sábado, 8 de outubro de 2011

O Amor é Fogo

Rodrigo Guimarães Pena - 2005

Pedi ao Vento, ao Sol e ao Mar,

Que ajudassem conquistar

Seu coração só para mim...


De pronto, se deram à lida.


Num piscar, sem perder tempo,

Foi dizendo logo o Vento:

“Tenho resposta correta

Para atingir tão nobre meta

De um coração conquistar:

Mandarei buscar nas alturas,

O ar que faz manhãs mais puras,

E volta a Terra, o vou lançar.

Mas, não sem antes perfumá-lo

Com essências de floresta

E em lá chegar, pareça festa,

Acompanhado de mil flores

E do ofegar de mil amores...

E em caricias, qual cetim,

O juízo indiferente

Que habita inquieta mente,

Se veria tão cercado

De desejos, salpicado,

Que faria, certamente

Ela se apaixonar, pois sim !


“Nada disto, nada disto”,

Disse o Sol em fala forte :

“A maneira que conheço,

A que deve trazer sorte

E um coração pode afetar,

Manda meus raios tocarem

Da cabeça ao calcanhar...

E em tocando lhe enviarem

O calor que em mim faz lar,

E este amor de amante quente,

A faria, certamente,

Se apaixonar , enfim...”


“Um momento, um momento,

Não é fácil assim

Como flama o sol

Ou sopra o vento...

Permita-me (objetou o Mar com propriedade

De conhecedor das humanas veleidades ) :

“Evoco aqui a velha dita,

Difundida em minhas vagas

Que ao final vale a escrita

- difere como afagas...

E qualquer corpo, sabe bem...

Há em meus domínios, mais alem,

Mansidão nas marés calmas,

E as sereias flertam almas

De perdidos navegantes...

Onde gotas de salinas águas

Curam males dos amantes,

E transformam velhas magoas,

Perdulárias, torturantes

Em prazer antecipado

Como o beijo mais molhado,

Enviado a quem ressente,

E seu poder entorpecente

Traria assim, perdida a mente,

Um apaixonar por si, sem fim...”


Arrebatado com a surpresa

De rogada cortesia

Por instante pus-me em prantos,

e entre o choro agradecia

A toda aquela natureza

Ali disposta a me ajudar.


Mas, de repente surgiu o Fogo...

Me envolveu , como uma presa,

E em labaredas abriu o jogo

E pôs-se, aos brados, declarar:


“Atentai, pobre mortal,

Pois este dito é o teu final:

Estarás fadado ao fracasso,

Se eu ,o Fogo e o que faço,

Deste empreito me ausentar...

Não contemplarás sucesso

Nem haverá chance ou acesso

De outro fim poder criar...

Por mais que tentem impor

A tão bela criatura,

A paixão total, sem cura,

Que nasce ou vem do amor,

Se eu, o Fogo em pessoa,

E não me chamam Fogo a toa :

Sou criador de dores latentes,

Detentor de altas patentes,

Perpetuador do sentir doído,

Idealizador do ciúme antigo

Das crises de magoa e loucura,

Das insanas fomes de candura,

E representante por excelência

Da dor forjada em carência...

Se eu, não estiver nela presente,

No âmago deste ser descrente,

Então, ter-se-á, malogrado final,

Eu diria...

Quem sabe, linda ode ou poesia

De um amor platônico fatal,

Ou vulcão ardendo em noite fria

Lançando brisas qual mistral

Num oceano em calmaria...

E tu, guerreiro do amor, tenaz,

Originado e pretenso capataz

Das ações de morte ou vida,

Irás com o sol, em derradeiro brilho

Não passarás de tosco andarilho

A sofrer com perverso açoite,

Que virá com a escuridão da noite...

E não haverá auxilio ou guarida

Ou alguém, por piedade sentida,

Do teu rastro, de sofrido casto,

Encontre algum traço e persiga ..


Tenho dito.”