sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Um pouco de T.S.Eliot - nos 125 anos de seu nascimento



Sigamos então, tu e eu,
Enquanto o poente no céu se estende
Como um paciente anestesiado sobre a mesa;
Sigamos por certas ruas quase ermas,
Através dos sussurrantes refúgios
De noites indormidas em hotéis baratos,
Ao lado de botequins onde a serragem
Às conchas das ostras se entrelaça...


Ruas que se alongam como um tedioso argumento
Cujo insidioso intento
É atrair-te a uma angustiante questão . . .
Oh, não perguntes: "Qual?"
Sigamos a cumprir nossa lida,

Na fulva neblina que roça na vidraça suas espáduas,
Fumaça amarela que em teu rosto se esfrega
E cuja língua resvala nas esquinas do crepúsculo,
Pousa sobre as poças aninhadas na sarjeta,
Deixa cair sobre teu dorso a fuligem das chaminés,
Desliza furtiva no terraço, em repentino salto,

E alça vôo ao perceber que era uma tenra noite de outubro,
Enrodilha-se ao redor da casa e adormece.

Tempo há de haver
Para que ao longo das ruas flua a parda fumaça,
Roçando suas espáduas na mesma vidraça;
Tempo haverá...

Tempo haverá para moldar um rosto com que enfrentar
Os rostos que encontrares;
Tempo para matar e tempo para criar,
Tempo para todos os trabalhos e dias em que mãos
Sobre teu prato se erguem, mas depois se deixam cair;
Tempo para ti e tempo para mim,
E tempo ainda para uma centena de indecisões,
E uma centena de visões e revisões,
Antes do servir do chá com torradas...


O poeta, escritor e dramaturgo Thomas Stearns Eliot nasceu em St. Louis, Missouri, Estados Unidos, a 26 de setembro de 1888, e faleceu em Londres, com 76 anos de idade, a 4 de janeiro de 1965.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Ávido


Ávido


Se olhar pra trás, em minha vida,
Verá música em meu seguir...
Me fiz assim, como saída
Pra romper muros, resistir
Pus nas letras meus enganos,
Meus afetos, meus receios,
Melodias, gritos roucos,
Dancei choro e desesperos,
Pra tirar você de mim

Um dia ainda me lembro,
Quis você na primavera
Fiz-me leve, era setembro
Como leve em um soneto
Fiz-me breve, fui “prometo”,
Fiz de tudo pra dar certo
Foi sonho meu,
Ter seu afeto... 

Ser o sonho mais sonhado,
Ser o ente mais querido,
Tu serias a rainha e
Eu um servo apaixonado,
Minha vida o teu reinado,
E a vida, assim, fazer sentido... 

Aqui estou, me vejo agora, 
Livre, sem laço...
Quem me vê, não mais a vê,
Junto a meu braço,
Quer me quer,
Quer carinho e meu abraço...
Quem me ajuda a dar um passo
Pra mudar a minha sorte?
Vou querer qualquer suporte,
Pra deixar toda esta fossa,
E partir, buscar meu norte...
Ouvir a música do espaço,

Triar a tristeza do mundo, 
Ser verdade no que faço
E a beleza por prazer, por se ter paz
De saber que não te ter junto a meu braço
É somente um passo a mais,
Um passo a frente, 

Se ontem fiz-me qual demente
E fui ator em fato trágico
Hoje atuo como mágico,
Que a ilusão de si, desprende...
Importa mais curtir meu ócio,
E ser do amor o amante incerto,
Ao invés de ser oculto sócio, 
Num despertar ávido, inquieto,
Buscando alguém que me transcende...


domingo, 1 de setembro de 2013

O Sentido da Vida...


Em um reino distante, o Mestre-mor, filosofo e guardião da verdade, grande curandeiro, agonizava em seu leito de morte.
À volta do leito,  o Rei, a Rainha, príncipes e princesas, Duques, Condes e Barões esperavam seu último suspiro.
O Rei, o mais próximo à cabeceira, se acerca do Mestre e o questiona:
-Mestre, agora que estás próximo de cumprir teu destino, aqui entre nós, poderia nos deixar com a verdade suprema:

 qual o sentido da vida?

Todos olharam com semblante tenso e olhar fixo naquele rosto magro, cabelos ralos, que respirava com dificuldade.
O Mestre, vagarosamente, abriu os olhos e com ar sublime sussurrou:

"a vida é como uma xícara de chá."

Um "OH!!!" ecoou no grande cômodo.
Um serviçal que atendia ao mestre em suas necessidades últimas, saiu da sala e sussurrou para um outro serviçal e este para o outro, e assim, logo todo reino repetia, assentindo:

 a vida como é uma xícara de chá;

Até que, em um ponto longínquo, um cidadão, descompromissado e corajoso, ousou perguntar:

-Mas por que a vida é como uma xícara de chá?

Como veio a assertiva voltou a dúvida. Rápida. Até chegar aos ouvidos do Rei, que seus súditos questionavam a afirmação do Mestre.
Muito a contragosto, o Rei se aproximou novamente da cabeceira do leito e quase em tom de súplica,  temeroso, perguntou ao Mestre, que já se encontrava em seus estertores:

-Mas Mestre,  por que a vida é como uma xícara de chá?

O Mestre reuniu suas últimas forças, lentamente deu uma sacudidela de ombros e respondeu sussurrando:

-"Recebi esta resposta de meu Mestre, quando lhe fiz esta pergunta. Nunca parei para pensar sobre ela...e agora não terei mais tempo. Talvez a vida não seja como xícara de chá.

Mas quem se importa..."