quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Alma acuada...

Alma acuada



Lá fora
A uivante ventania
Levava pra longe
As dolentes folhas
Caídas naquela tarde cinzenta e fria,
Escondida dos raios de sol,
Desviados, encobertos...

Tarde escura...

Ímpetos de fazer loucuras, me cercam...
Tu, olhos fixos, medrosos,
Mãos atrevidas prospectam,
Tateiam, buscam juras, promessas.
Procuras o passado em meu corpo, 
Inerte, perplexo, apático,
Ou o que dele possa ter sobrado,
Após um final cruel, enfático...

Fraquejo...

Jurei deixar-te, para sempre
E agora me vejo mergulhar em teu colo,
De novo, lamber teu suor,
Cheirar o teu cheiro,
Buscar teu amor, por inteiro...

Esmolo...

Me dou sem pensar,
Me anseio, me intumo, me enteso,
Exposto em vivo-ardor...

Me esfolo..

Como mórbida sinfonia,
Tudo soa...
Quem és tu,
Quem sou eu, 
O que faço em meu vôo solo?

Me calo...

Meu rosto traz teus cabelos, revoltos....
Tua voz, em meus ouvidos, ressoa.
Pouco a pouco, ensurdeço
Envolto em doces afagos...

Desfaleço...

Me afasto, etéreo, me solto...
Me escuto dizendo sem nexo:
Minha culpa, perdoa, eu não presto...
Como se toda minh’alma, em arresto,
Aflorasse aos lábios cortados, intensos,
Pálidos e apensos...
E sábios...

Ouso trocar
O olhar manso dos prados,
Regado ao orvalho caído dos céus,
Pela ardência eflúvia de abismos,
Densos, saturados
De melodias de Iaras e Orfeus.

Falta chão, tudo some.
Tua boca em minha boca...
Louco.
Teus seios aconchegados, entesam,
Tuas mãos, mágicas, me elevam...
Sufôco !
Tuas coxas, trágicas, me encaixam.
Morro !

...uma lágrima à noite e...
Desperto, insone.
Rola gota de pura mágoa
Que traz o teu nome.

Ó flagelo! Ó açoite!
Ó insana dúvida!
Que se instala e consome...
E como a ira, 
É pérfida, purga, eriça,
Apronta o bote...

Então tu, a dormir... choraste !

E havia em teu lamento
A tristeza tíbia do vento,
Que varre as folhas em minhas tardes.

Ó Melancolia eterna...
Tu que habita e hiberna,
Se esconde da luz que brilha
Deste sol
Que insiste, e nasce,
Queima o peito
Inflado por ações soberbas...

Covarde ! Covarde!
Assaltam à mente, as falácias...

Escurece...

A tarde,
Se faz chama,
Que inflama, arde
Derrete gestos, impostos, aceitos,
Impróprios conceitos, confesso...
Mas...
Faz brotar em mim,
Um grito, um clamor, afinal
Um sopro de vida,
Resumido a tênue poesia :

Ai de ti
Ó alma acuada,
Não percebes quão maior é
A ânsia de quem perdeu um amor ?.”