quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Victor Hugo: Post-scriptum de minha vida -1901


Victor Hugo: Post-scriptum de minha vida (1901)

Do livro Post-scriptum de ma vie, publicado postumamente, em 1901. O livro apresenta seis Tas de Pierres (Montes de pedras), pensamentos esparsos desse imenso pensador, espalhados por dois capítulos: O Espírito e A Alma. O Espírito é subdividido em A Utilidade do Belo, O Gosto, Os Grandes Homens e Promontorium Somnii.

Abaixo um trecho de 'O Gênio', que faz parte de Os Grandes Homens.

 


O Gênio

Você está numa casa de campo, chove, você pega um livro, o primeiro que encontra e se põe a ler esse livro como leria o diário oficial ou a cópia de uma folha de avisos, assim, pensando em outra coisa, distraído, bocejando. Pouco a pouco você se surpreende atento, seu pensamento já não lhe pertence, sua distração se dissipa, uma espécie de absorção, quase uma sujeição, a substitui, e você já não é dono de si mesmo, já não é capaz de decidir 'vou me levantar e fazer outra coisa'.

Um livro é alguém. Preste atenção.

Um livro é uma engrenagem. Tome cuidado com essas linhas negras num papel branco; são forças que se atraem, se completam, se compõem, se decompõem, penetram umas nas outras, giram em torno de si mesmas, se desenrolam, se embolam, se acasalam, trabalham. Uma linha morde, outra aperta e comprime, outra domina, e outra seduz. As ideias são como o trilho de uma cremalheira.

Você vai se sentir puxado pelo livro. E ele não o largará enquanto não estive seguro de ter mexido com seu espírito. Há livros do qual os leitores saem inteiramente transformados. Homero e a Bíblia operam esse tipo de milagre. Os espíritos mais altivos, os mais finos, os mais delicados, assim como os mais simples e os mais elevados, sofrem esse encantamento.

Shakespeare ficou embevecido com Belleforest. La Fontaine ia a toda parte perguntando: você leu Baruch? Corneille, maior que Lucan, ficou fascinado com seus poemas. Dante deslumbrou-se com Virgílio, menor que ele.

Nem todos os grandes livros são fatalmente irresistíveis. Podemos não nos deixar moldar por eles, podemos ler o Alcorão sem nos tornar muçulmanos, ler os Vedas sem passar a viver como um faquir, ler Zadig sem seguir Voltaire, mas não podemos deixar de admirá-los. Aí está sua força. 'Eu te saúdo ou eu te combato, porque tu és rei', dizia um grego a Xerxes.

(...) O que digo é tão verdadeiro que é impossível admirar uma obra-prima sem ficar ao mesmo tempo satisfeito consigo mesmo. É uma boa sensação ter compreendido. A compreensão aproxima. Há na admiração algo que dignifica e fortalece a inteligência. O entusiasmo é como um cordial. 

Abrir um belo livro, mergulhar nele, se perder em suas páginas, se envolver, que festa! Temos todas as surpresas do inesperado ali, quase que ao vivo. As revelações do ideal são golpes que se sucedem.

Mas o que, afinal, é o belo?

Não o defina, não esmiuce, não lute contra, não crie dificuldades, não seja seu próprio inimigo à força de tantas hesitações, inquietações, enrijecimentos. Há alguma coisa mais tola que um pedante? Fique diante de si mesmo e admita: Deus é inesgotável, a arte é ilimitada, a poesia não cabe em nenhuma escola literária assim como o mar não cabe em nenhum vaso, ânfora ou jarra; seja simplesmente um homem sincero e tenha a grandeza de aceitar que se encantou, deixe-se prender pelo poeta, não conteste o efeito do que sentiu, aceite, sinta, compreenda, veja, viva, cresça!

O brilho da grandeza, aquela 'alguma' coisa que resplandece e que é sublime, eis o gênio. Algumas asas que se batem ao longe. Você está com o livro nas mãos, sob seus olhos, de repente parece que uma página se rasga de alto a baixo, como se fosse o véu do tempo. Por esse buraco, o infinito é visto. Uma estrofe é suficiente, um verso é suficiente, uma palavra é suficiente. O cume foi alcançado. Tudo foi dito.

Aquiles insultando Agamenon, Prometeu acorrentado, os Sete Chefes diante de Tebas, Hamlet no cemitério, Jó em seu martírio. Agora feche o livro. Pense. Você viu as estrelas.

 

Victor-Marie Hugo (Besançon, 26 de fevereiro de 1802 — Paris, 22 de maio de 1885) foi um romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista pelos direitos humanos francês de grande atuação política em seu país. É autor de Les Misérables e de Notre-Dame de Paris, entre diversas outras obras. Está enterrado no Panthéon, em Paris.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Pintando com areia - Kseniya Simonova

 
Vejam o que esta ucraniana faz com um pouco de areia em uma tela.
 É espetacular... E a rapidez, então...
 
 
  Sand Animation (Ukraine Got Talent)
 
Kseniya Simonova
 
 

(tela cheia, para se ver melhor)

Vocês vão ver que ela conta a historia da ocupação da Ucrânia pelos soviéticos na segunda guerra mundial, como era antes, durante o horror e ao final da guerra, e o reencontro da família.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Quando o amor acaba ( tema de Mogliamante)

 
 
Escrevi uma letra para esta belíssima musica de Armando Trovajoli,
tema de Mogliamante, filme com Marcello Mastroiani.
 

Espero que gostem. da letra e da performance



do jovem Tenor Neylson Crepalde
 



Abaixo a letra

Quando um amor acaba

Quando o amor,
Chega pra alguém
Não vê o depois
E o amor maior
Se tem
Se vem pros dois
Hoje eu sinto,
O nosso amor
Chegar ao fim...
Foi assim...
No olhar
O amor, se trai,
Se vê nos dois,
Sempre, quando
Um olhar se esvai,
O amor se foi,
Foi e deixa imensa dor,
Para um dos dois
Só pra um...
Por que se acaba um amor,
Não sei, ninguém sabe dizer
Por que_o fim do amor chegou
Nenhum_de nós o amor culpou
Pode parecer atroz
Dizer que amei por dois, por nós
Que_este um sente mais dor...
Eu preciso é aceitar ou vou morrer de amor
Eu preciso acreditar, que outro alguém virá,
Ou então enlouquecer, ao ver que a dor, ao fim
Tomou seu lugar
Em mim...

Volta, meu amor ( Love Affair)

 
Fiz letra para este belíssimo e triste solo de piano, composto pelo magistral Maestro Ennio Morricone, para o filme "Love Affair" de 1994, dirigido por Glenn Gordon, com Warren Beatty e Annette Bening. O filme é maravilhoso. Assistam.

 
Espero que gostem da letra e da performance
 
 
 
 do jovem Tenor Neylson Crepalde

 

Abaixo, a letra



Volta, meu amor



Vem, meu amor
De onde for
Volta pra mim
Vem perdoar
Quem eu fui
E não sou mais
Se eu pudesse Te  ter ao lado
Ser namorado, o amante, o amado, ainda...
Trago em mim
O amor
Vem por favor
Não... faz as-...
Sim...eu te amei
Como alguém
Jamais amou
Vem, sem temor
Sei a dor
Que eu te causei
Se eu pudesse Te  ter ao lado
Ser namorado, o amante, o amado. ainda
Trago em mim um amor
Vem por favor
Não... faz as-...
Sim, eu te amei
Como alguém
Jamais amou
Vem, sem temor
Sei a dor
Que eu te causei
Vem, vem, vem, vem...


domingo, 3 de fevereiro de 2013

Ponta de Mar...

Chega de tragédias.
E nada melhor do que uma poesia, saída do forno, agora, há pouco, pra oxigenar nossa existência, as vezes, tão amarga...

Em homenagem a um brasileiro de verdade - não estes que hoje enojam nossa terra - chamado Antônio Gonçalves Dias, ou "Gonçalves Dias" como o conhecemos, no ano 190º de seu nascimento, autor de um dos mais conhecidos sonetos do nosso Brasil, chamado "Canção do exílio".

Relembro:

 Canção do exílio

"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."


Antônio Gonçalves Dias nasceu em 10 de agosto de 1823, no sítio Boa Vista, em terras de Jatobá (a 14 léguas de Caxias). Morreu aos 41 anos em um naufrágio do navio Ville Bologna, próximo à região do baixo de Atins, na baía de Cumã, município de Guimarães. Advogado de formação, é mais conhecido como poeta e etnógrafo,


Em sua homenagem fiz a, modesta mas honesta, poesia abaixo.
(Que Gonçalves Dias se abstenha de comentar, nem se revolva em sua tumba)


PONTA DE MAR

Minha terra tem um canto
Um rasgo, um corte, um avanço,
Uma ponta de mar,
 
Onde a água é tão limpa,
E tão pura,
Que faz quase escura
A água mais limpa que há...
 
A Espinhaço, altiva e brejeira,
Esticou-se e encontrou Mantiqueira,
Que a trancos, debaixo da terra,
Emendou-se a outra serra
Se acabando em Serra do Mar
 
E foi neste encontro
Marcado entre Serras...
Que abriu-se, perfeito, o espaço
Na forma  de abraço,
Onde o mar põe-se calmo e se aninha,
Ao sopé que se alinha
Às costas, beiradas das terras...
 
E à noite, um manto de estrelas
Vazado por lanças, forjadas em prata,
Pontudas, profusas, caídas do mar estelar,
Disputa brilho com a Lua,
Que volta e mais volta faz pose, se atreve, se acua,
Se faz Yemajá, lá do céu ninfa nua,
Aumenta seu brilho, e acende o lugar...
 
E o sabiá que se ouviu na palmeira
Que Gonçalves cantou, trás-as-Beiras,
Viajou, cá se pôs a buscar mais parceiras,
Nesta linda Ponta de Mar,
 
Pois sabe o sábio sabiá
Que onde a água é pura e cristalina,
É lá que vai estar a sabiá-menina
Pra beber água e quiçá, namorar...
 
Como se água também fosse a tinta
Que Deus preocupado, usa e nos pinta
Um quadro, um capricho, pra mãe-natureza se
Expor, ser memória, pra gente guardar...
 
Pra que um dia, bem longe, alhures se achar,
Peça a Deus, pois ouvindo Ele está:
“Não permita, Senhor, que da vida eu me vá
Sem que volte e desfrute os primores de lá:
 
Ver palmeiras, ver se encanta um sabiá,
Ver a terra se vestir de lindas flores,
Versos, Lua, Sol, o Céu, a emprestar cores,
Ver se as Serras inda abraçam aquele Mar...”

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Outra tragédia anunciada...


Mais uma tragédia aconteceu em Brasília. Mais previsível que a primeira, mas os patrocinadores são os mesmos.
Em desprezo completo a eles, posto aqui o Novo Hino Nacional, que só deve ser novamente cantado no original quando a decência voltar ao País.



"VIERAM DE BRASILIA, IMÁGENS ÁCIDAS
DE UM CANCRO ESTÓICO, OBRADO EXCRUCIANTE,
E O SOL DA LIBERDADE, EM RAIOS FÚLGIDOS,
SE FOI DO CÉU DA PÁTRIA, INOPERANTE.

SE O PENHOR, FOI SER COVARDE
OS QUADRILHEIROS HÃO DE ARDER EM CHAMA FORTE,
E ESTE AFRONTO_A MORALIDADE,
DESAFIA E FINDA A CRENÇA, É PÁTRIA OU MORTE!

Ó PÁTRIA USADA,
SEQUESTRADA,
SALVEM! SALVEM!

BRASIL, UM MONSTRO IMENSO O DEIXA LÍVIDO,
PAVOR, DESESPERANÇA, A ARANHA TECE,
E UM PRESIDENTE-RÉU, RISONHO E CÍNICO,
À MARGEM DA DECÊNCIA, SE ENRIQUECE.

DESPLANTE, SE ELEGER PELA CERTEZA
QUE A CORDA NUNCA ALCANÇA O SEU PESCOÇO,
SÓ PENSA EM AUMENTAR SUA RIQUEZA

TERRA ARRESTADA,
ENTRE OUTRAS MIL,
ÉS TU, BRASIL,
Ó PÁTRIA USADA!
PRUNS FILHOS DESTE SOLO ÉS MÃE SERVIL,
PÁTRIA ATADA,
BRASIL!"