, muito Jazz, muito samba-canção, Nat King Cole, e minha favorita: o Frevo Evocação com o Coral Mocambo.
Passava horas deitado no grosso tapete da sala, viajando mundo afora.
Minha paixão pelos discos era tanta que quando vovó morreu meus tios me deram os discos.
Eu tinha o disco Evocação original até há pouco tempo quando por uma infelicidade, numa faxina/limpeza, caiu ao chão e se partiu.

Mas por sorte hoje temos YouTube e quem não conhece a musica, pode ter o prazer de escutar, copiando o link abaixo e colando no computador.
(Lembrem-se que a gravação é de 1957, feita em disco de 78 rotações.)

Espero que gostem.
Para os que conhecem e se lembram, sabem do que estou falando.
Abaixo a letra e o link.



Frevo Evocação nº 1
(1957)
Composição: Nelson Ferreira


Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon
Cadê teus blocos famosos
Bloco das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apôs-Fum
Dos carnavais saudosos
Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon
Cadê teus blocos famosos
Bloco das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apôs-Fum
Dos carnavais saudosos

Na alta madrugada
O coro entoava
Do bloco a marcha-regresso
E era o sucesso dos tempos ideais
Do velho Raul Moraes
Adeus adeus minha gente
Que já cantamos bastante
E Recife adormecia
Ficava a sonhar
Ao som da triste melodia



YouTube:

http://www.youtube.com/watch?v=7FNhDiqLErY

Parabens ao povo de Pernambuco por manter intacta esta arte que se sobrepõe aos sambas, sambodromos e desfiles de escolas, importados do eixo Rio/SP.
Nós aqui em Minas lutamos para manter uma cultura regional, mas é muito dificil. Nossa elite política dominante prefere Ipanema à Serra do Cipó, então...

domingo, 11 de março de 2012

HEMORRÓIDAS...ARDEM!!(pra car....lho!!!)

Vejam o que um amigo me mandou. O pai dele operou e escreveu!
Sem comentários ... esse texto foi feito pós-operação do traseiro dele !!!!

Deixei exatamente como ele mandou. Afinal são pequenas palavrinhas sem
maldade...

HEMORRÓIDAS

Ptolomeu em 150 d.C. falava que a terra era o centro do universo e que
tudo girava em torno dela, foram precisos cerca de 1400 anos para esta
teoria ser rebatida por Nicolau Copérnico provando para a humanidade
que o Sol sim era o centro.


Eu, simplesmente eu, descobri em apenas três dias, após 56 anos, que
ambos estavam redondamente enganados: o centro do universo é o cú.
Isso mesmo, o cú!

Operei das hemorróidas em caráter de urgência algumas semanas atrás.
No domingo à noitinha, o que achava que seria um singelo peidinho,
quase me virou do avesso.


É difícil, mas vamos ver se reverte, falou meu médico. Reverteu merda
nenhuma, era mais fácil o Lula aceitar que sabia do mensalão do que
aquela lazarenta bolinha (?) dar o toque de recolher.

Foram quase 2 horas de cirurgia e confesso não senti nadica de nada,
nem se me enrabaram durante minha letargia!


Dois dias de hospital, passei bem embora tenham tentado me afogar com
tanto soro que me aplicaram, foram litros e litros; recebi alta e fui
repousar em casa.

Passados os efeitos anestésicos e analgésicos, vem a primeira vez.
PUTA QUI PARIU!!! Parece que você ta cagando um croquete de figo da
Índia, casca de abacaxi, concha de ostra e arame farpado. É um
auto-flagelo.

Parece que você tá cagando uma briga de 5 gatos, sai arranhando tudo.

Caguei de pé, pois sentado achei que o cú ia junto...

Por uns três dias dói tanto que você não imagina uma coisinha tão
pequena e com um nome tão reduzido (cú) possa doer tanto. O tamanho da
dor não é proporcional ao tamanho do nome, neste caso, cú deveria
chamar dobrovosky, tegulcigalpa, nabucodonosor.


Passam pela cabeça soluções mágicas:
- Usar um ventilador! Só se for daqueles túneis aerodinâmicos.
- Gelo! Só se eu fosse escorregar pelado por uma encosta do Monte Everest.
- Esguichinho dagua! Tem que ser igual a da Praça da Matriz, névoa
seguida de jatos intercalados.


Descobri também que somos descendentes diretos do bugio, porque você
fica andando como macaco e com o cú vermelho; qualquer tosse,
movimento inesperado, virada mais brusca o cú dói, e como!

Para melhorar as idas à privada, recomenda-se dieta na base de fibras,
foi o que fiz: comi cinco vassouras piaçaba, um tapete de sisal e sete
metros de corda. Agora sei o sentido daquela frase: quem tem medo de
cagar não come!


Tudo valeu, agora já estou bem, cagando com manda o figurino, não
preciso pensar para peidar, o cú ficou afinado em ré menor, uma
beleza!

O foda é que usei Modess por 20 dias após a cirurgia e hoje to
sentindo falta dele!

Deus podia ter caprichado mais!

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Frases de Manoel de Barros, que gostaria fossem minhas...

La vai um homem percorrido de existências
e espraiado na tarde...

Passarinhos aveludam seus cantos quando o vêem, coisa que não existe mais...

Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas...

Escrever defeitos nas frases as torna mais saudáveis...

Bugre só pega por desvios, não anda em estradas; nos desvios é que encontra as melhores surpresas...

Hoje eu desenho o cheiro das árvores...

A criança diz: eu escuto a cor dos passarinhos...

A poesia é a voz do poeta...

Imagens são palavras que nos faltaram...

Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem...

Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser...

Coisa tão velha como andar a pé...

Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los...

Uma certa luxúria com a liberdade, convém...

Eu sou antítese da lucidez...

Choveu na palavra onde eu estava e me molhei todo...

As idéias me eram tão vivas que quase dava pra pegar com as mãos...

Faço coito diário com as letras...

Tenho gosto rasteiro por reentrâncias, como a lascívia de uma hera num muro velho...

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Primeiro implante de cérebro completa 50 anos

Folha 19/02/2101

Thinking do Dia

Primeiro implante de cérebro completa 50 anos

Aqueles com menos de 60 anos não vão se lembrar.
Mas quando a equipe de médicos internacionais realizou em São Paulo o primeiro implante, bem sucedido de cerebro, em um humano, há 50 anos, e o paciente, com quase 150 anos de vida e dois cerebros implantados, acordou em seu novo corpo, clonado especialmente para ele, acéfalo, mantido vivo até os 18 anos, idade adequada para receber um cerebro adulto, as comemorações vazaram a madrugada.

Foi decretado feriado mundial e a tecnologia espalhou-se desde então.
Hoje já são milhões de implantes e foi o inicio do que hoje é comum.
Quem não paga um financiamento de seu novo corpo, hoje em dia, com as facilidades do financiamento governamental?
Muitos não se lembram mas seres humanos morriam até 2051 de doenças ainda incuráveis, sem falar nos que nasciam com defeitos congenitos e não havia a possibilidde de se conseguir um novo corpo.
Hoje, qualquer multishopping tem lojas especializadas, e qualquer um pode programar sua proxima existencia em um corpo que seja de sua escolha, de acordo com seus padrões intelectuais, artisticos ou sentimentais, e outras caracteristicas fisicas.
Outro fator que muitos não se lembram é que antes a taxa de natalidade beirava incriveis 3%, em alguns casos até 4%. Imaginem: casais com 2, 3 e até 4 filhos. impensável, não é mesmo. Tambem, com quase 10 bilhões de pessoas não há muito lugar sobrando. Por outro lado foi bom por que só passa fome quem quer.
Raramente temos novos nascimentos, a não ser por morte por acidente, e quando o parente proximo quer repor em sua familia um ente novo em substituição ao perdido.

Entrevistamos o primeiro homem a receber o implante, um mineiro, que hoje está em sua segunda experiencia de New-body. Ele nos falou de suas impressões de sua vida em corpos passados e, principalmente, como era o pensamento coletivo à época de primeiro implante.
-Hoje jogo voley com meus bisnetos e moro com a amiga de um deles, disse o empolgado e saudável engenheiro.

A reportagem completa, com detalhes explicitos dos sentimentos à época, exclusivamente no think "Folha, Life-and-emotions".

Think with us,
Thinking Folha

Obs.: promoção da Folha de São Paulo com o tema " Qual manchete vc gostaria de ver daqui a 90 anos", comemorando os 90 anos de fundação deste Jornal.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Hino do Partido Brasileiro da Mamada (PBM)

...e não é só por que é carnaval. Este hino tá por aí o ano inteiro, cantado e festejado em todas as cidades brasileiras. É o favorito da corruptalha instalada e das que tem pretensões.
Sua sede e presidencia honorária, e por antiguidade, é no Maranhão, com vice-presidencias em Alagoas, Pará, Tocantins e Piauí.


Cantem também.


A D
Mama na têta de cá,
A
Mama na têta de lá
Bm7 E7 Em7 A7
Mamar na têta no Brasil é profissão
D
Mama na têta de cá,
A F#7
Mama na têta de lá
Bm7 E7 A
Quanto mais têtas, menos povo e mais ladrão


E7 A F#7 Bm7
Sou do Partido Brasileiro da Mamada,
E7 A E7
Sou coça-saco, um oportunista eleitoral,
A F#7 Bm7
Fui indicado, em aclamação pela bancada,
E7 A
Para assessor de um presidente de Estatal..

E7 A
Ganhei chofer , um gabinete, e apartamento
Bm7 E7 A
Com mordomia, comissão mais rendimento
D D#o A F#7
Mandei fazer cueca em forma de embornal
Bm7 E7 A
Pra encher de dólar, ou esconder muito real


E7 A
E a patroa? Botei na rua,
E7 A
Duas de vinte, e eu tô na Lua
D D#o A
A vida é boa, Pra quem não sua
F#7 Bm7 E7 A E7
Vai Tafarel : “Vai lá que é tua”

A F#7 Bm7
O mês que vem vou viajar, pro exterior,
E7 A
Levar cartão corporativo, sim senhor,
D D#o A
E o passaporte que me deram é o diplomático
F#7 Bm7 E7 A
Trazer muamba, dessa vez, ficou mais prático


Bm7 E7 A
Tô preparando desde já a papelada
Bm7 E7 A
Pra aposentar, com meu salário e adicional,
D D#o A F#7
No fim do ano, a comissão é uma bolada
Bm7 E7 A
Dá exploração deste petróleo do Pre-Sal


D
Mama na têta de cá,
A
Mama na têta de lá
Bm7 E7 Em7 A7
Mamar na têta no Brasil é profissão
D
Mama na têta de cá,
A F#7
Mama na têta de lá
Bm7 E7 A
Quanto mais têtas, menos povo e mais ladrão

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Hoje, 23 de janeiro, papai completaria 87 anos...


Foto de papai no São Francisco, em 1988


10 anos se passaram desde que nos deixou.
Hoje sinto uma ausência física, ausência da voz, das risadas e do olhar, as vezes emocionado, as vezes bravo, fulminante, mas a maior parte das vezes, rindo, feliz, fazendo ironias ou piadas com algum acontecimento.
A saudade da amizade, carregada na lembrança de algumas fotos.

Hoje com meus filhos na faixa dos quase 30 anos, penso que poderia te entender mais, conversar mais sobre coisas mais importantes, não perder tempo com discussões sem sentido, numa forma de me afirmar junto a voce.

Bem que vc poderia estar aqui hoje, fisicamente falando, para trocar uma ideia, me dar um conselho...
Hoje com quase 60, as vezes me sinto perdido, inseguro, quando tenho que mostrar segurança e firmeza ao tratar com meus filhos. Tentar explicar a eles que envelhecemos por fora, neste corpo que nos carrega, mas por dentro somos ainda jovens, tentando aprender a lidar com as dificuldades da vida.
Sei que voce fez o melhor, por que eu tambem tento fazer o melhor para meus filhos.
E se hoje eu tento passar para eles o que voce passou para mim, é por que voce soube dar de si, soube doar seu amor, fez de mim uma pessoa, um ser humano, na liturgia da palavra.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Crônica de uma morte precipitada



1967. Todo domingo era assim. Acordava cedo.
7 da manhã e lá estava eu a lavar o carro de meu pai. Chevrolet 1954, Bel Air, 4 portas, azul claro com teto branco, comprado de meu tio há 5 anos e extremamente bem conservado. Seus 6 cilindros em linha forneciam espantosos 110 CV com aproximadamente 3000 cc. Três marchas a frente e uma à ré (como se dizia na época) , sendo a segunda e terceira sincronizadas. Era o conforto sobre rodas. Era um Chevrolet.
Algumas quadras abaixo da minha rua, dois de meus amigos estavam fazendo o mesmo.
O Anjinho, ligando a Caminhonete Ford 1949, vermelhona, motor possante de 8 cilindros em “V” com uns 100 CV de força, caixa seca - isto é, mesmo pisando na embreagem se não desse o tempo certo, ainda arranhava para entrar. E o outro amigo, vizinho do Anjinho, GoodTime.
Sua família tinha uma condição financeira melhor e ele ostentava um moderno Aero Willys 1964, modelo Monte Carlo, cinza chumbo, motor de 6 cilindros em linha, com uns 120 CV disponíveis debaixo do capô e, pasmem, caixa de 3 marchas, totalmente sincronizada. Era uma beleza. Bastava pisar na embreagem, com o motor ligado em qualquer rotação, e a marcha entrava suave. Fantástico. Que tecnologia.
Já tínhamos este costume há algum tempo. Eu, como o mais velho dos três, fui quem iniciou este esquema.
Levantar bem cedo, de manhã, domingo, com o pai dormindo até mais tarde, com desculpa de que vai lavar o carro, tirar ele da garagem, jogar uma águinha rapida e ... vamos nós para uma volta no quarteirão. Do quarteirão para a praça mais próxima foi um pulo e daí para um rolé no bairro foi questão de um mês. Mole...

14, 15 anos de idade, e no controle daqueles “bólidos”... Era demais!!!
Lá em cima, no fim do bairro Sion, em Belo Horizonte, tinha estrada para o Clube Teuto-Brasileiro – um clube de alemães – e na estrada a famosa(pra nós, pelo menos) ”curva do Teuto”, que era encardida de fazer de pé em baixo. Tentei algumas vezes mas o Chevrolet era muito pesado e rodava direto. Tinha que aliviar e dar uma freada antes de entrar. O Anjinho, com a Fordona, com pouco peso na trazeira, saia de frente e subia no passeio, toda vez que tentava. O único que fazia com mais velocidade era o GoodTime. O Aero Willys era mais leve e mais potente. Mas fazia no limite. Varias vezes ele rodou.

Aquele domingo o GoodTime atrasou. Não era costume nosso atrasar. Éramos muito pontuais. Já o esperávamos há uns 30 minutos quando ele apareceu.
-Demorei. Meu pai vai viajar pra Divinópolis e eu tive que colocar toda a bagagem no porta-malas.
Dava pra ver que o carro tinha arriado um pouco a trazeira.
Mas como domingo é domingo, fomos dar nosso “sagrado” rolé e, naturalmente, em nosso caminho estava a curva do Teuto. Eu fui primeiro e dei uma rodada daquelas, quase subi no passeio. O Anjinho veio logo após e subiu no passeio. Ficamos esperando o GoodTime na esquina de baixo, para ter uma boa visão do que ele faria.
O Aero entrou todo torto. O Anjinho gritou do meu lado : - Num vai dar, tá muito rápido, ele vai bater no poste!!!
E não deu outra. Enfiou a frente no poste,
Corremos lá.
Tava tudo bem com ele. O carro amassou um pouco o paralama dianteiro direito e o pára-choque. Mas como eram feitos de lataria grossa (não é como atualmente que a lata é uma casca e o resto é plástico), o Aero agüentou bem a porrada.
-Meu pai vai me matar, falou um assustado GoodTime. Como tinha levantado alguma poeira e sujado o carro ele achou melhor ir pra casa logo e jogar uma água, pra melhorar a impressão do automóvel, antes que o pai acordasse.
-Vou falar que bati no muro em frente ao tirar o carro da garagem, que o acelerador agarrou ou a embreagem soltou do meu pé... vou pensar em alguma coisa deste tipo.
E fomos todos pra casa do GoodTime.
Deu tudo errado.
Quem estava lá na porta de casa, em pé, esperando o carro ? O pai, a mãe, as irmãs e mais bagagem no chão.
GoodTime estacionou o carro e desceu. A porta rangeu e fez um barulho de roda de carro de boi ao abrir.
-Que que isto meu filho, que barulho é este? Perguntou o pai.
-Deve ser falta de lubrificação, pai..
O pai rodeou o carro e viu o pára-choque e o paralama amassados:
- E isto aqui? Também é falta de lubrificação? Gritou o velho já emputecendo...
- Não pai, eu dei uma batidinha ali no muro quando eu fui tirar o carro e eu ia te falar...O pai rodeava o carro a procura de novas evidências da batida. Não achou.
-Foi só ali, murmurava o GoodTime...O resto não teve nada, quer ver? E foi tentar abrir a porta trazeira do lado do motorista. Nada. Tentou, tentou, mexeu no pino da tranca e... nada.
Travadinha.
-A fechadura deve ter travado, é só lubrificar... e deu a volta e foi abrir a outra porta trazeira e ...nada. Travada também.
Bom, desculpa de fechadura já não ia colar.
- Vou tentar soltar a porta por dentro, deixa eu pegar umas ferramentas aqui no porta-malas.

Pra que...
Meteu a chave na tranca do porta-malas e...nada do porta-malas se abrir.

(Nota de Esclarecimento: diferentemente dos carros atuais, que são uma casca e não suportam uma batida, os carros antigos eram feitos sobre chassis de ferro. Toda a lataria ficava presa nele. E bastava uma porrada em um lado do chassis para empenar todo o carro. Nada mais estava alinhado. O que parecia uma simples batidinha foi na verdade uma porrada forte, amortecida pelo chassis, que dividiu seu impacto por todo carro.)

GoodTime ainda tentava abrir o porta-malas, abaixado, de quatro, mexendo por baixo do carro, quando seu pai num acesso de puteza tomou distância e lhe deu um tremendo chute na bunda e gritou pra ele:.
“ POOOOSSO VIAJAAAARRRR? AGORA EU TE PERGUNTO : POOOOSSO VIAJAAARRRR ?

Não ficamos ali pra saber a resposta. Eu e o Anjinho cascamos fora.


Este foi um episódio que sempre lembraríamos em nossas farras, anos depois. Era só o GoodTime aparecer e todo mundo :
“ POOOOSSO VIAJAAAARRRR? AGORA EU TE PERGUNTO : POOOOSSO VIAJAAARRRR ?

40 anos depois, todos nós casados, filhos e muitos planos. A vida seguia.
Mas... (tem sempre um “mas” pra acontecer...) E aconteceu.
Repentino...
Muito gordo, e sempre fazendo regime.
E numa mistura de regimes bravos com exercícios físicos além da conta, veio-lhe um infarto aos 52 anos. Em plena academia, com fisioterapeuta e tudo mais ao lado.
Não houve jeito.
Ele era assim. Sempre foi 8 ou 80.
Era pra fazer uma coisa?
Ele fazia. Com mais vontade que todo mundo, como a curva do Teuto.
Se alguém ia conseguir fazê-la, com pé-em-baixo, este alguém era o GoodTime.

GoodTime nos deixou, contra a vontade de todos: seus filhos, mulher e demais parentes, e, infelizmente, contra a nossa vontade.

Parece que foi outro dia mesmo, a missa de sétimo dia.
E agora, GoodTime, pra quem vamos perguntar:
“ POOOOSSO VIAJAAAARRRR? AGORA EU TE PERGUNTO : POOOOSSO VIAJAAARRRR ? “

A resposta ainda está entalada em nossas gargantas, até hoje, sete anos depois:
-Não, não pode não, amigo GoodTime. Tá muito cedo. Fica mais...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Vegetarianus (microtexto 140 caracteres)







Ela o abordou, interessada. Conversaram. Disse que gostava de verdura. Coincidência, êle também. Mesmo interesse. Amigos? Não, concorrentes.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

7º Lugar no Festival de Poesias na Paraiba

XVII FESERP Divulga Resultado em Noite de Festa

Secretário da Cultura Chico César presigia o evento representando o Governador Ricardo Coutinho




Aconteceu na noite da última sexta-feira, 16, no Fina Flor Clube, da cidade de Aparecida, na Paraiba, o encerramento das festividades alusivas ao XVII FESERP - Festival Sertanejo de Poesia - Prêmio AUGUSTO DOS ANJOS.


Poesia classificada :



Para Isabela e (lamentavelmente) muitas outras crianças...


Manchete estampa de horror nossa tela :
Por que mataram Isabela?

No momento, um acesso... foi-se a vida...

Será tino moldado e insano,
Curtido em reverso, faz ano,
Fazendo mente entorpecida
Exibir seu perverso, seu profano?

Que feroz animal
Investiria com fúria, sobre a cria
Despejaria ira
Forjaria a dor
Esmagaria o amor,
Poria final
Na vida que criou um dia?

Quem perpetua tal ato
Perpassando a armadura da tela
Atirando sem rumo no espaço
O amor paterno, o terno abraço,
Também deixa em pedaços
O laço sagrado do sangue...

Comete, de todos, o maior dano:
Rompe na espécie, sequencia que expande.
Vence, nele, a solitária e urdida besta,
Morre nele,
No ser,
O humano...

sábado, 17 de dezembro de 2011

Doce menina

Onze horas... Te espero
No muro da esquina
-Oh! doce menina
Não vá demorar

Eu sei teu caminho
Conheço o olhar
O azul mais marinho
E a inveja do mar..

Parece um
Bombom tua boca,
Ao beijar peço bis,

Exala alfazema
Teu corpo,
Teus olhos, brilhando,
Jujubas de aniz.

Mas sigo na esquina,
Sentado, a esperar...
És doce, menina(e tu és),
Quão doce pra mim
É sonhar...

domingo, 4 de dezembro de 2011

A Lista

Letra e musica de Oswaldo Montenegro


Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?