terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Marco Antônio Araujo Pena

Há exatos 28 anos, num final de dezembro de 1985, eu recebi a noticia que meu primo Marco Antônio tinha sofrido um infarto e estava internado no Prontocor.

Um choque completo. Marco Antônio tinha 36 anos, três anos mais velho que eu. Para mim era inconcebível infarto naquela idade.

Chegando ao Hospital disseram que tinha sido um AVC.  6 dias depois estava morto.

Marco Antônio era referencia para nós, primos mais novos, pela sua rebeldia, pela sua forma de ser, sempre independente. Tinhas brigas terríveis com tio Miguel, pai dele, que não aceitava sua forma de vida. Abandonara o curso de Economia e "fugira' pra Londres, com a ajuda de Tia Ligia, pessoa fantástica, amiga e que socorreu Marco Antônio em suas dificuldades.

A ultima vez que estive com ele foi num show que fez no La Taberna, ali na Rua Sergipe.
Depois só no Cemitério.

Abaixo um pouco de sua biografia, escrita
por Marcelo Feitosa.

Marco Antônio Araújo nasceu no dia 28 de agosto de 1949 em Belo Horizonte, Minas Gerais. Mesmo não tendo nenhuma influência musical em sua família, o seu destino já estava traçado para a arte. Em 1968, Marco Antônio entrou para uma banda chamada Vox Populi, que ainda chegou a gravar um compacto através de um pequeno selo chamado Bemol.


Sua primeira influência direta foram os Beatles. Porém, em 1970, quando já estava morando na Inglaterra, logo se tornou fã de bandas como Pink Floyd, Led Zeppelin, Deep Purple e Genesis. Aquele movimento todo causou fascínio em Marco Antônio, que resolveu voltar para o Brasil, com o intuito de tocar. Chegando ao Rio de Janeiro, iniciou os estudos em Composição Musical, violão clássico e violoncelo, tudo na universidade federal do estado. Nesta época compôs a trilha sonora para a peça Rudá dirigida pelo ator/diretor José Wilker e o balé Cantares para o grupo Corpo de Belo Horizonte.

Em 1977, regressando à sua terra natal, depois de prestar concurso, ele entra para a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, onde ficou até o fim de sua vida. Conciliando o trabalho de músico de orquestra com sua produção independente, começou a fazer shows com produção independente que começaram a atrair um público cada vez maior.


Entre 1978 e 1979, com um grupo de músicos formado por Carlos Bosticco (flauta), Hannah Goodwin (violoncelo), seu irmão Alexandre Araújo (guitarra), Gregory Olson (contrabaixo), Benoir Clerk (trompa) e Sergio Matos (percussão), apresentou os shows Fantasia e Devaneios. Nesta época homenageou John Lennon num show batizado de John Lennon Remember que contou com a participação da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e do Corpo de Baile da Fundação Clóvis Salgado, além de um grande coral.

Com o passar do tempo, várias mudanças ocorreram na formação e o som do grupo possou adotar uma linguagem mais ampla ao mesclar novos estilos musicais, seguindo uma linha mais progressiva. Com a banda agora formada por Alexandre Araújo (guitarra), Ivan Correia (baixo), Mário Castelo (bateria), Eduardo Delgado (flauta), Antônio Viola (violoncelo), Max Magalhães (piano) e Lincoln Cheib (bateria), Marco Antônio Araújo começou a realizar shows e, finalmente, gravar álbuns.

Seu primeiro trabalho foi o disco “Influências”, lançado em 1980, que mesclava com muita excelência a música popular com a linguagem erudita. O LP foi um sucesso de crítica e público, tanto que, a partir daí, a banda realizou 74 shows, se apresentando até em refeitórios de fábricas na hora do almoço. Mas ainda era pouco para Marco Antônio.

Em novembro de 1982, lançou seu segundo disco independente “Quanda A Sorte Te Solta Um Cisne Na Noite” e seguiu divulgando seu novo trabalho em 40 cidades, através do projeto Acorde Minas. Mesmo com muitos shows agendados, o músico ainda achou tempo de produzir discos, como o do compositor Lobo de Mesquita.

Já em 1983, sem contar com os músicos que o acompanhava, Marco Antônio Araújo lança “Entre Um Silêncio e Outro”, disco de produção requintada que contou com a participação do artista plástico Moacir Scliar que pintou a capa sob inspiração das músicas do álbum.

Em 1984, sai uma coletâna chamada “Animal Racional”, porém, em meados de 1985, lança seu quarto trabalho inédito, intitulado “Lucas”, nome do seu segundo filho. Dessa vez, se integra ao grupo Mantra e faz vários shows pelo país e exterior, divulgando esse disco.

Mas nem tudo estava tão bem como parecia. No dia 6 de janeiro de 1986, devido à uma aneurisma cerebral, depois de ficar 5 dias em coma profundo na UTI do Prontocor de Belo Horizonte, Marco Antônio Araújo vem a falecer. Os médicos não sabiam qual havia sido as causas da hemorragia cerebral que ele havia sofrido. O músico que havia regressado sozinho para BH com o objetivo de receber o prêmio de melhor instrumentista do ano concedido pela revista VEJA, mas infelizmente não chegou a receber. Uma enorme perda para a música brasileira.

Abaixo o único video que consegui, onde Marco Antônio aparece tocando e conversando sobre sua turnê.   Depois duas de suas musicas, onde mostra por que foi um dos maiores compositores de musica instrumental de sua geração.

 


domingo, 15 de dezembro de 2013

The Manhattan Connection´s theme - video

Como prometi , aí vai o vídeo da gravação no estudio do Fernando.





Melhor em tela cheia.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

...e a musica se fez no Manhattan Connection...

Finalmente, resolveram qual seria o programa 1000.

E nossa musica serviu de fundo para uma retrospectiva de trechos dos programas anteriores com os personagens que dele participaram.

Muito nos honrou participar desta homenagem ao programa do mineiro Lucas Mendes Campos,  a seus parceiros e convidados, não esquecendo a todos da produção, na pessoa da Angélica.

Parabéns !


Abaixo segue um trecho do programa onde a musica, cantada pela voz maravilhosa de
Livia Tucci
foi fundo musical de uma retrospectiva.






Abaixo a letra da musica, que como dissemos foi reduzida.

MANHATTAN CONNECTION
Lyrics: Rodrigo Guimarães Pena
Music: José Namen

MANHATTAN CONNECTION
COOL TIPS, SOME FASHION
HOT NEWS AND GREAT ATTRACTIONS
FOR TOTAL SATISFACTION
MANHATTAN CONNECTION.

THOSE FIVE GUYS ARE SO SMART AND WISE
IN CULTURE, POLITICS AND BARS
IT IS THE BEST THAT YOU CAN FIND
ON YOUR TV TONIGHT.

AND WHEN THEY TALK ABOUT MONEY
MAKE SURE YOU WILL NOT LOSE THE ACTION
IF YOU´RE SMART AND LIKE TO PARTY
GET READY! HERE IT COMES!

MANHATTAN CONNECTION...
COOL TIPS, SOME FASHION
HOT NEWS AND GREAT ATTRACTIONS
FOR TOTAL SATISFACTION
MANHATTAN CONNECTION.



No proximo post, a gravação...

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

The Manhattan Connection´s theme


Gravamos !!!


abaixo nossa foto, no dia da gravação, no Estudio Fernando Delgado.


Da esquerda pra direita: Rodrigo Pena, Felipe Villas Boas, José Namen, Livia Tucci, Bruno Vellozo e Fernando Delgado







Abaixo um clip do programa de ontem (1/11) onde o Lucas deu uma palinha da musica, que vai ser mostrada por inteira no domingo que vem(8/11) quando se comemoram os 1000 programas Manhattan Connection.






Parabéns ao Lucas, ao Caio, Diogo, Ricardo e Pedro.

Um parabens especial à Angélica, responsável pela "Connection" no nome, e sem a qual o Lucas estaria perdido...
(Me telefonou de Nova York para elogiar a musica. 
Um doce de pessoa.)




sábado, 30 de novembro de 2013

Átimo





Lençóis brancos. 
A textura do cetim.
Convite a sonhos perfeitos...


Um piano triste se houve ao fundo
As teclas gemem, sofrem e choram
Perdidos, sem noção do tempo,
A eternidade nos envolve.
E o amor, atento, faz dormir o mundo...

Sentimentos, dores, lembranças... Fogem.
Resta uma luz, um clarão rápido, fictício.
Transcendemos, à beira do precipício... E caímos.

O mundo acorda, espia,
E os sonhos somem...

sábado, 16 de novembro de 2013

1000 programas Manhattan Connection


Manhattan Connection comemora o milésimo programa.  

Comandado pelo competente Lucas Mendes, é um dos programas que eu sempre assisto. Desde a época do Francis, do Nelsinho.  Já se vão 20 anos desde o primeiro, em 1993.

O Lucas, além de Mendes é Campos. Seu pai era José Fiuza Campos, lá de Pitangui, cidade dos meus Guimarães. Um dos Guimarães mais ilustres - João Guimarães Rosa - disse que os "sertões são muitos" ; eu parafraseio-o dizendo que os Guimarães também são muitos. E Lucas, por ser primo de primo meu, sabe que os Guimarães e os Campos estão ligados por sangue há algumas gerações.

Em sua homenagem (Lucas), ao programa e ao Caio, Diogo, Ricardo e Pedro, e aos demais que por lá passaram - sem se esquecer da competente Angélica, escrevi um letra que está sendo musicada pelo não menos competente José Namen, arranjador e pianista fantástico. Aguardem para breve. Prometo não cantar. Deve ser interpretada por uma cantora com domínio do inglês.




Manhatthan connection
letra : Rodrigo Guimarães Pena     Musica : José Namen


 Manhatthan connection,
hot news are distractions, Uh!Uuuuh!
Manhatthan connection,
cool tips, some fashion, Uh!Uuuuh!

Manhatthan connection
cool tips,  some fashion,Uh!Uuuuh!
Manhatthan connection,
hot news, and distractions

We are in the right direction
brings us complete satisfaction, Uuuuh!
Manhatthan connection,
cool tips, and some fashion, Uh!Uuuuh!
Manhatthan connection,
cool tips, some fashion, Uh!Uuuuh

The brazilians (five),
so smart and so wise,
in culture and arts, in politics, and bars
(and drinks, too)


if you're feeling so tired,
as in the end of a fight,
and want to calm down to sleep or relax

the best you can find,
in your tv, at night,
the best you can do, without paying,
or complaining, and no pain and no tax ...

Is Manhatthan connection,
cool tips, some fashion,Uh!Uuuuh!
Manhatthan connection
hot news are distractions, Uh!Uuuuh!
Manhatthan connection,
We´re in the right direction ,Uh!Uuuuh!
Manhatthan connection,
give us satisfaction, Uh!Uuuuh!


But if the subject is money,
or what will come or demand,
(Or who will need an attorney…)
please do not lose the action,
and keep your attention on our economics Section…

But, for you who are smart
and prepared for the party
(are you ready, can it start?)
Cause here comes, it comes, it comes, it comes…
the  Manhatthan Connection.

Manhatthan connection,
cool tips, some fashion,
Manhatthan connection
hot news, and distractions
Manhatthan connection
We are in the right direction
give us complete satisfaction,Uh!Uuuuh!
Manhatthan connection,
give us satisfaction Uh!Uuuuh!
Manhathan conecction,
hot news and distractions,
Manhathan conecction,
Manhathan conecction
Manhathan conecction,
Manhathan conecction,
Manhathan conecction…

give us sa-tis-fac-tioooonn,
Uh!Uuuuh!




quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Poemas de FERREIRA GULLAR




VOLTAS PARA CASA
ferreira-gullar-rosto-metade

Depois de um dia inteiro de trabalho
voltas para casa, cansado.
Já é noite em teu bairro e as mocinhas
de calças compridas desceram para a porta
após o jantar.
Os namorados vão ao cinema.
As empregadas surgem das entradas de serviço.
Caminhas na calçada escura.

Consumiste o dia numa sala fechada,
lidando com papéis e números.
Telefonaste, escreveste,
irritações e simpatias surgiram e desapareceram
no fluir dessas horas. E caminhas,
agora, vazio,
como se nada acontecera.

De fato, nada te acontece, exceto
talvez o estranho que te pisa o pé no elevador
e se desculpa.
Desde quando
tua vida parou? Falas dos desastres,
dos crimes, dos adultérios,
mas são leitura de jornal. Fremes
ao pensar em certo filme que viste:
a vida, a vida é bela!

A vida é bela
mas não a tua. Não a de Pedro,
de Antônio, de Jorge, de Júlio,
de Lúcia, de Míriam, de Luísa...

Às vezes pensas
com nostalgia
nos anos de guerra,
o horizonte de pólvora,
o cabrito. Mas a guerra
agora é outra. Caminhas.

Tua casa está ali. A janela
acesa no terceiro andar. As crianças
ainda não dormiram.
Terá o mundo de ser para eles
este logro? Não será
teu dever mudá-lo?

Apertas o botão da cigarra.
Amanhã ainda não será outro dia.
 
 
 ferreira-gullar-rosto-metadeNão há vagas


O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira


ferreira-gullar-rosto-metade

Traduzir-se


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
 
 
 

domingo, 27 de outubro de 2013

Estes senhores estão fazendo 72 anos. ..


Parece que foi ontem...

Era fim de 68, inicio de 69... 
Férias em Belo Horizonte. Domingo, à tarde.

O Cine Metrópole, um das maiores casas de cinema da cidade estava lotado. Lá fora uma multidão de adolescentes esperava conseguir entrar e assistir àquela sessão.
Muitos tinham chegado pela manhã. Filas e mais filas se formavam, completamente inúteis, pois ninguém obedecia a elas ... 
Alguns eram tirados do cinema pelos lanterninhas, à força, para que a próxima bilheteria pudesse entrar ( Uma coisa destas só tinha acontecido com "HELP!", dos Beatles, no ano de 1966/7.)

O Filme:
 "Primeira Noite de um Homem ( The Graduate) produzido em 1967, com Dustin Hoffman, Anne Bancroft, Katharine Ross, com a excepcional trilha sonora composta especialmente, por uma dupla ainda desconhecida para nós :

 Paul Frederick Simon (October 13, 1941, Newark, NJ) e Arthur Ira "Art" Garfunkel (November 5, 1941, Queens, NY).

Ou simplesmente SIMON & GARFUNKEL.

Depois daquele verão, eles seriam nossa eterna trilha sonora. Minha, de meus filhos e quem sabe um dia, de meus netos...

Abaixo dois momentos deles:

- ainda no começo de carreira, em 1966...

 
- e dois anos atrás...



Cazuza iria me invejar,  pois meus heróis não morreram de overdose. Estão aí, cantando maravilhosamente...

Que vivam para sempre !

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Para a última baleia...(versão que fiz para To the last whale)




 Musica de Crosby, Still & Nash 

To the last whale                                              Para a última baleia..

Over the years you have been hunted           Olho os navios, canhões na proa
by the men who throw harpoons                   Todos armados com harpões
And in the long run he will kill you                 Apontados para o mar azul,
jus to feed the pets we raise,                        Parte um tiro... e logo um grito ecoa
put the flowers in your vase                          Seja no frio, chuva, noite ou dia,
and make the lipstick for your face.             Ou se a baleia leva ao lado a cria...

Over the years you swam the ocean            As águas mansas do oceano
Following feelings of your own                     O seu refugio, lar, nação,
Now you are washed up on the shoreline    E morrem muitas, matam todo ano,
I can see your body lie                                 Culpados somos pela tradição 
It's a shame you have to die                         Dá vergonha, e é cruel demais,
to put the shadow on our eye                     E o mar, vermelho chega ao cais...

Maybe we'll go,                                            Talvez eu vá
Maybe we'll disappear                                 Ver você desaparecer
It's not that we don't know,                          Não é o que eu quero
It's just that we don't want to care.              Não quero ver isto acontecer
Under the bridge                                         Espero mesmo,
Over the foam                                             A caça cessar,
Wind on the water,                                      E singrar nas aguas
Carry me home.                                          ...você, tua cria, em teu lar...

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

100 anos do nascimento de Vinicius de Moraes ( 1913 - 2013)

100 anos do nascimento de Vinicius de Moraes 
( 19/10/1913 - 9/07/1980)

Este ano, em 19 de outubro, se estivesse vivo, um dos maiores poetas da língua portuguesa, faria 100 anos.

Não pode passar em brancas nuvens. Abaixo algumas fotos e poemas.




Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
               

    



Tomara

Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho

Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...



  Um lugar que gostava de estar, ler e beber, descansar: 
a banheira, e onde foi encontrado de manhã, pela empregada e Toquinho.

 Soneto de separação


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.



Vinicius e o copo de uisque. Dizia ele :
"O uísque é o melhor amigo do homem. É o cachorro engarrafado."



Pátria minha

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama…






sábado, 12 de outubro de 2013

Que as crianças cantem livres...

Neste 12 de outubro, dia das crianças, posto homenagem que tem dupla finalidade:

  homenagear as crianças. As minhas, as suas e a que fomos um dia, 

com uma musica feita para elas, e para o que representam: o futuro. 

E homenagear um dos gênios da raça brasileira. 

Seu nome: Taiguara.

Muito injustiçado e pouco reconhecido.

Ele nos deixou muito cedo, aos 50 anos. 

A musica linda e a maravilhosa letra, foram feitas numa época difícil, em plena ditadura.

Ao final, uma pequena biografia, para os que não o conheceram.

Desfrutem da poesia e da musicalidade deste brasileiro ímpar, excepcional letrista e pianista.

 

  Que as Crianças Cantem Livres

O tempo passa e atravessa as avenidas
E o fruto cresce, pesa e enverga o velho pé
E o vento forte quebra as telhas e vidraças
E o livro sábio deixa em branco o que não é...


Pode não ser essa mulher o que te falta
Pode não ser esse calor o que faz mal
Pode não ser essa gravata o que sufoca
Ou essa falta de dinheiro que é fatal...


Vê como um fogo brando funde um ferro duro
Vê como o asfalto é teu jardim se você crê...

Que há sol nascente avermelhando o céu escuro
Chamando os homens pro seu tempo de viver...

E que as crianças cantem livres sobre os muros
E ensinem sonho ao que não pode amar sem dor,

E que o passado abra os presentes pro futuro
Que não dormiu e preparou...
o amanhecer, o amanhecer, o amanhecer...




Taiguara Chalar da Silva (Montevidéu, 9 de outubro de 1945São Paulo, 14 de fevereiro de 1996) foi um cantor e compositor brasileiro nascido no Uruguai durante uma temporada de espetáculos de seu pai, o bandoneonista e maestro Ubirajara Silva.
Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1949 e para São Paulo, posteriormente, em 1960. Largou a faculdade de Direito para se dedicar à música. Participou de vários festivais e programas da TV. Fez bastante sucesso nas décadas de 60 e 70. Autor de vários clássicos da MPB, como Hoje, Universo do teu corpo, Piano e viola, Amanda, Tributo a Jacob do Bandolim, Viagem, Berço de Marcela, Teu sonho não acabou, Geração 70 e "Que as Crianças Cantem Livres"; entre outros.
Considerado um dos símbolos da resistência à censura durante a ditadura militar brasileira, Taiguara foi um dos compositores mais censurados na historia da MPB, tendo cerca de 100 canções vetadas. Os problemas com a censura eventualmente levaram Taiguara a se auto-exilar na Inglaterra em meados de 1973. Em Londres, estudou no Guildhall School of Music and Drama e gravou o Let the Children Hear the Music, que nunca chegou ao mercado, tornando-se o primeiro disco estrangeiro de um brasileiro censurado no Brasil.
Em 1975, voltou ao Brasil e gravou o Imyra, Tayra, Ipy - Taiguara com Hermeto Paschoal, participação de músicos como Wagner Tiso, Toninho Horta, Nivaldo Ornelas, Jacques Morelenbaum, Novelli, Zé Eduardo Nazário, Ubirajara Silva e uma orquestra sinfônica de 80 músicos. O espetáculo de lançamento do disco foi cancelado e todas as cópias foram recolhidas pela ditadura militar em poucos dias. Em seguida, Taiguara partiu para um segundo auto-exílio que o levaria à África e à Europa por vários anos.
Quando finalmente voltou a cantar no Brasil, em meados dos anos 80, não obteve mais o grande sucesso de outros tempos, muito embora suas músicas de maior êxito tenham continuado a serem relembradas em flashbacks das rádios AM e FM.
Morreu em 1996 devido a um persistente câncer na bexiga.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Discurso do escritor Luiz Ruffato na abertura da Feira do Livro de Frankfurt, dia 8/10/13:




"O que significa ser escritor num país situado na periferia do mundo, um lugar onde o termo capitalismo selvagem definitivamente não é uma metáfora? Para mim, escrever é compromisso. Não há como renunciar ao fato de habitar os limiares do século 21, de escrever em português, de viver em um território chamado Brasil. Fala-se em globalização, mas as fronteiras caíram para as mercadorias, não para o trânsito das pessoas. Proclamar nossa singularidade é uma forma de resistir à tentativa autoritária de aplainar as diferenças.
O maior dilema do ser humano em todos os tempos tem sido exatamente esse, o de lidar com a dicotomia eu-outro. Porque, embora a afirmação de nossa subjetividade se verifique através do reconhecimento do outro --é a alteridade que nos confere o sentido de existir--, o outro é também aquele que pode nos aniquilar... E se a Humanidade se edifica neste movimento pendular entre agregação e dispersão, a história do Brasil vem sendo alicerçada quase que exclusivamente na negação explícita do outro, por meio da violência e da indiferença.
Nascemos sob a égide do genocídio. Dos quatro milhões de índios que existiam em 1500, restam hoje cerca de 900 mil, parte deles vivendo em condições miseráveis em assentamentos de beira de estrada ou até mesmo em favelas nas grandes cidades. Avoca-se sempre, como signo da tolerância nacional, a chamada democracia racial brasileira, mito corrente de que não teria havido dizimação, mas assimilação dos autóctones. Esse eufemismo, no entanto, serve apenas para acobertar um fato indiscutível: se nossa população é mestiça, deve-se ao cruzamento de homens europeus com mulheres indígenas ou africanas - ou seja, a assimilação se deu através do estupro das nativas e negras pelos colonizadores brancos.
Até meados do século 19, cinco milhões de africanos negros foram aprisionados e levados à força para o Brasil. Quando, em 1888, foi abolida a escravatura, não houve qualquer esforço no sentido de possibilitar condições dignas aos ex-cativos. Assim, até hoje, 125 anos depois, a grande maioria dos afrodescendentes continua confinada à base da pirâmide social: raramente são vistos entre médicos, dentistas, advogados, engenheiros, executivos, jornalistas, artistas plásticos, cineastas, escritores.
Invisível, acuada por baixos salários e destituída das prerrogativas primárias da cidadania --moradia, transporte, lazer, educação e saúde de qualidade--, a maior parte dos brasileiros sempre foi peça descartável na engrenagem que movimenta a economia: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país. Historicamente habituados a termos apenas deveres, nunca direitos, sucumbimos numa estranha sensação de não pertencimento: no Brasil, o que é de todos não é de ninguém...
Convivendo com uma terrível sensação de impunidade, já que a cadeia só funciona para quem não tem dinheiro para pagar bons advogados, a intolerância emerge. Aquele que, no desamparo de uma vida à margem, não tem o estatuto de ser humano reconhecido pela sociedade, reage com relação ao outro recusando-lhe também esse estatuto. Como não enxergamos o outro, o outro não nos vê. E assim acumulamos nossos ódios --o semelhante torna-se o inimigo.
A taxa de homicídios no Brasil chega a 20 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes, o que equivale a 37 mil pessoas mortas por ano, número três vezes maior que a média mundial. E quem mais está exposto à violência não são os ricos que se enclausuram atrás dos muros altos de condomínios fechados, protegidos por cercas elétricas, segurança privada e vigilância eletrônica, mas os pobres confinados em favelas e bairros de periferia, à mercê de narcotraficantes e policiais corruptos.
Machistas, ocupamos o vergonhoso sétimo lugar entre os países com maior número de vítimas de violência doméstica, com um saldo, na última década, de 45 mil mulheres assassinadas. Covardes, em 2012 acumulamos mais de 120 mil denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes. E é sabido que, tanto em relação às mulheres quanto às crianças e adolescentes, esses números são sempre subestimados.
Hipócritas, os casos de intolerância em relação à orientação sexual revelam, exemplarmente, a nossa natureza. O local onde se realiza a mais importante parada gay do mundo, que chega a reunir mais de três milhões de participantes, a Avenida Paulista, em São Paulo, é o mesmo que concentra o maior número de ataques homofóbicos da cidade.
E aqui tocamos num ponto nevrálgico: não é coincidência que a população carcerária brasileira, cerca de 550 mil pessoas, seja formada primordialmente por jovens entre 18 e 34 anos, pobres, negros e com baixa instrução.
O sistema de ensino vem sendo ao longo da história um dos mecanismos mais eficazes de manutenção do abismo entre ricos e pobres. Ocupamos os últimos lugares no ranking que avalia o desempenho escolar no mundo: cerca de 9% da população permanece analfabeta e 20% são classificados como analfabetos funcionais --ou seja, um em cada três brasileiros adultos não tem capacidade de ler e interpretar os textos mais simples.
A perpetuação da ignorância como instrumento de dominação, marca registrada da elite que permaneceu no poder até muito recentemente, pode ser mensurada. O mercado editorial brasileiro movimenta anualmente em torno de 2,2 bilhões de dólares, sendo que 35% deste total representam compras pelo governo federal, destinadas a alimentar bibliotecas públicas e escolares. No entanto, continuamos lendo pouco, em média menos de quatro títulos por ano, e no país inteiro há somente uma livraria para cada 63 mil habitantes, ainda assim concentradas nas capitais e grandes cidades do interior.
Mas, temos avançado.
A maior vitória da minha geração foi o restabelecimento da democracia - são 28 anos ininterruptos, pouco, é verdade, mas trata-se do período mais extenso de vigência do estado de direito em toda a história do Brasil. Com a estabilidade política e econômica, vimos acumulando conquistas sociais desde o fim da ditadura militar, sendo a mais significativa, sem dúvida alguma, a expressiva diminuição da miséria: um número impressionante de 42 milhões de pessoas ascenderam socialmente na última década. Inegável, ainda, a importância da implementação de mecanismos de transferência de renda, como as bolsas-família, ou de inclusão, como as cotas raciais para ingresso nas universidades públicas.
Infelizmente, no entanto, apesar de todos os esforços, é imenso o peso do nosso legado de 500 anos de desmandos. Continuamos a ser um país onde moradia, educação, saúde, cultura e lazer não são direitos de todos, mas privilégios de alguns. Em que a faculdade de ir e vir, a qualquer tempo e a qualquer hora, não pode ser exercida, porque faltam condições de segurança pública. Em que mesmo a necessidade de trabalhar, em troca de um salário mínimo equivalente a cerca de 300 dólares mensais, esbarra em dificuldades elementares como a falta de transporte adequado. Em que o respeito ao meio-ambiente inexiste. Em que nos acostumamos todos a burlar as leis.
Nós somos um país paradoxal.
Ora o Brasil surge como uma região exótica, de praias paradisíacas, florestas edênicas, carnaval, capoeira e futebol; ora como um lugar execrável, de violência urbana, exploração da prostituição infantil, desrespeito aos direitos humanos e desdém pela natureza. Ora festejado como um dos países mais bem preparados para ocupar o lugar de protagonista no mundo --amplos recursos naturais, agricultura, pecuária e indústria diversificadas, enorme potencial de crescimento de produção e consumo; ora destinado a um eterno papel acessório, de fornecedor de matéria-prima e produtos fabricados com mão de obra barata, por falta de competência para gerir a própria riqueza.
Agora, somos a sétima economia do planeta. E permanecemos em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos...
Volto, então, à pergunta inicial: o que significa habitar essa região situada na periferia do mundo, escrever em português para leitores quase inexistentes, lutar, enfim, todos os dias, para construir, em meio a adversidades, um sentido para a vida?
Eu acredito, talvez até ingenuamente, no papel transformador da literatura. Filho de uma lavadeira analfabeta e um pipoqueiro semianalfabeto, eu mesmo pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro-mecânico, gerente de lanchonete, tive meu destino modificado pelo contato, embora fortuito, com os livros. E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de uma pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, então a literatura pode mudar a sociedade. Em nossos tempos, de exacerbado apego ao narcisismo e extremado culto ao individualismo, aquele que nos é estranho, e que por isso deveria nos despertar o fascínio pelo reconhecimento mútuo, mais que nunca tem sido visto como o que nos ameaça. Voltamos as costas ao outro --seja ele o imigrante, o pobre, o negro, o indígena, a mulher, o homossexual-- como tentativa de nos preservar, esquecendo que assim implodimos a nossa própria condição de existir. Sucumbimos à solidão e ao egoísmo e nos negamos a nós mesmos. Para me contrapor a isso escrevo: quero afetar o leitor, modificá-lo, para transformar o mundo. Trata-se de uma utopia, eu sei, mas me alimento de utopias. Porque penso que o destino último de todo ser humano deveria ser unicamente esse, o de alcançar a felicidade na Terra. Aqui e agora.


 *Luiz Ruffato é um dos escritores mais importantes da atualidade. Vencedor de vários prêmios, o mineiro  nascido em Cataguases, MG,  em 1961, é filho de um pipoqueiro e de uma lavadeira de roupas. Formou-se em tornearia-mecânica e trabalhou como operário da indústria têxtil, pipoqueiro e atendente de armarinho durante a Juventude . Graduou-se em Comunicação pela  UFJF.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Avassalador





Avassalador,
Foi te encontrar...
Avassalador,
 Me faltou ar...


Um olhar bastou
 E um olhar te dei 
 Ninguém mais notou
Foi incrível, eu sei

Avassalador
 Só mais tarde, eu vi,
Que eu me apaixonei...


Avassalador
Tomou-me o ser,
 Avassalador
Não hei, não fui, não sou,

]
 E sem mais dizer,
 Levou o não e o sim
Só fui perceber
Quando dei por mim


Avassalador
Onde houve um eu
Hoje há só você...