quinta-feira, 19 de junho de 2014

Restos de uma vida...



Restos de uma vida...


A noite desce. Estou muito só.
Só, sem ontem, sem amanhã.
Não sinto nada à minha volta.
Sobrevivo inventando mentiras, falsos agrados e risos.
Imaginação... e restos dela.
Duas ou três lembranças constantes me fazem companhia...
Não dá pra esquecer. São lembranças não digeridas.
Gostaria que não estivessem aqui amanhã, ao acordar...
Nada acontece, de melhor ou pior...
Fecho a janela. E todas as coisas que entram por aí...
Uma brisa quente, um cheiro forte, salobro, se mistura ao 
Sofrimento lavado pelas nossas lágrimas, ainda quentes,
Choradas quando abraçados, na praia, naquele dia...
A maré crescente, nos levou ao fundo e
Ninguém deu por falta de nós...Morremos juntos, mais uma vez...
São cinco horas, de uma madrugada qualquer, num mundo qualquer.
A noite se prepara para ir embora: "Não vá ainda, fique ao entorno,
Me salve de mim, me tome de vez, ou me mate...
Ou volte no tempo e traga de volta quem já me esqueceu..."

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Subitamente...




Um clarão cegou a todos. Subitamente...
Nada se compara ao som de uma bomba. A não ser o impacto do deslocamento do ar que provoca.
Fui jogado contra uma banca de revistas.
Quando comecei a perceber o mundo, senti uma enorme dor em meus ouvidos, dilacerados.
Estilhaços rasgaram minha camisa e cortaram minha pele.
A poeira começa a baixar. Pequenos incêndios, aqui e ali.
Há semimortos na calçada. Uma chuva de pedaços de qualquer coisa cai sobre nós. Um cheiro de enxofre e carne queimada toma conta do ambiente.
No meio-fio curto, algumas sombras hirtas de seres que ainda não tomaram senso do ocorrido, olham para lugar nenhum.
A praça onde acontecia o show, larga e convidativamente tranqüila, se estreita e fica pequena diante do horror ali perpetrado.
Sirenes começam a ser ouvidas entre gritos e lamentos.
O dia fica histérico.
Passo as mãos em meu corpo. Sangue escorre em minha calça, junto ao joelho semiflexionado.
Rasgo a calça num frenesi louco, esperando encontrar a origem dele. Nada. Não era meu.
Perto de mim há um corpo estendido. Homem. Seu rosto beija o duro asfalto. Deduzo pela sua complexão muscular, exibida entre os rasgos da camisa pulverizada, que trata-se de um jovem. De sua cabeça partida ao meio, brotam suadas trilhas vermelhas, colhidas por uma dura e indiferente calçada. Antes escuros, seus cabelos estancam manchados, rubros de insanidade. Tem a idade de meus filhos. Não contenho as lágrimas. Fico ali olhando hipnotizado, como se quisesse imaginar tudo que ele poderia ter sido um dia. Penso no pai dele, na mãe, nos irmãos... Choro muito.
É noite.
Espelha o luar na poça que se forma com o sangue do infeliz, refletindo nela a violência, a miséria e a solidão daqueles tempos.
Eternas? Até quando?  As vitimas daquela crueldade arraigada deveriam estar se perguntando em uníssono em seu estertor final.
Chega a policia.
Enquanto os rabecões transportam os corpos, muitos aos pedaços, a estatística se preenche com seu números insensíveis, permanentes, purgados e infindos...
A bomba expô-se às pessoas, suas vidas e sonhos, e repentinamente, delas levou tudo. Delas não levará mais nada.
Ao final, riu-se de todos, cínica.
E infiltrou-se, um pouco mais, em nosso âmago amargo, patético, morfético, impotente...
Levantei e caminhei sem rumo, ainda com o ressoar da bomba em meus ouvidos cansados.
-Até quando? Até quando? – berrei em voz alta...
Parei um táxi e entrei.
-Me leva daqui....e desmaiei no banco.

domingo, 9 de março de 2014

Trovas descompromissadas

Participo de um grupo de Trovas no Facebook...
São trovas feitas à partir do 4o. verso.
Resolvi postar algumas descompromissadas...

Esquecendo tantos ais,
Que trago na bagagem,
Me renovo em Carnavais.
Abram alas, peço passagem...
Abram alas, peço passagem...
Trago comigo a tristeza.
Se alguém quiser seguir viagem,
Saiba: não espere por moleza...
E quem tem fé, se auto cura",
Diz Francisco José da Costa...
Mas carece de fé quem procura
A Fé, onde a vida perdeu a aposta...
E todo sorriso é agradável,
Até quando a vontade é pouca;
Pois manda a etiqueta louvável:
A Educação começa na boca..
.
Conosco irá pela estrada,(HM)
Que percorre nossa emoção;
Conosco será sempre amada,
Pois é fruto de nossa paixão..
Divinopolis
Oh! linda e Divina Pólis,
Filha mais velha de meu Pitangui... 

Hoje és senhora, imponente e majestosa acolhe
Os pitanguienses que sonham riqueza e partem em busca de ti...
Serenos, cultivemos o amor...
Que amor-sereno cultivar?
Escolha o fraterno, a amizade ou o fervor.
Pois serenidade e paixão não fazem par...
... pois serenidade e paixão não fazem par
quando a mente e razão travam disputa.
Serenidade é poesia, é o leite quente ao se deitar;
Paixão é o gol, é a eleição, é a adrenalina da luta....
Mudando nossa conduta,
Alteramos nosso viver.
Na mente: música se imputa;
No corpo: vinhos, mulheres, prazer...
Para poder caminhar
À beira de abismo profundo,
Eu me ponho a perguntar:
Existe Justiça no mundo?
Existe Justiça no mundo?
Talvez alguém me responda:
Estava aqui, há um segundo...
Quem sabe foi fazer a ronda...
O escandalo, e abafou...
Ninguém disse mais nada.
E o constrangimento se espalhou
Como chuva que escorria na calçada...
Como chuva que escorria na calçada,
Minha mente divagava em pensamentos...
Os raios e o estrondar da trovoada,
Traziam pavor intenso àqueles tempos...
Cont...
 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Sementes da poesia



Neste domingo 16/2 comemoramos 8 anos do projeto "SEMENTE DA POESIA" , conduzido pela artista plástica e poeta Regina Mello.
Em homenagem a ela e ao projeto escrevi o poema abaixo.






Semente

Semente é o começo, é a origem, é o contato, semente é a conexão,
Semente se infiltra, se enfeita, se forja, semente se falta será comoção,
Semente tem força, tem forma, se agita, se ajeita, se acama no leito, no chão;
Semente se pouca, se parca, se poda, semente se farta,
Semente que não sai do chão...
Semente se compra, se vende, se rouba, se mente somente, semente é prisão;
Semente que cresce, que nasce,  que finge que morre mas não morre não;
Semente se arranca, se implanta, se espanta, se encanta ao se ver em botão;
Semente se bebe, se fuma, se injeta, se abate ou se apruma,
Semente do cão...
 
Semente, semente, semente, semente, semente...

Tudo que existe, um dia, se insiste e resiste,
Semente já foi,
Não importa se osso, se corpo, se unha, sem nome ou alcunha;
Semente primeiro ou semente depois;
Semente no ninho, na idéia, sozinho,
Semente se perde, sem ter atenção;
Semente se busca, de bike ou de fusca,
Semente tem hora, momento e ação;
Semente dá flor, da peixe, dá homem,
Semente no mar, na água, na fome,
Semente que some, semente é o meu coração,
Semente irradia, semente percorre,
Semente na seiva, na pinga, na cerva,
Semente no barro, semente no porre,
Semente está dentro, as vezes de fora,
Semente que vem, que vai, foi embora,
Semente é mistério, semente é o broto
Semente no preso, semente no solto,
Semente é harmonia, semente faz dia
Semente é domingo, semente na praça,
Semente que chora, semente acha graça
Semente-poesia que nasce qual pêlo,
Semente no som, semente no belo,
Semente é Regina, semente de Mello,
Semente é a luz, é o amor, é o zelo,
Semente acabada, encoberta, incubada
Semente é Cabelo, Cabelo, Cabelo....

.





sábado, 1 de fevereiro de 2014

Pensão Familiar





O quarto é simples, quase pobre.
A mobília antiga contrasta com a cama de casal de armação metálica, molas e um colchão de espuma.
Duas mesinhas de cabeceira, mostrando sinais da idade nos descascados do verniz.
A chama do lampião à querosene, com vidro sujo e embaciado, se alterna vacilante ao sabor de uma pequena corrente de vento que insiste em penetrar no lugar.
Ao fundo, uma janela de caixilhos de ferro carcomidos pelo tempo e dois vidros trincados, evidenciam contornos do exterior.
Venta.
Duas árvores rangem se negando a curvar sob a intempérie que as imola.
Adivinha-se através delas a inquietude bravia do lugar...
Um cheiro ácido emanado da terra molhada por uma chuva medrosa, traduzia a própria dormência em que a natureza do entorno havia se deixado permear.
A luminosidade dentro do quarto
é insuficiente.
O realce e o brilho da chama provocam sombras nas paredes nuas e encardidas, à medida que se aprofunda o entardecer.
A sensação de peso morto contagia o ambiente e a sensualidade que esteve ali contida não parece mais dar sinais de existência nos dois corpos nus, saciados, que repousam na desordem dos lençóis.
O negrume da noite que se anunciava, preenche rapidamente o cômodo, aumentando o tom lúgubre que reina.
O som cantado de uma dobradiça de porta oxidada não é propriamente um barulho especial naquela espelunca, que a dona insiste em chamar Pensão Familiar.
Muito menos o som de passos pesados confundidos com os de passantes apressados no corredor contíguo ao quarto, que faziam a madeira do assoalho gemer.
A chuva aumenta.
Raios e lampejos pipocam flashes, como se fotografassem o ambiente e de seus ocupantes.
A chama do velho lampião serpenteia impotente, e as sombras que marcam as paredes, iniciam uma dança descompassada com figuras disformes, numa vã tentativa de acordar os amantes, como se antevisse o que estava para acontecer.
E, se não fosse pelo som abafado de quatro estampidos secos, seguidos, rápidos e precisos, aquele seria mais um mórbido entardecer ensaiado pelo dia e colhido pela chuva de verão.
Os corpos não tiveram chance. Foram pegos na surpresa de um sonho mau.
Bad dream, bad dream...
Espasmos e gestos contorcidos sinalizaram a reação inútil aos projéteis de 9mm que os penetrava, dilacerando-os, sem encontrar a menor resistência.
Lá fora a tempestade elétrica mostrava sua força.
Um brotar incessante de sangue começa a manchar os outrora quase brancos lençóis.
O assoalho geme novamente, fazendo dueto com as mesmas dobradiças enferrujadas.
A chama que se agitara com a abertura da porta e com o vento encanado, quedou-se finalmente, ereta e suave.
As sombras, agora, jazem estáticas, quietas, perfeitas.

Um trovão na noite, um grito de mulher e uma sirene...
Nada mais comum de se escutar naquelas paragens, nada mais comum...

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Espuma & lama...



Espuma & lama...


Porque um dia eu fui
Fundo e me envolvi num desejo
Febril, me dissolvo, qual espuma das ondas,
No mar se dilui,
Quando as vagas, rebeldes se acalmam...
Pensamentos, qual sussurros de uma voz,
Formam momentos de vidas perdidas, passadas, 
Roubados de nós.
Deixam evidentes traços nas folhas
Caídas nas sujas calçadas da rua.
Banhadas pela chuva...
São elas colhidas e levadas ao leito do rio
Que as perde em suas águas nervosas,
Indiferentes aos dispersos despojos,
Que ora carregam um saco de estrume,
Ora um lindo buquê de rosas...
Se misturam e se vestem de lama
Diluídas ao final, como parte da trama...
E como a vida acontece e é tirada de nós,
O rio também é roubado das águas,
Pelo mar, 
Que em desejo febril o abraça, 
...e o dissolve de vez,
 lá na foz...

Serenata ao luar...





Um olhar sem igual
Que me põe a sonhar
Que me faz ter um céu só de sonhos...

Você sabe,
seus olhos são como estrelas que irradiam 
seu brilho encantado no ar... 

Deixa-me disperso até a ruptura do dia 
No vale dos sonhos da noite...
 
Apenas, eu e você e
Um céu de verão...
E uma brisa suave,
Beija as folhas das as árvores.

 Assim, não me deixe esperar. 
Eu aqui, à sua porta, canto um sonho de ninar.

Uma canção de sonhos de amor pra você,
Minha serenata de amor, ao luar...

sábado, 4 de janeiro de 2014

2014: continua a Viagem





Não há como refazer o passado.
Hora e outra é o passado
Que aparece e refaz o presente,
Modifica o futuro.
Resta-nos pois, a alternativa
Da viagem interior,
A viagem mística de que tanto falam.
Mas, onde colocaremos a bagagem de realidade que nos cerca?
Acho que no fundo, todos só se preocupam em
Fazer uma boa e perfeita viagem exterior ativa,
Pois é ela que aparentemente, satisfaz a escaldante exigência
De transformar a vida, tal como se quer.
Mas ter novas experiências,  
Parece ser a chave do prolongamento e
Da manutenção do conceito de renovar.
E experiências novas podem ter o caráter
De “viagem de férias”, de interrupção do cotidianismo
Na nossa banalidade existencial.
Surgem como uma espécie de fuga,
Uma aventura no imaginário protocolar do comportamento.
Sua força reside em fabricar um vírus ou um script de dados
Para tentar fixar-se em nosso cérebro póscomputacional,
Com registros em nosso Bios natural, que
Perseguem posições duradouras,
Permanentes, e que encriptam
A nova realidade, finalmente, proposta e aceita, e preservam-na.
É como um decodificador de impulsos e sensações,
Instalado numa nova rede que usa  intersecções
Em caminhos pautados anteriormente.
A rede é nova, propõe alternância de usos,
Mas as ligações e as conexões...
Bem, estas são feitas por partes desgastadas, moldadas, carcomidas, calejadas...
É fica difícil a instalação desta nova rede.
Vai exigir do nosso processador um funcionamento espetacular.
Man, this is fuckin crazy...
É não é pra qualquer um...
Mas voltando à nossa viagem:
O símbolo institucional desta viagem, que aparenta “férias”,
Ou desta aventura “marginal”, obviamente é o Outro.
Nele estão contidas as expectativas, os anseios,
A plenitude, os desejos, o nirvana eterno...
Nele está a viagem interior proposta.
Tudo caminha, inexoravelmente, em direção ao Outro,
Que deverá ser este lugar maravilhoso e perigoso,
Ao mesmo tempo, um vulcão explodindo em pradarias tranqüilas,
Acessos de fúria em momentos de meditação,
Instáveis e aconchegantes abraços,
Ternos e espúrios beijos,
O imponderável junto com o inacessível,
O abismo do prazer rodeado por uma paixão litorânea
Que se mostra pura mas, inconscientemente, letal.
Um amor imperfeito, mas pleno e insuportavelmente real.
Ame... e boa viagem!