sexta-feira, 8 de março de 2013

Poemas de Alexandre Anastasia - primeira troca


1- PRANTOS E DORES

 
Não me comovem os prantos caudalosos
Nem as grandes corredeiras
Que agridem as pedras mansas, quietas
Mas sofro com a dor que escorre
Lenta, de olhos cansados
Muda, de um peito agredido

Não me incomodam as dores gritadas
Os acordes majestosos
Que alimentam as carpideiras
E sim o sussurro da dor sem idade
Que não sabe se morre ou se nasce
E nos afoga em pesares passados

Não creio em paixões secretas
Falsamente arrebatadas
Que iludem a crença e a ingenuidade
Creio no amor desmedido e declarado
Misturado e confundido
Que será sempre desvendado
Por quem ama e é amado.


 2- COISAS QUE TENHO


 
Tenho um pássaro com o bico de ouro,
e seus ovos não matam minha fome.
Dele o canto não traz conforto,
nem seu vôo algum encanto.

Só meu é esse pássaro, meu tesouro,
que a tantos a inveja consome:
apenas um bico, dourado e torto,
ocultando a miséria com seu manto.

Tenho um cofre seguro, fechado e pesado,
guardando certos momentos,
sejam instantes de gozo,
ou horas de muito medo.

Só meu é esse cofre, sempre trancado,
escondendo meus sentimentos,
a esperar que eu, vitorioso,
encontre afinal o seu segredo.

Tenho um livro bonito, capa de couro,
e não me lembro do nome
do autor há muito morto,
do seu teor nem mesmo um tanto.

Só meu é esse livro, mau agouro,
angústia que nunca some:
sabendo que tenho um horto,
ouvindo da fome o pranto.

Tenho também um sonho obstinado,
sob os lençóis sonolentos,
em busca de algum repouso,
que sempre se vai muito cedo.

Só meu é esse sonho, indecifrado,
a provocar meus pensamentos:
mas se o decifro, vaidoso,
escravo serei de seu enredo...


3- LEMBRANÇAS

 Arrepios de lembrança me remetem,
como relâmpagos pequenos e tardios,
mudos pela distância
em noite de tempestade,
a tempos que não se repetem;
vazios terrenos e baldios,
obra sem relevância
esculpida pela metade.

Em espelhos que não refletem,
não pouse seus olhos serenos e macios,
deite-os em uma instância              
que nos tinha em outra idade;
os sonhos nossos merecem
acordares mais amenos e sadios,
nunca escravos da ânsia
nem reféns da felicidade.



4 - SILÊNCIO
 
Quando
ainda de corpos molhados
suados no silêncio da cama
nos beijarmos - lábios colados
calados em gratidão
ao abraço que nos completa
como ao vaidoso a fama
como a um velho sua neta;

Quando
fumando estendermos o gozo
silencioso trazendo a calma
de tanto desejo alcançado
cansado peito em repouso
pouso de saciada alma
e nos olharmos serenos
sem a tristeza do fado
do enfado ainda menos.

Então
da utopia visitantes
distantes dos lamentos
de tormentos cortantes
teremos nossos momentos
intensos se não constantes
instantes tão comoventes
que palavras não dão ciência
e assim gozaremos silentes
do silêncio a eloqüência .
 



 

 


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