segunda-feira, 18 de março de 2013

Diadorim, num era...


( Riobaldo, lamuria com um amigo, logo após o fato lastimoso)

 

“Diadorim morreu.

Foi guerra feia, guerra de jagunço doido. Eu tô aqui, vivo. Antes tivesse morrido, diacho!  Nós tavo guerreando em outras banda quando me acontaram. Me deu um tonto na hora. Branquiçô tudo... Me alembrei de tê preguntado pra Diadorim, nas véspa da noite: -Diadorim, tu num acha que todo mundo é doido? Que um só deixa de doido sê é em hora de muita corage, na hora dos coito ou das reza?

 E Diadorim me arrespondeu :

-A gente só deixa de ser doido é nas hora da morte...

Ô trem doido, sô... As lembrança me avem num desespero danado... Berrei até...

-Ai!  Jesus, Jesus, num faz isto, Jesus, num leva Diadorim, Jesus... Diadorim dos buritizar, levado de verde, Diadorim do ouro em frô..

Mai lá no chão duro, cuberto por um pedaço de pano véio, táva o corpo ensangüentado de Diadorim. O seu rosto... du´a beleza que permanecia, mais do que impossivelmente, memo com um pó da palidez, feito coisa de máscra... Os óios, temando em ficá aberto... É ficado assim pra gente num acreditar no que via.  A boca tá seca, os cabelo cheio de sangue apegado nes...

Digo aqui pra mim, assim:  -Num foi, num foi, num é, num fica sendo, Diadorim...

U´a muié levanta o pano e diz : - À Deus dada, a pobrezinha...

-O quê? Pobrezinha? Estarreci na hora...

 Era Diadorim e num era? Era Diadorim no corpo du´a muié.

 As dor não pôde maior do que a surpresa... Foi como um coice de arma atirada, ou coronhada de quina na cabeça... Ele era ela.

Levantei as mão pra me abenzer e... tapei foi um soluçá sem fim.

Enxuguei as lagrima maior. Curvei de dor...

Diadorim, num era home... Diadorim, era muié.

Muié como sór que quenta tudo ou como água que esfria os calor do sór.

Caí de jueio, baxei meus óios e recaí no mercê de sofrer.

Estendi as mão para tocar naquele corpo... e estremeci.

Retirei de vorta, rápido, quais que me incendiando.

Chorei por extenso... e  dei aviso enfezado:

-Enterra este separado dos outro, num aliso de vereda verde, adonde ninguém nunca ache, gritei bem arto...  A muié vortô, recobriu as parte.

Num impurso, bejei os oio, as face... e me acabei na boca. Carinhei os cabelo, cortado rente com tesoura de prata. Haveram de ser cumprido um dia, de dá pra baixo das cintura. Me alevantei pra despedir. Mai num soube o qui dizê e de que nome chamá. Então meus ouvido escutô minha voz dizendo baxinho, de tanta que era a dor:

- Meu amor, ocê num é doida mais; mas eu endoideci pra dois...”

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