sexta-feira, 30 de março de 2012

Para Isabela e (lamentavelmente) muitas outras crianças...

Manchete estampa de horror nossa tela :
Por que(m) matou-se Isabela?

Esvai-se, é vida...
Fatídico, é acesso...

Será tino moldado-insano,
Curtido em reverso, faz ano,
Fazendo mente entorpecida
Exibir seu perverso, seu profano?

Qual feroz animal
Investiria com fúria
Sobre a cria,
Despejaria ira
Forjaria dor
Esmagaria o amor,
Poria atroz final
Na vida que criara um dia?

Quem perpetuaria tal ato
Perpassando a armadura da tela,
Atirando sem rumo ao espaço
O amor paterno, o terno abraço,
Pra também deixar em pedaços
O laço sagrado do sangue ?

Somente ela, a besta,
Que nasce, invade, e o ser apodrece
Comete, então, o maior dano:
Interrompe a sequência da espécie...
Mata senso, mata a alma, ensandesce e
Mata o Criador no humano...


29/03/2008 29/03/2012

quinta-feira, 29 de março de 2012

A morte da águia, poesia de de Luís Guimarães

A morte da águia


A bordo vinha uma águia. Era um presente
Que um potentado, — um certo rei do Oriente,
Mandava a outro: — um mimo soberano.
Era uma águia real. Entre a sombria
Grade da jaula o seu olhar luzia,
Profundo e triste como o olhar humano.

Aos balanços do barco ela curvava
Ao níveo colo a fronte que cismava…
E enquanto as ondas túrbidas gemiam,
Ao som do vento – em fúnebres lamentos
Ela pensava nos longínquos ventos
Que do Himalaia os píncaros varriam.

Fora uma infame e traiçoeira bala,
Que, do régio fuzil negra vassala,
Invisível – uma asa lhe partira:
Cheia de luz, tranqüila, majestosa,
Dobrando a fronde branca e poderosa,
Aos pés de um rei a águia real caíra.

Os bonzos vis, proféticos doutores,
Sondando-lhe a ferida e as cruas dores,
Que um venenoso bálsamo tentava
Apaziguar em vão, — diziam rindo:
“Não há no mundo exemplar mais lindo:
Vale um império!” – E a águia agonizava.

Um dia, enfim, o animal valente
Resistindo aos martírios, — largamente
Respirou a amplidão. A asa possante
Abrir tentou de novo. Aberta estava
A jaula colossal que o esperava:
Forçoso era partir. Desde este instante,

A águia sombria e muda e pensativa,
Solene mártir, vítima cativa,
Terror dos vis e símbolo dos bravos,
Pediu a morte a Deus, — pediu-a ansiosa
Longe, porém, da corte vergonhosa
Desse covarde e baixo rei de escravos.

Pediu a morte a Deus, o cataclismo,
As convulsões elétricas do abismo,
As batalhas finais! Morrer num grito
Vibrante, imenso, heróico, soberano,
E fremente rolar no azul do Oceano,
Como um titã caído do infinito.

Morrer livre, cercada de vitórias,
Com suas asas – pavilhão de glórias –
Inundadas da luz que o Sol espalha:
Ter o fundo do mar por catacumba,
As orações do vento que retumba,
E as cambraias da espuma por mortalha.

Entanto, melancólica, tristonha,
Como um gigante mórbido que sonha,
Fitava, às vezes, o revolto oceano,
Com esse olhar nublado e delirante,
Com que saudava a César triunfante
O moribundo gladiador romano.

O comandante – urso do mar bondoso —
Disse um dia ao escravo rancoroso,
Ao carcereiro estúpido e inclemente:
“Leve-a ao convés. Verá que esse desmaio
Basta para apagá-lo um brando raio
Do largo Sol no rúbido oriente.”

Subiu então a jaula ao tombadilho:
Do nato dia ao purpurino brilho
Salpicava de luz o céu nevado…
E a águia elevando a pálpebra dormente
Abriu as asas ao clarão nascente
Como as hastes de leque iluminado.

O mar gemia, lôbrego e espumante,
Açoitando o navio; — além – distante,
Nas vaporosas bordas do horizonte,
As matutinas névoas que ondulavam,
Em suas várias curvas figuravam
Os largos flancos triunfais de um monte.

“Abre-lhe a porta da prisão,” ( ridente
O comandante disse ) “Esta corrente
Para conter-lhe o vôo é mais que forte!
Voar! pobre infeliz! causa piedade!
Dê-lhe um momento de ar e liberdade!
Único meio de a salvar da morte.”

Quando a porta se abriu, — como uma tromba,
Como o invencível furacão que arromba
Da tempestade as negras barricadas,
A águia lançou por terra o escravo pasmo,
E desprendendo um grito de sarcasmo,
Moveu as longas asas espalmadas.

Pairou sobre o navio — imensa e bela –
Como uma branca, uma isolada vela
A demandar um livre e novo mundo;
Crescia o Sol nas nuvens refulgentes,
E como um turbilhão de águias frementes,
Zunia o vento na amplidão, – profundo.

Ela lutou, ansiosa! Atra agonia
Sufocava-a. O escravo lhe estendia
Os miseráveis e covardes braços;
Nu o oceano ao longe cintilava
E a rainha do ar, em vão, buscava
Onde pousar os grandes membros lassos.
 

-Calma, disse o rei de escravos, placidamente,
Ela não tem pra onde ir,
Há que aqui pousar...Um tempo, somente...
Sobre o barco, pairou a linda, — e alçando, e
Alçando mais os vôos, e abrasando
Na luz do Sol a fronte alvinitente,
 

Ébria de espaço, ébria da imensidade,,
Como um astro que risca o céu do mundo,
Sob os olhares de seus carrascos, atônitos,
Deixou a vida enjaulada, a sordidez platônica, e
E foi de encontro à prometida eternidade,
Afundando-se nas ondas bravias, 

Como se a morte em liberdade fosse um presente!

Quem foi :
Luís Caetano Pereira Guimarães Júnior (RJ 1847 – Lisboa 1898), advogado, jornalista, ministro, diplomata, poeta, romancista, teatrólogo. Estudou no Colégio Calógeras em Petrópolis e cursou as faculdades de Direito de São Paulo e do Recife. Colaborador dos periódicos A reforma, A república, O correio paulistano, Imprensa Acadêmica de São Paulo, Gazeta de Notícias. Membro da Academia Brasileira de Letras, membro da Academia de Belas Artes do Chile, membro da Academia do Quiriti em Roma, membro da Arcádia Romana, membro da Sociedade de Geografia Italiana, oficial da Ordem da Rosa, oficial da Ordem de Cristo e da Ordem de São Tiago, cavaleiro da Ordem Romana do Sepulcro e da Ordem de São Gregório Magno.

Obra:

A Alma do outro mundo, 1913
A Carlos Gomes, 1870
A entrada no céu, 1882
A família Agulha, 1870
A morte, 1882
André Vidal, séc. XIX
As Jóias indiscretas, séc. XIX
As Quedas fatais, séc. XIX
Ave Estela, 1865
Contos sem pretensão, 1872
Corimbos, 1866
Ernesto Couto, 1872
Filigranas, 1872
Lírica, 1880
Lírio Branco, 1862
Mater dolorosa, 1880
Monte Alverne, séc. XIX
Noturnos, 1872
O Caminho mais curto, séc. XIX
Os Amores que passam, séc. XIX
Pedro Américo, 1871
Um Pequeno demônio, séc. XIX
Uma Cena contemporânea, 1862
Valentina, séc. XIX

quarta-feira, 14 de março de 2012

Evocação nº 1 (1957) Frevo Composição: Nelson Ferreira




Me lembro como se fosse hoje...
Tinha uns 11 ou 12 anos. Era 1963/4.
Ia pra casa da minha avó Izaura, mãe de minha mãe, que morava no centro de BH, em um apartamento num prédio grande, com pilotis, playground, além da bicicleta que ela havia comprado para quando um de nós(neto ou neta) a visitasse, pudesse andar no enorme pátio do Pilotis.
A mim, o que mais encantava eram os discos de meus tios que ficavam na grande radiola - um movel que incorporava radio, toca discos, caixas de som e lugar para guardar discos. Escutava as Big Bands, muito Jazz, muito samba-canção, Nat King Cole, e minha favorita: o Frevo Evocação com o Coral Mocambo.
Passava horas deitado no grosso tapete da sala, viajando mundo afora.
Minha paixão pelos discos era tanta que quando vovó morreu meus tios me deram os discos.
Eu tinha o disco Evocação original até há pouco tempo quando por uma infelicidade, numa faxina/limpeza, caiu ao chão e se partiu.

Mas por sorte hoje temos YouTube e quem não conhece a musica, pode ter o prazer de escutar, copiando o link abaixo e colando no computador.
(Lembrem-se que a gravação é de 1957, feita em disco de 78 rotações.)

Espero que gostem.
Para os que conhecem e se lembram, sabem do que estou falando.
Abaixo a letra e o link.



Frevo Evocação nº 1
(1957)
Composição: Nelson Ferreira


Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon
Cadê teus blocos famosos
Bloco das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apôs-Fum
Dos carnavais saudosos
Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon
Cadê teus blocos famosos
Bloco das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apôs-Fum
Dos carnavais saudosos

Na alta madrugada
O coro entoava
Do bloco a marcha-regresso
E era o sucesso dos tempos ideais
Do velho Raul Moraes
Adeus adeus minha gente
Que já cantamos bastante
E Recife adormecia
Ficava a sonhar
Ao som da triste melodia



YouTube:

http://www.youtube.com/watch?v=7FNhDiqLErY

Parabens ao povo de Pernambuco por manter intacta esta arte que se sobrepõe aos sambas, sambodromos e desfiles de escolas, importados do eixo Rio/SP.
Nós aqui em Minas lutamos para manter uma cultura regional, mas é muito dificil. Nossa elite política dominante prefere Ipanema à Serra do Cipó, então...

domingo, 11 de março de 2012

HEMORRÓIDAS...ARDEM!!(pra car....lho!!!)

Vejam o que um amigo me mandou. O pai dele operou e escreveu!
Sem comentários ... esse texto foi feito pós-operação do traseiro dele !!!!

Deixei exatamente como ele mandou. Afinal são pequenas palavrinhas sem
maldade...

HEMORRÓIDAS

Ptolomeu em 150 d.C. falava que a terra era o centro do universo e que
tudo girava em torno dela, foram precisos cerca de 1400 anos para esta
teoria ser rebatida por Nicolau Copérnico provando para a humanidade
que o Sol sim era o centro.


Eu, simplesmente eu, descobri em apenas três dias, após 56 anos, que
ambos estavam redondamente enganados: o centro do universo é o cú.
Isso mesmo, o cú!

Operei das hemorróidas em caráter de urgência algumas semanas atrás.
No domingo à noitinha, o que achava que seria um singelo peidinho,
quase me virou do avesso.


É difícil, mas vamos ver se reverte, falou meu médico. Reverteu merda
nenhuma, era mais fácil o Lula aceitar que sabia do mensalão do que
aquela lazarenta bolinha (?) dar o toque de recolher.

Foram quase 2 horas de cirurgia e confesso não senti nadica de nada,
nem se me enrabaram durante minha letargia!


Dois dias de hospital, passei bem embora tenham tentado me afogar com
tanto soro que me aplicaram, foram litros e litros; recebi alta e fui
repousar em casa.

Passados os efeitos anestésicos e analgésicos, vem a primeira vez.
PUTA QUI PARIU!!! Parece que você ta cagando um croquete de figo da
Índia, casca de abacaxi, concha de ostra e arame farpado. É um
auto-flagelo.

Parece que você tá cagando uma briga de 5 gatos, sai arranhando tudo.

Caguei de pé, pois sentado achei que o cú ia junto...

Por uns três dias dói tanto que você não imagina uma coisinha tão
pequena e com um nome tão reduzido (cú) possa doer tanto. O tamanho da
dor não é proporcional ao tamanho do nome, neste caso, cú deveria
chamar dobrovosky, tegulcigalpa, nabucodonosor.


Passam pela cabeça soluções mágicas:
- Usar um ventilador! Só se for daqueles túneis aerodinâmicos.
- Gelo! Só se eu fosse escorregar pelado por uma encosta do Monte Everest.
- Esguichinho dagua! Tem que ser igual a da Praça da Matriz, névoa
seguida de jatos intercalados.


Descobri também que somos descendentes diretos do bugio, porque você
fica andando como macaco e com o cú vermelho; qualquer tosse,
movimento inesperado, virada mais brusca o cú dói, e como!

Para melhorar as idas à privada, recomenda-se dieta na base de fibras,
foi o que fiz: comi cinco vassouras piaçaba, um tapete de sisal e sete
metros de corda. Agora sei o sentido daquela frase: quem tem medo de
cagar não come!


Tudo valeu, agora já estou bem, cagando com manda o figurino, não
preciso pensar para peidar, o cú ficou afinado em ré menor, uma
beleza!

O foda é que usei Modess por 20 dias após a cirurgia e hoje to
sentindo falta dele!

Deus podia ter caprichado mais!